Ainda incipiente, o interesse do mercado financeiro pelo potencial de retorno dos créditos de carbono está restrito a iniciativas de grandes grupos e gestoras especializadas. Para os investidores de menor porte, a saída é buscar produtos engajados na causa do meio ambiente, que aos poucos começam a dar as caras no mercado.
No ano passado, a BB Asset lançou o fundo BB Multimercado Carbono, para clientes do Banco do Brasil, com carteira composta por operações de derivativos de contrato futuro de crédito de carbono e ETFs (índices) de carbono. “É investimento de longo prazo, com tíquete baixo de entrada, para investidores que têm preocupação genuína com o meio ambiente. Não é para ganhos em curto prazo, exige certa educação financeira”, alerta Marcelo Arnosti, estrategista-chefe de multimercados, renda-variável e offshore da BB Asset, referindo-se ao alto risco e à volatilidade média anual de 37,7%. Nos últimos 12 meses, acumula ganhos de 4,58% ante alta de 13,54% do CDI.
Para o advogado Thiago Giantomassi, sócio de mercado de capitais do escritório Demarest, o interesse está relacionado às exigências internacionais, principalmente de países europeus, com base no cumprimento do modelo ESG. “São investimentos em projetos de maturação longa, que visam a mudança gradativa de matriz energética. Hoje, a precificação dos créditos é mais ditada pelo comprador do que pelo produtor, mas os grupos financeiros projetam potencial de lucro”, afirma.
Com três fundos florestais no portfólio, a Lacan Ativos Reais prepara um quarto produto para atuar no modelo MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), de olho na presença do Brasil no mercado regulado internacional. Hoje, são cerca de 90 mil hectares de florestas próprias de eucalipto e pinus, distribuídas por Santa Catarina, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, voltadas para celulose e biomassa, com patrimônio de R$ 1,3 bilhão. Os investidores são grupos nacionais e estrangeiros, fundos de pensão e family offices. Segundo Guilherme Ferreira, sócio da gestora, o objetivo é preservação e geração de novas florestas, seguindo as normas Verified Carbon Standard da certificadora Verra.
Já a gestora Fram Capital mira a floresta amazônica. Em parceria com a consultoria ambiental Mata Nativa e com estruturação do BTG Pactual, foi criada a empresa Samaúma, no Acre, para compra de florestas e desenvolvimento de projetos REDD+ para preservação e desenvolvimento de projetos sustentáveis certificados. O cineasta Fernando Meirelles é um dos investidores. “Queremos comprar 2 milhões de hectares e desenvolver parcerias com proprietários locais e a União”, diz Nicolas Londono, sócio da Fram Capital. A primeira aquisição foi de 150 mil hectares no Acre. Londono já prospectou oportunidades no Amazonas e no Pará. No futuro, a expectativa é gerar entre 3 milhões e 5 milhões anuais de créditos de carbono.
Em junho, a XP anunciou a compra de 6.597 créditos de carbono do projeto ABC Norte REED, do grupo Future Carbon Group, no Pará. O projeto ocupa uma área de 140 mil hectares na floresta amazônica. Segundo Fabio Simabukuro Cruz, head de ESG & risco social, ambiental e climático, os créditos foram usados para compensação das emissões de gases efeito estufa nas atividades do grupo em 2022, como tratamento de efluentes líquidos e resíduos sólidos, viagens aéreas de funcionários e deslocamentos em veículos a combustão.