Embaixo da terra, elas buscam ouro, níquel, zinco e outros minérios. Na superfície, as atividades incluem projetos sociais dirigidos às comunidades do entorno. “Praticamente toda empresa do setor de mineração tem ações de desenvolvimento do empreendedorismo local, geração de renda, capacitação profissional e educacional”, diz Julio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Iniciativas na área de cultura, esporte e saúde também são comuns. O objetivo é diversificar a economia para reduzir a dependência da mineração.
“Queremos que as regiões onde atuamos possam continuar a prosperar quando a mineração acabar, daqui a décadas”, diz Ivan Simões, diretor de assuntos corporativos e impacto sustentável da Anglo American no Brasil. A companhia apoia pequenos produtores locais, sobretudo de mel, horticultura, leite e queijo, nos municípios onde explora minério de ferro. Segundo a empresa, a renda dos cerca de 400 participantes cresceu em média 32%. As iniciativas integram o programa Crescer que, desde 2017, recebeu investimentos de cerca de R$ 20 milhões. As ações, em parceria com a ONG TechnoServe Brasil, incluem capacitação de jovens em empregabilidade e empreendedorismo. Segundo a companhia, os cerca de 1.800 jovens que já participaram das aulas tiveram aumento médio de 180% na renda mensal bruta.
A educação recebeu cerca de metade dos investimentos de R$ 30 milhões nos últimos dez anos do programa Integral, da Kinross, cm ações para promoção de atividades culturais, conscientização ambiental e geração de renda. Entre as iniciativas está a capacitação pedagógica de professores e o treinamento em gestão para diretores de oito escolas da região de Paracatu, em Minas Gerais, onde ficam as minas de ouro da companhia.
A companhia também capacita instituições locais para que concebam projetos para captação de recursos públicos e privados via, por exemplo, Lei Rouanet. A iniciativa começou, em 2014, motivada na dificuldade que a empresa tinha em encontrar parceiros locais com projetos sociais para investir, conta Ana Cunha, diretora de relações governamentais e responsabilidade social da Kinross.
“Em 2014, tínhamos uma única instituição apta a receber investimentos. Com o treinamento, hoje mais da metade dos nossos 22 projetos sociais de Paracatu são de entidades locais”, diz Cunha. Entre os beneficiados está a Associação de Guias de Turismo do noroeste de Minas (Guias Tur), responsável por projetos sociais para incentivar o turismo e atividades culturais na cidade e arredores.
“Até 2019 nunca havíamos pleiteado recursos da Lei Rouanet por não acreditar no processo de avaliação e aprovação de projetos como os nossos”, diz a produtora cultural e cofundadora da entidade, Christiane Pereira dos Santos. Ela conta que, com o treinamento e a ajuda de consultores contratados pela Kinross, a associação já recebeu R$ 2,6 milhões da empresa pela Rouanet e outros R$ 300 mil via Fundo Municipal do Idoso da cidade.
Os recursos são destinados a duas iniciativas. No projeto Cutucar, incorporado pelas 27 escolas da rede pública de ensino, a entidade promove atividades com historiadores em sala de aula e visitas a locais históricos da cidade. No segundo, o projeto Conviver Memórias, 200 idosos visitaram até agora locais como igrejas e quilombos com a intenção de trazer à tona lembranças do passado.
“Estamos conversando com outras empresas para captar mais R$ 900 mil, em projeto já aprovado pela Lei Rouanet, para continuar as iniciativas para terceira idade”, afirma.
“Com a capacitação, queremos incentivar entidades a terem autonomia para captar recursos de diferentes fontes”, afirma Ana Cunha, da Kinross. A iniciativa é também dirigida para associações de bairro, que buscam recursos de fundos municipais para atividades como reforço escolar e aulas de educação física e de inglês para a comunidade local.
As relações com a comunidade foram um dos 12 pilares da chamada Agenda ESG da Mineração, formalizada pelo Ibram com base na carta compromisso do setor mineral, lançada em 2020, na esteira dos desastres das barragens de Mariana e Brumadinho. Além de prever a atuação em projetos dirigidos a comunidades no entorno, o documento prevê a criação de metas, não obrigatórias e ainda não completamente finalizadas, em outras áreas, como segurança, gestão de barragens e estruturas de rejeitos, mitigação de desastres ambientais e uso da água e da energia.