Lítio e cobalto estão em baterias de carros elétricos e de armazenamento de energia, celulares e computadores. Níquel e grafite dão desempenho e longevidade às baterias. Telúrio e índio são usados em painéis solares, e minerais terras raras são utilizados em semicondutores, catalisadores, lâmpadas de LED e imãs permanentes de turbinas eólicas. As tecnologias para a transição energética vão levar a um salto na demanda desses minerais estratégicos. Segundo o Banco Mundial, serão necessários 3 bilhões de toneladas de minerais para atender aos sistemas de produção e armazenamento de energia limpa até 2050, o que significa alta na demanda de até 500% para minerais como lítio, grafite e cobalto e de até 12 vezes na de índio.
Suprir essa demanda requer mais investimento em mineração, além de olhar atento para questões geopolíticas. Jazidas de cobalto, por exemplo, se concentram na República Democrática do Congo, país com conflitos internos. A China detém 60% das reservas de grafite e também é lider em terras raras. “Esses recursos têm papel crucial na descarbonização da economia, e o processo de transição energética já tem provocado uma mudança no perfil de investimentos em mineração”, diz Ricardo Marques, sócio e especialista em mineração da KPMG.
Segundo a consultoria, o Brasil pode ter fatia relevante desse mercado e ganhar relevância na exploração de lítio (8% das reservas), grafite (27%) e níquel (15%) e manganês (18%), ainda que não esteja entre os dez principais produtores. No caso das terras raras, o país detém a segunda maior reserva mundial, com 22 milhões de toneladas. Essas reservas correspondem à metade das chinesas, mas podem ser ainda maiores e posicionar o Brasil como um fornecedor global. “Há um interesse recente sobre esses recursos, o que faz players tradicionais ampliarem estudos e pesquisas, mas a exploração comercial ainda é incipiente”, diz Marques.
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), foram produzidas 500 toneladas de elementos terras raras em 2022. Os requerimentos de pesquisa protocolados na Agência Nacional de Mineração passaram de 90, em 2020, para 154 em 2022. Duas empresas canadenses, a Canada Rare Earth Corporation e a Appia Rare Earth, anunciaram planos para investir na produção dos elementos nos Estados de Rondônia e Goiás.
“Ainda não temos uma extração maior dos elementos terras raras por conta dos altos custos de produção e também por uma lacuna de pesquisa. Precisamos de uma política industrial que ajude essas cadeias a se desenvolverem”, afirma Julio Nery, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Ibram. O Plano Nacional de Mineração 2030 aponta que o Brasil já produziu terras raras a partir do processamento químico da monazita, encontrada na região costeira, e sugere a implantação de um amplo programa de pesquisa, desenvolvimento e inovação para esses materiais.
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