Florestas
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Por Sérgio Adeodato — Para o Valor, de São Paulo


As florestas globais vivem um momento crucial nas decisões sobre clima, segurança alimentar e redução da pobreza, oscilando entre o papel de heroínas ou vilãs. Embora tenham potencial de fornecer 23% das soluções climáticas até 2030, com menor custo, essas áreas contribuem aceleradamente para o problema, devido ao desmatamento. Cobrindo um terço do planeta, elas abrigam 80% de sua biodiversidade terrestre. E quem depende dos recursos florestais para o sustento ganha menos de US$ 1,25 por dia, em média, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Com receio de que o quadro abra espaço à devastação, a proposta da ONU é redobrar esforços para aliar conservação, restauração e manejo sustentável de florestas como forma de abastecer mercados, diante da demanda por madeira, papel e outros materiais.

Cresce o debate em torno de um novo olhar estratégico para florestas, com a premissa de que mantê-las em pé depende da qualidade de vida das pessoas que habitam a região. A inclusão social e produtiva, segundo a FAO, exige revisão de leis e políticas fiscais sobre o uso da terra, indo além da fiscalização e repressão à derrubada de árvores. Incentivos à produção sustentável, em arranjos comerciais inovadores, têm a função de proteger a biodiversidade como fonte de renda e bem estar na concorrência com atividades que a degradam.

A perda de florestas primárias nos trópicos, onde ficam as grandes florestas úmidas como a Amazônia, foi 10% maior em 2022, em comparação a 2021, conforme dados do Global Forest Watch (GFW). Foram desmatados um total de 4,1 milhões de hectares, equivalentes a 11 campos de futebol por minuto, resultando na produção de 2,7 gigatoneladas de emissões de dióxido de carbono - número igual às emissões anuais de combustíveis fósseis da Índia. No Brasil, líder global da perda dessas florestas, o problema foi 15% maior em 2022, o que representou 43% do desmatamento no planeta. O país ocupa o quarto lugar no ranking dos que mais têm cobertura arbórea quando se considera todos os tipos de floresta - naturais e plantadas -, atrás de Estados Unidos, Canadá e Rússia, em primeiro.

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Das florestas frias da Sibéria, voltadas à silvicultura de commodities e materiais de alta tecnologia, às áreas tropicais da África e da América do Sul, com produtos de baixo valor, há várias realidades mundo afora. “Florestas tropicais precisam ser vistas de maneira distinta, porque hoje estão abandonadas em termos de ciência e tecnologia”, ressalta Roberto Waack, presidente do conselho do Instituto Arapyaú e pesquisador sênior na Chatham House, em Londres.

Para Waack, o mundo vive o dilema de monetizar a natureza, com transformações do capitalismo para incorporar valores não econômicos: “O desafio da chamada ‘bioage’, uma nova onda no debate global, passa necessariamente pelas florestas”. Meio século após a criação do conceito de desenvolvimento sustentável, “a diferença é que agora sabemos o que precisa ser feito e como agir”. Ele diz que a chave está em olhar a floresta não tanto como fornecedora de produtos, mas de serviços vitais, a exemplo do regime de chuvas, captura de carbono e saúde humana. “A geopolítica global está mudando o jogo, via valorização dos serviços ambientais prestados à humanidade, cenário em que o conhecimento de populações indígenas e tradicionais deixa de ser folclore e ganha protagonismo.”

A gestão da biodiversidade se aproxima das agendas de educação, saúde e cultura, junto às questões sociais. Pequenos produtores e povos indígenas possuem ou administram ao menos 4,35 bilhões de hectares de floresta. Segundo a FAO, as florestas fornecem US$ 75 bilhões a US$ 100 bilhões por ano em bens e serviços, como água limpa e solos saudáveis. Outros estudos calculam que mais da metade do PIB mundial depende dos serviços ecossistêmicos, incluindo os fornecidos pelas florestas.

O mundo debate a reconfiguração do uso da terra e florestas para fornecimento de insumos à transição energética e alimentar, no contexto da mudança climática. “Há espaço para desenvolver e diversificar cadeias baseadas na madeira como fonte renovável, em substituição a alternativas de origem fóssil”, diz Thaís Linhares-Juvenal, líder de sustentabilidade florestal da FAO. A América Latina tem a maior cobertura de floresta do mundo, porém só 12% do mercado florestal. “Não podemos abrir mão da madeira na mitigação da mudança climática”, reforça ela. A estimativa é a demanda pelo material aumentar 35% até 2050, principalmente para a construção civil.

Quase um quarto da população mundial depende de florestas para subsistência, principalmente em regiões pobres, reforçando a abordagem social no uso de terras também pela cooperação internacional. “A visão prioritariamente econômica traz riscos à biodiversidade e segurança alimentar, sem proporcionar qualidade de vida”, adverte Thiago Uehara, pesquisador da Chatham House à frente do debate sobre novos padrões para as florestas, no conceito de “planetary wellcare”, relacionado ao cuidado na satisfação de necessidades básicas. “Regulações de comércio contra o desmatamento, como as da União Europeia, estão mais interessadas em limpar o consumo das regiões ricas do que em contribuir com melhorias sociais e ambientais nos países produtores”.

José Maria Cardoso da Silva, pesquisador da Universidade de Miami, concorda. “É necessário equilibrar a infraestrutura ecológica com a social, de modo que ambas sejam mais capacitadas para as demandas futuras”, diz. Ao cruzar dados de cobertura florestal e desenvolvimento humano, o pesquisador constatou que todos os municípios da Amazônia, por exemplo, estão longe do ideal. Recente pesquisa de sua equipe mostra que é possível preservar 80% da Amazônia ao custo anual de US$ 1,7 bilhão a US$ 2,8 bilhões para manter áreas protegidas, além de US$ 1 bilhão de investimento para criá-las.

Para atingir as metas de biodiversidade da ONU são necessários cerca de US$ 700 bilhões por ano até o fim da década, mas o mundo gasta só um quinto desse valor. Segundo a Policy Climate Iniciative, menos de 1% do financiamento climático se destina às florestas. Para Cardoso, é preciso ampliar investimentos, mas a conservação da biodiversidade orientada pelo mercado tem limites. Essa tendência, diz ele, ignora uma das mais poderosas lições de Albert Einstein: “Não podemos resolver problemas usando o mesmo tipo de pensamento de quando os criamos”.

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