As vendas on-line crescem na mesma velocidade da exigência de entregas rápidas com qualidade em qualquer lugar do país. Em 2023, elas somaram R$ 187,7 bilhões, crescimento de 9,5% em relação ao ano anterior, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. Em 2024, a expectativa é que movimentem R$ 204,17 bilhões. O número de pedidos deverá saltar de 395,1 milhões no ano passado para 414,86 milhões até dezembro. Quem não acompanhar esse ritmo tende a perder participação no mercado, garantem os especialistas. Dados da consultoria Capterra apontam que a agilidade na entrega tem peso superior (49%) ao do preço do produto (33%) na hora da compra.
Maior e-commerce da América Latina, o Mercado Livre sabe o que isso significa. As vendas cresceram 29,9%, para US$ 44,8 bilhões, no ano passado. Com cerca de 85 milhões de compradores ativos, viu o número de produtos comercializados subir 22,4% e registrou 650 milhões de itens entregues pelo modelo fulfillment - operação logística que trabalha do centro de controle à distribuição para envio -, volume 45% maior do que no ano anterior, com cerca de 90% das entregas feitas em 48 horas.
Os resultados só foram possíveis porque o Mercado Livre conta com uma infraestrutura logística parruda. São dez centros de distribuição (CD) fulfillment, 22 centros de cross-docking, 104 services centers, 4.500 agências Mercado Livre, nove aviões, 4.600 caminhões e 28,5 mil entregadores. Soma-se à estrutura física investimentos em tecnologia. No cross-docking, há softwares que avaliam destino, velocidade e serviço, escolhendo a melhor transportadora para fazer a entrega. Dentro do ecossistema do Mercado Envios, aplica modelos de machine learning para prever vendas futuras de cada item que entra no CD fulfillment.
O marketplace irá expandir suas operações logísticas no Brasil como parte do aporte anual de R$ 23 bilhões previstos para o país. Serão contemplados os Estados do Rio Grande do Sul e Ceará, além do Distrito Federal. Até o final de julho também entrará em operação o CD de Pernambuco.
Quem também não tirou o pé do acelerador foi a Amazon. Foram R$ 33 bilhões investidos nas operações no Brasil desde 2011, com ênfase na logística a partir de 2019. Em quatro anos, inaugurou dez CDs, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Distrito Federal, além de 64 estações de entrega. “No Ceará, investimos R$ 477 milhões. Itaitinga é o único lugar no país onde operamos um CD e uma estação de entrega na mesma área, reduzindo a logística e a sobreposição de recursos”, afirma Felipe Moraes, líder de operações na Amazon Brasil.
A meta agora, diz ele, é ampliar os pontos de entrega. Hoje, a Amazon consegue entregar em até dois dias para mais de mil municípios, e em até um dia em 200 cidades por via terrestre. A companhia expandiu a malha logística aérea em parceria com a Azul, viabilizando entregas mais rápidas para Brasília, Goiânia, Recife, Boa Vista, Porto Velho, Rio Branco e Palmas.
“Os marketplaces puros, como a Amazon e o Mercado Livre, são intensivos em logística, buscam ganhar capilaridade em todas as regiões, a fim de garantir entregas cada vez mais rápidas”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. “Quanto mais eles têm estrutura, mais controlam e ganham.” Para o executivo, o movimento de multiplicação de CDs no país tende a desacelerar, uma vez que os grandes operadores já estão presentes em todo o território. “Quem ainda deve ocupar novos espaços são os varejistas asiáticos”, diz. “A concentração geográfica, porém, deve mudar caso a reforma tributária seja aprovada.” Hoje, estima-se que 25% dos produtos vendidos no digital saiam de Extrema (MG), por questões de incentivo fiscal.
Um dos 11 CDs da Shopee fica em Minas Gerais, onde tem ainda 14 hubs logísticos. Todos os CDs operam no modelo cross-docking - as mercadorias são levadas até eles por parceiros, reorganizadas e encaminhadas aos hubs de última milha para entrega. O modelo é orientado pela velocidade; não há armazenagem e os pedidos ficam no local por menos de 24 horas.
Paralelamente, a Shopee conta com cem hubs de primeira e última milha, mais de 1.800 pontos de coleta de entrega, cerca de 20 mil motoristas parceiros e 250 pontos regionais de colaboradores logísticos. “São mais de 3 milhões de vendedores brasileiros, que representam 90% das transações”, afirma Rafael Flores, head de expansão e malha logística da Shopee. “Ter capilaridade é essencial.” A varejista também investe em automação e todo o processo logístico é feito com tecnologias próprias. “Conseguimos ter desde a visibilidade de todos os pedidos em tempo real até otimizar a distribuição para minimizar a distância percorrida pelos motoristas e a quantidade de veículos mobilizados”, diz Flores.