Com a perspectiva de queda nos juros, os fundos de previdência balanceados ganham atratividade entre investidores que suportam risco maior. O produto faz parte da categoria de fundos multimercados, que têm no portfólio ativos de vários mercados, incluindo o de ações. Hoje esses fundos podem alocar até 70% do portfólio em renda variável, no caso de investidores gerais, e até 100% nos chamados planos exclusivos, voltados para investidores qualificados. Antes, o limite era de 49%. A mudança abriu espaço para mais risco - e chance de ganhos maiores.
“O Brasil está retomando uma normalidade em relação à taxa de juros, depois de duas anormalidades; uma quando chegaram a 2% ao ano, gerando uma exposição maior por parte dos gestores de fundos a ativos de risco, e, mais recentemente, quando saltaram para 13,75%, levando o investidor para a renda fixa. Agora estamos caminhando para um cenário mais real”, diz Alexandre Chaia, economista e professor do Insper, citando uma inflação prevista para algo em torno de 4,5% e juros a 8,5% ao ano em dois anos. “Nesse caso não é vantajoso procurar nem ativos sem nenhum risco nem ativos de muito risco. Portanto, a posição de balanceamento será importante para o perfil de cada investidor”.
Para Chaia, fundos balanceados precisam procurar títulos públicos, além de ações, imóveis ou outros ativos voláteis. Também precisam incluir os títulos corporativos de dívida, notas comerciais e operações estruturadas, como se vê no mercado americano, afirma.
Em 2019, os limites de alocação em renda variável foram novamente ampliados, permitindo o investimento em fundos de investimentos no exterior com limite de 20% para os fundos abertos. Os fundos de previdência balanceados ganharam uma classificação específica da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) de acordo com o limite de alocação em renda variável, indo de 15% a 49%. A classificação de 1 a 15 permite até 15% da carteira em renda variável. De 15 a 30, entre 15% e 30%, bem como de 30% a 49% para a classificação com o intervalo correspondente. Fundos acima de 49 podem ter de 49% a 70% da carteira em renda variável.
Para Ricardo Ratner Rochman, professor de finanças na Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) esses limites podem ser interessantes para investidores que acreditam que, no longo prazo, essa alocação é a ideal. “No entanto, os estudos não garantem que esse tipo de estratégia é sempre a melhor, ou a vencedora”, alerta. Da mesma maneira que o mercado vai na direção de alocação mais dinâmica para aproveitar melhor os ciclos econômicos e ter mais liberdade para alocação considerando o perfil de risco do investidor, os fundos balanceados têm perdido atratividade frente a outras alternativas em previdência, diz Rochman.
Estar posicionado em renda variável no longo prazo sempre se mostrou uma boa diversificação e isso os fundos balanceados permitem, segundo Felipe Machado, gestor dos fundos multimercados da Brasilprev, melhor gestora no ranking dos fundos de previdência balanceados 15-30 e entre as dez melhores em gestão dos fundos 30-49. Para Machado, a principal vantagem desse tipo de produto é que a gestão é mais direcionada, sem guinadas, apenas contando com o cenário atual. “Claro que a seleção dos ativos faz diferença para a geração de mais rentabilidade. Porém, não há aquela tese principal do momento de que tem de estar posicionado em renda variável”, aponta.
Na MAG Investimentos, destaque na gestão dos balanceados até 15%, a gestora tem balanceados com até 20% em renda variável e até 45% no mesmo ativo. “Fazemos uma gestão ativa tentando superar o Ibovespa, nosso principal objetivo no fundo 20. Os 80% restantes dividimos entre renda fixa ativa e renda fixa e em títulos de crédito privado. Buscamos uma performance ativa na gestão”, afirma Claudio Pires, diretor de investimentos. “O ano de 2022 foi ruim para os fundos de renda variável, mas em 2023 já vemos um fluxo positivo. Novembro teve um desempenho espetacular que tem tudo a ver com o momento macroeconômico e o fim da alta dos juros, então os produtos de maior risco também tendem a performar melhor”, completa.