Com a evolução da iniciação de transação de pagamento (ITP) - que permite operações fora do ambiente bancário -, o mercado começa a ver o surgimento de soluções no formato “como serviço” (ou “as a service”). Na prática, bancos e fintechs já autorizadas a operar na modalidade estão disponibilizando a iniciação de pagamento para empresas não financeiras que desejam oferecer essa funcionalidade para seus clientes, sem precisar ter a licença de ITP ou construir tecnologias dentro de casa.
De acordo com especialistas e executivos do setor, modelos como esse ajudam a encurtar o chamado “time to market”, o tempo que um produto leva desde seu desenvolvimento até estar disponível para venda. Isso porque, para operar como ITP, as instituições precisam cumprir exigências regulatórias e tecnológicas, como certificações e homologações nos arranjos do Pix e do open finance, além da própria autorização para funcionamento concedida pelo Banco Central (BC).
“Depois de tudo resolvido, a instituição entra no ‘onboarding’ em produção para testar [o serviço] com, no mínimo, quatro detentoras de contas. Feita essa validação, entra em produção plena. Então, estamos falando de meses para cumprir todas as etapas”, explica Marcelo Martins, diretor-executivo da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e CEO da fintech Iniciador.
Fundada em 2021, a empresa construiu plataforma, no modelo “software como serviço” (SaaS, na sigla em inglês), especializada em iniciação de pagamento. A solução habilita companhias a se tornarem ITPs, fornecendo toda a infraestrutura tecnológica e regulatória necessárias. No portfólio de clientes, a Iniciador tem fintechs como U4C, Trio, Pay2B, PoolPay, Muevy, entre outras.
No Itaú Unibanco, a iniciação de pagamento integra o leque de soluções daquilo que o banco chama de “Itaú as a service”, ou seja, produtos e serviços que empresas não financeiras podem oferecer aos seus consumidores, utilizando a plataforma da instituição. O público-alvo inclui e-commerces, aplicativos de delivery, operadoras de telefonia, companhias de utilities e fintechs. Uma das empresas que utilizam o “ITP as a service” do Itaú, por exemplo, é a Vivo.
Na visão de Marcos Cavagnoli, diretor de fluxo de pagamentos do Itaú, a iniciação de pagamento está crescendo e deve escalar no ano que vem, principalmente com casos de utilização no e-commerce. “Estamos no processo inicial de uso da modalidade e vemos o aumento na procura, mas ainda não pegou maturidade”, avalia.
“Estamos na fase 1 do iniciador de pagamento”, define Marcos Xavier, sócio e head da área de banking as a service (BaaS) do BTG Pactual. O banco também oferece a solução de “ITP as a service” e vem avançando nessa frente, embora ainda não revele números desse negócio ou nomes de clientes. “Habilitamos carteiras digitais que querem oferecer a experiência de iniciador de pagamento para seus clientes.”
A Celcoin fornece infraestrutura de tecnologia financeira e bancária para fintechs, bancos digitais, e-commerces, sistemas de gestão (ERPs, na sigla em inglês), utilities, entre outros mercados. “Cerca de 30 clientes já utilizam nossa solução de iniciação de pagamento”, informa Thiago Zaninotti, chief technology officer (CTO) da Celcoin. “Na maioria dos casos, são companhias de produtos e conteúdos digitais, que precisam tirar a fricção na jornada de venda.”