As distribuidoras de energia definiram a estratégia para tentar atenuar o impacto da eventual perda de consumidores com a nova etapa de abertura do mercado livre, em janeiro de 2024. Além de investir na melhoria do atendimento aos que permanecerem no Ambiente de Contratação Regulada (ACR), elas concentram esforços para que os elegíveis à migração sigam como clientes das comercializadoras de energia ligadas aos conglomerados econômicos a que as distribuidoras pertencem.
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) estima que 106 mil unidades consumidoras remanescentes do grupo A (alta tensão) com demanda contratada inferior a 0,5 megawatt (MW) poderão ingressar no Ambiente de Comercialização Livre (ACL) - em 2026 e em 2028 será a vez dos consumidores do grupo B (baixa tensão). Projeta ainda que a representação do mercado livre no total de contratação de energia saltará dos atuais 37,5% para 59% em dois anos.
Defensoras da abertura do mercado, as distribuidoras encaram a migração para o ACL como um processo natural de evolução do setor de energia. Não por acaso muitas delas possuem uma unidade de negócio dedicada à comercialização de energia para suprir os potenciais consumidores atraídos pelas vantagens oferecidas pelo mercado livre; entre elas, a possibilidade de comprar energia oriunda de fontes renováveis e negociar valores diretamente com o fornecedor.
No caso do grupo Energisa, a comercializadora Reenergisa é tida como uma alternativa para retenção do cliente que enxerga no mercado livre o melhor ambiente para suprir suas necessidades. Nesse sentido, funciona como uma atividade complementar à distribuidora, afirma Roberta Godoi, vice-presidente de soluções energéticas da Reenergisa. “Não importa se o cliente está no mercado cativo ou no mercado livre. O fundamental é que esteja conosco”, enfatiza.
Para garantir a retenção dos clientes, o grupo Energisa tem procurado reforçar a reputação operacional de suas unidades de negócio. Além disso, oferece um portfólio diversificado de soluções que abrange desde a comercialização de energia no mercado livre até a oferta de serviços de eficiência energética. Outra iniciativa consiste na ampliação dos canais de venda.
O objetivo é tornar a companhia um player relevante no mercado livre. A julgar pelos números, a estratégia tem produzido resultados. Segundo Godoi, nos primeiros meses deste ano o volume de vendas de energia no mercado livre foi oito vezes maior que o registrado no mesmo período do ano passado. A expectativa é a de que esse desempenho se mantenha nos próximos meses. Na área de concessão, entre dez distribuidoras do grupo Energisa, há 8.000 consumidores que poderão migrar para o ACL no ano que vem.
As distribuidoras do grupo Equatorial Energia, que somam 13 milhões de unidades consumidoras na área de concessão de distribuição, dos quais em torno de 19 mil estarão aptas a ingressar no mercado livre a partir de janeiro do próximo ano, já fizeram a revisão dos processos necessários para adequação à abertura do mercado. Além do atendimento aos clientes, uma grande aposta das companhias é a eficiência da gestão de rede de distribuição.
O atendimento no segmento de baixa demanda de energia será através da comercializadora varejista Solenergias - uma exigência para as unidades que consomem menos de 0,5 MW. O grupo também está ampliando a sua capacidade instalada de geração de energia renovável: conta com mais de 40 usinas eólicas em operação, totalizando 1,2 gigawatt (GW) de potência, e está construindo duas usinas solares na Bahia e no Piauí, de 574 MW de capacidade instalada, previstas para serem ativadas no próximo ano.
De acordo com Rafael Brasiliense, diretor comercial da Echoenergia, uma unidade de geração de energia renovável do grupo Equatorial, para os novos clientes do mercado livre serão oferecidos cobertura dos custos de migração para o ACL e a perspectiva de uma economia de até 20% no preço da energia contratada em período de fornecimento de quatro a cinco anos.
Como o avanço do mercado livre abre caminho para a redefinição do papel das distribuidoras de energia no futuro, a tendência é que a atenção delas seja mais voltada à infraestrutura da rede, de forma que investimentos na manutenção, expansão e modernização da malha de distribuição. Investimentos serão fundamentais para desenhar novos serviços de valor agregado. “Estamos falando de mobilidade elétrica, gestão de pico de consumo, uso de baterias e outras tecnologias para se conectar ao sistema de distribuição”, exemplifica Brasiliense.