O aumento dos custos com as operadoras de saúde vem fazendo com que empresas adotem programas alternativos para ter mais controle e eficiência sobre a gestão da saúde corporativa. Em um cenário em que a inflação médica chega ser o quase o triplo dos índices de preços ao consumidor, as organizações estão optando por benefícios complementares, programas de prevenção e telemedicina para reduzir custos.
O estudo Variação do Custo Médico Hospitalar (VCMH), realizado pela consultoria Arquitetos da Saúde, aponta que nos três primeiros trimestres de 2023, o custo das operadoras de saúde aumentou em 9,85%, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 3,5% no mesmo período. Responsáveis pelo financiamento de aproximadamente 70% dos planos de saúde privados no país, as empresas estão entre as principais afetadas por essa inflação da saúde. Sem repassar o custo aos clientes, elas assumem uma despesa que pode chegar a ser a segunda maior com pessoas depois da folha de pagamento.
É o caso da Heineken Brasil, empresa com 13 mil colaboradores e uma gestão de 35 mil vidas, incluindo dependentes. O diretor de planejamento de RH da Heineken, Giuliano Neri, explica que o plano médico representa 10% do custo de pessoal. A empresa tem investido em conhecer melhor o perfil dessa população, analisar indicadores e oferecer planos de prevenção e qualidade de vida para evitar casos clínicos mais críticos - e mais caros. O modelo de plano utilizado pela Heineken é o de pós-pagamento, em que a empresa paga à operadora pelos serviços utilizados em um determinado período. Nesse caso, a “conta” é variável, dependendo do uso que os funcionários fazem do plano.
Uma das maneiras de evitar o sobreuso, segundo Neri, é a coparticipação. Os funcionários pagam por 20% do valor de consultas e exames simples, e a empresa cobre o restante. Outro programa é o de corregulação, em que a empresa oferece a possibilidade de uma segunda opinião para que o paciente possa comparar diagnósticos e condutas em casos mais complexos. O serviço é prestado por uma consultoria externa ao plano de saúde.
Mas é atuando em frentes como a prevenção que se coloca em prática o aprendizado obtido com a análise do perfil dos usuários. Há programas de incentivo ao exercício físico, cuidado da saúde mental, controle de doenças crônicas e acompanhamento de gestantes, por exemplo. Ao acompanhar tendências, a empresa consegue lançar novas iniciativas sempre que se detecte a necessidade. “Se há uma alta incidência de câncer de mama, por exemplo, podemos lançar uma campanha específica. É um trabalho de inteligência de indicadores”, diz o diretor.
Essa forma de gerenciar as características dos funcionários e seus dependentes é chamada pelos especialistas de gestão da saúde populacional. Fábio Gonçalves, diretor técnico da Aliança para a Saúde Populacional (Asap), defende essa abordagem mais abrangente com os cuidados de saúde. “Quando se trata de saúde corporativa, vários mecanismos coexistem, como regulação do uso através de reembolso ou coparticipação, o redesenho da rede, ou programas de prevenção e saúde ocupacional. Essa gestão precisa ser multidisciplinar, integrando elementos de forma estratégica e indo além da visão de simples benefício de RH”, afirma.
Com o aumento dos custos, no entanto, o tema já está nas mãos da alta liderança em muitas empresas, principalmente as de menor porte. O Grupo Ivy, consultoria de soluções tecnológicas que atualmente gerencia aproximadamente 260 pessoas, entre funcionários e terceirizados, oferece aos primeiros o plano pré-pago, sem coparticipação. Para os prestadores de serviço terceirizados, o grupo lançou no ano passado um plano de benefícios que inclui vacinação em casa, além de um pronto-atendimento 24h via telemedicina.
“Esses benefícios não substituem o convênio médico, mas a empresa não conseguiria cobrir os custos do plano para todos”, pondera Miller Augusto, CEO do Grupo Ivy. “Somente este ano os reajustes dos planos foram de 13% a 24%, um valor que não posso repassar para os clientes”, diz. Além da economia, as operadoras dos dois benefícios oferecem relatórios com dados de uso e resultados para a empresa. “Com o plano de vacinação, houve uma redução de 16% no absenteísmo por gripe. É um benefício com custo muito baixo e um retorno alto”, afirma.
Augusto explica que seria ideal ter acesso a mais dados de uso também dos planos tradicionais para tomar decisões informadas. Fábio Gonçalves, da Asap, também defende essa colaboração entre operadoras e clientes para que os contratos sejam mais inteligentes. “Ao compartilhar dados e riscos, as operadoras empoderam as empresas e geram muita oportunidade para o setor”, diz.