Os hospitais filantrópicos buscam fontes alternativas de receita para continuar em atividade. Muitos operam no vermelho, acumulam dívidas e precisam de novos recursos financeiros para equilibrar o caixa e honrar os compromissos com funcionários, fornecedores e credores, sem prejuízo do serviço prestado à população.
As dificuldades financeiras da rede filantrópica se agravaram com a defasagem da tabela de remuneração do Sistema Único de Saúde (SUS). Sem atualização há tempos, os valores repassados são insuficientes para cobrir os custos operacionais das instituições, nas quais são realizadas a maior parte dos procedimentos de média e alta complexidades do SUS.
O Hospital de Amor, de Barretos (SP), registrou queda expressiva da remuneração do SUS no período de quase 20 anos. Em 2002, por exemplo, o dinheiro cobria 71% dos custos operacionais, que foi R$ 35,238 milhões. Em 2021, os R$ 195,389 milhões obtidos corresponderam a apenas 22% do necessário para fazer frente às despesas, de R$ 874,539 milhões.
A realização de eventos culturais e esportivos se soma às doações incentivadas, que concedem deduções do Imposto de Renda às empresas, no esforço de arrecadação de dinheiro. “Outras fontes de recursos são as emendas impositivas dos parlamentares e a comercialização de títulos de capitalização”, acrescenta Henrique Duarte Prata, presidente do hospital.
Apesar do congelamento da tabela do SUS, a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo tem conseguido manter inalterado o atendimento. Em suas três unidades hospitalares na capital paulista, que totalizam 1.007 leitos, foram realizadas, no ano passado, 27 mil cirurgias, 231 mil atendimentos na urgência/emergência e 537 mil atendimentos ambulatoriais.
Os desafios para manter o equilíbrio das contas são grandes, já que a remuneração da tabela do SUS corresponde, em média, a 60% dos gastos, e a subvenção complementar do governo estadual, que também está congelada, não é suficiente para sustentar a operação, afirma Maria Dulce Cardenuto, superintendente da Irmandade.
Para complementar a receita, a Santa Casa recorre à locação de imóveis que possui em São Paulo e até mesmo à venda de propriedades. Conta ainda com doações para financiar o desenvolvimento de projetos específicos, sobretudo nas áreas de ensino e pesquisa.
Segundo Cardenuto, essas iniciativas garantiriam o equilíbrio entre receita e despesa, se não fosse empréstimo bancário no valor de R$ 362 milhões contratado em 2016. Apesar da amortização de R$ 215 milhões no ano passado, restam ainda cerca de R$ 210 milhões para quitar em dez anos. “Parte do dinheiro do SUS fica retida para o pagar as parcelas da dívida”, diz.