Economia, simplicidade no modo de contratação e a possibilidade comprar energia renovável são os principais impulsionadores do avanço mais acelerado do mercado livre de energia no país. É um mercado que cresce numa média de 2.000 a 3.000 novas unidades consumidoras por ano, aponta Marcelo Loureiro, integrante do conselho de administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que reúne empresas que atuam no setor de energia elétrica. Em 2023, até junho, pelo menos 3.300 novas unidades consumidoras haviam migrado para o mercado livre.
Segundo Roberto Wagner Pereira, gerente de energia, saneamento e telecomunicações da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o mercado livre já responde por aproximadamente 85% do consumo de energia elétrica no setor industrial. No ambiente aberto, estão concentradas as 10,5 mil maiores empresas do país. “A expectativa é que a abertura do mercado livre para todos os consumidores de alta tensão, a partir de janeiro de 2024, atraia mais de 25 mil indústrias que hoje estão no mercado cativo, o ambiente mais comum de comercialização e distribuição de energia”, diz Pereira.
Levantamento do Conselho de Infraestrutura (Coinfra) da Federação de Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) mostrou que o potencial é de cerca 9.000 consumidores, a maioria indústrias de pequeno e médio porte. Em Minas Gerais, cerca de 20 mil unidades consumidoras já manifestaram interesse em migrar para esse novo ambiente.
Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) indica que o número de consumidores ligados em alta tensão que podem migrar para o mercado livre é de 6.277, dos quais 1.843 da classe industrial. “Isso representa 30,5% do total de consumidores da indústria”, afirma Jurandir Picanço Jr., consultor de energia da Fiec. Para os empresários do setor industrial, os desafios para uma migração mais rápida se encontram no esclarecimento das regras e no funcionamento do mercado de energia aos potenciais entrantes.
A CNI realizou parcerias com as federações de indústrias, organizando seminários e fóruns de discussão para ajudar as empresas a entenderem o novo mercado. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), através de uma gerência de energia, oferece consultoria gratuita para empresas do Estado interessadas em aderir ao novo modelo. “A partir do dado do consumo da indústria a gerência faz uma análise das possibilidades, buscando melhores resultados para o consumidor”, conta Tânia Mara Santos, gerente de energia da Fiemg.
O menor custo de energia, sem dúvida, é a vantagem mais atraente. Em média, as indústrias que estão no mercado livre têm tarifas entre 15% a 20% menores do que no mercado cativo, sustenta a CNI. A Mill Indústrias, fabricante de máquinas e lâminas de serra para a indústria madeireira, sediada em Lages (SC), é um exemplo. A empresa se desligou, em novembro do ano passado, das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), que oferecia energia para um consumo mensal de 500 quilowatt (kW), e assinou contrato com a Engie, motivada essencialmente pela possibilidade de custos menores, diz Jorge Colla, gerente industrial da companhia. “Vamos ter uma economia de 20% a 25%, sem contar em eventuais reduções no período de bandeira vermelha.”
A CPFL Soluções, que realiza operações de compra e venda de energia, sediada em Campinas (SP), se mobiliza para apoiar os clientes na migração. “Vários clientes fizeram a migração conosco para ganhar mais eficiência, segurança energética e sustentabilidade, pois ingressar no mercado livre também cria a possibilidade de comprar energia de fonte limpa renovável”, diz Ricardo Motoyama, vice-presidente de comercialização de energia da CPFL Soluções.