A necessidade de inovação tem estimulado a criação de startups focadas em saúde, seja trazendo ganhos de produtividade para as companhias do setor, seja melhorando os resultados para os pacientes. No Brasil, já existem quase 1,4 mil healthtechs, como são chamadas essas empresas que, entre outras soluções, oferecem acesso a tratamentos, agilidade no atendimento, auxílio em diagnósticos e até desfechos clínicos. Segundo a Distrito, pouco mais de um quarto (27%) das healthtechs do país trabalha com gestão de processos e prontuários eletrônicos do paciente, peças-chave para a produtividade de empresas do ramo. Em seguida vêm aquelas focadas em a saúde (14%) e telemedicina (11%).
Grandes grupos hospitalares, inclusive, têm hubs próprios para o desenvolvimento dessas startups, de olho nas novidades que são capazes de desenvolver. É o caso do Hospital Israelita Albert Einstein, que lançou em 2017 o hub de inovação Eretz.bio. Um dos destaques é a Hoobox, cujo aplicativo Nanopass Room usa inteligência artificial (IA) para direcionar solicitações de pacientes ao setor responsável pela demanda, aliviando a enfermagem.
O Eretz.bio já fez parcerias com mais de 180 startups em mais de 230 projetos, diz o diretor executivo de inovação do Einstein, Rodrigo Demarchi. O crescimento gerou até um fundo corporativo (CVC), o Arava, lançado em 2021 e com previsão de investir até R$ 140 milhões até 2026. Gerido pela Vox Capital, o fundo tem investido até agora uma média de R$ 20 milhões por ano. Entre as beneficiadas estão Isa Lab, de exames em domicílio, Intuitive Care, de gestão financeira para centros médicos, e Klivo, que oferece coordenação de cuidados de pacientes crônicos.
Já o Grupo Fleury avaliou, nos últimos cinco anos, mais de 800 startups, das quais 57 tiveram soluções implementadas em 27 áreas da empresa, que tem seis programas de inovação. Um deles, o Impacta, anunciou em março as novas selecionadas, entre elas Afro Saúde (promoção da saúde da população negra), Visão do Bem (democratização da saúde ocular) e Na Porta (logística, pesquisa local e endereçamento digital).
Há quatro anos o Fleury, em parceria com o Grupo Sabin, lançou o CVC Kortex, com meta de aportar até R$ 200 milhões em negócios de medicina diagnóstica, personalizada e saúde digital. A primeira selecionada foi a israelense Sweetch, que usa IA para gestão de pacientes crônicos. Também já foram selecionadas as startutps Speedbird, que utiliza drone para transporte de amostras biológicas na região metropolitana de Belo Horizonte, Quoretech, responsável por holter sem fio, e a Vuupt, plataforma de roteirização para produtividade, relata a diretora executiva de estratégia, inovação e ESG do grupo Fleury, Andrea Bocabello. O prêmio Inovação Fleury ajuda a conectar premiadas com o fundo.
“O que as fintechs [do setor financeiro] foram nos últimos 15 anos, healthtechs serão nos próximos 10 ou 15 anos”, afirma Romero Rodrigues, head de venture capital na XP e sócio-gestor do Headline XP, parceria entre XP Asset e Headline Global que levantou R$ 915 milhões com 12,5 mil cotistas e tem duas healthtechs entre nove investidas: a Fin-X (com R$ 8,5 milhões) e a Fiibo (R$ 15 milhões).
A Fiibo, criada por Ítalo Marting em 2022, mira oferta de benefícios flexíveis com uma plataforma de saúde e bem-estar que reúne um marketplace com nove categorias, desde planos de saúde até vale-alimentação, academias, farmácias e exames, além de soluções voltadas a RH, como gestão de benefícios e acesso de funcionários e dependentes para aquisição de mais de mil produtos e serviços. O modelo é B2B2C: a empresa cliente dá acesso aos consumidores, que hoje são cerca de 67 mil. A empresa já captou mais de R$ 28,5 milhões.
A Fin-X, por sua vez, levantou no total quase R$ 15 milhões para organizar processos e dados na gestão e execução de cirurgias, integrando médicos, hospitais e seguradoras para maior eficiência operacional. A operação abrange 16 Estados e o Distrito Federal, com mais de 140 hospitais. “Neste momento miramos hospitais filantrópicos e públicos focados em gestão de filas de cirurgias do SUS”, diz o co-fundador Daniel Shiraishi.
Aggir Ventures e FHE Ventures também miram as healthtechs. A primeira surgiu em 2021 para investir em startups em estágio inicial e já selecionou quatro nas áreas de educação médica, serviços de saúde e processos de gestão, conta a general manager Nadia Armelin. Uma delas é a Upflix, uma espécie de Netflix para serviços de saúde. Já a FHE Ventures, do Grupo FCJ, é voltada a venture builder (desenvolvimento de outras empresas) em saúde e educação, com 20 startups no portfólio.
Em janeiro, o FCJ e um grupo de investidores-anjo em saúde criaram a Health Angels Venture Builder, que já tem R$ 2 milhões captados e duas investidas, segundo o médico Rafael Kenji, CEO da FHE Ventures e da Health Angels Venture Builder. Uma delas é a Hi! Healthcare Intelligence, que coleta desfechos de saúde para entregar análises econômicas, dados e insights para melhor eficiência operacional.