Com a velocidade das mudanças nos meios de pagamentos nos últimos anos, os grandes bancos têm estabelecido parcerias para não perder a corrida pela inovação. De olho em um mercado que só em cartões movimentou R$ 1,7 trilhão e, em transações Pix, mais de R$ 7 trilhões no primeiro semestre, as instituições financeiras, que antes reinavam sem muita competição, agora enfrentam uma avalanche de fintechs, startups, bigtechs, marketplaces e lojas de varejo oferecendo os mesmos produtos e serviços que antes pertenciam só a elas e seus pares. No contra-ataque, altos investimentos têm sido feitos.
O Banco do Brasil (BB), por exemplo, vem avançando nas novas funcionalidades do Pix e investiu em startups para ampliar a participação também no mercado de cartões. O banco criou em 2022 o programa de inovação aberta Corporate Venture Capital (CVC), com aporte de R$ 200 milhões. Do total, um terço já foi usado em seis startups, das quais três atuam em meios de pagamentos. Uma delas é a Payfy, plataforma de gestão de cartões corporativos, que faz a conciliação e gerenciamento de gastos dos colaboradores da empresa. “O RH pode colocar limite de uso, horários e locais onde o cartão pode ser usado”, explica Pedro Bramont, diretor de meios de pagamentos e serviços financeiros do BB. As outras duas são a Pagueleve e a Yours Bank. A primeira é uma solução para o e-commerce que usa a funcionalidade “buy now, pay later”, em que o cliente pode parcelar a compra em quatro vezes usando o Pix.
“O modelo é mais popular nos EUA e está ganhando mercado agora no Brasil. Serve para o público que não tem limite no cartão de crédito”, diz Bramont. Já a terceira é uma plataforma voltada para o público jovem para promover educação financeira. Em junho deste ano, o BB lançou ainda o cartão Orgulho, voltado ao público LGBT+. “Fizemos uma pesquisa e ouvimos que o sonho do cliente era ter o cartão com o nome que ele quisesse colocar, e não o do registro. Fizemos um cartão que permite isso.” O executivo conta que o banco vai lançar ainda este ano outros cartões temáticos, como o que contempla questões étnicas.
No primeiro semestre, o BB foi responsável por R$ 1,5 trilhão do total de Pix enviados e recebidos no país, ou 21,4%, em 2 bilhões de transações. “Antes, o cliente levava o boleto para pagar no caixa, na lotérica. Com o QR Code no boleto, ele agora paga por Pix e a empresa recebe instantaneamente”, afirma.
Já o Itaú Unibanco se uniu à Totvs para criar a Totvs Techfin, uma joint-venture de mais de R$ 1 bilhão que irá atuar em serviços financeiros, iniciação de pagamento e gestão, num só pacote para empresas. A operação, aprovada pelo Banco Central (BC) no fim de julho, é baseada em inteligência de dados. “A joint vai oferecer experiência única de uso do mercado B2B, combinando serviços financeiros integrados aos softwares de gestão e ofertas beneficiando pequenas e médias empresas”, afirma Eduardo Neubern, diretor-presidente da Totvs Techfin. “A Totvs tem mais de 70 mil clientes com perfil PME e a nova empresa foi criada para fazer em minutos o que levaria horas. Serviços como pagamentos, crédito e Pix com soluções habilitadas para as empresas pagarem e receberem entre si em tempo real”, conta Neubern.
Além disso, o Itaú tem avançado em novas funcionalidades como o Pix Indireto, ou “Pix as a service” (Pix como serviço). “Se uma empresa quer levar o Pix a seus clientes, mas não tem tamanho para ser participante direto da operação, nós levamos para ela, para que possa transacionar direto com eles”, diz Marcos Cavagnoli, diretor de fluxo de pagamentos do Itaú Unibanco. O executivo diz que o serviço está ganhando mercado este ano e que tem 30 clientes na fila para credenciar a participação nessa operação.
“Hoje, são dez clientes]. Normalmente são médias e grandes empresas vindas do Itaú BBA.” Outra novidade veio em março deste ano, quando o banco uniu o Pix ao open finance, ao começar a operar a iniciação de pagamentos para empresas - funcionalidade já disponível para pessoa física desde dezembro 2022. “Na prática, empresa com check-out no e-commerce pode pagar com o dinheiro de qualquer banco”, explica.
Também em julho, o BTG Pactual anunciou a criação de uma joint venture com a Senior Sistemas, uma plataforma para oferta de serviços e produtos financeiros, integrada aos sistemas de gestão da Senior. Antes disso, em abril, o banco lançou o BTG Dol, primeira stablecoin (moeda digital) lastreada em dólar de uma instituição financeira no mundo.
“Dá para transacionar e reflete o dólar real que está lastreado. Para cada moeda emitida, existe um dólar real no banco BTG. Não é inovação do ponto de vista monetário. A novidade é ter por detrás o lastro do BTG”, observa Christian Flemming, diretor executivo de operações e tecnologia do BTG Pactual. O banco diz que a moeda abre caminho para várias transações em diferentes setores.