![Mauro Gasperin, da Aida Alimentos, e as filhas Janaína (esq.) e Mariana, que passaram por diversos áreas na empresa — Foto: Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/ALohT85gMIjyxrSvpc64KL9lFcY=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/G/a/auO8xuTwGq3F2DgcjOMw/foto27esp-101-familias-g2.jpg)
Empresas com perfil familiar são maioria no Brasil, mas poucas resistem aos desafios impostos pelo tempo. A maior parte, 89%, não vai adiante após a terceira geração, conforme pesquisa do IBGE. Entre as raras que comemoram centenário com mesmo sobrenome, ter um plano sucessório definido é a senha para a longevidade bem-sucedida.
Experiências de companhias como a catarinense Altenburg, fabricante de travesseiros e roupas de cama, e a gaúcha Aida Alimentos, dos italianos Gasperin, produtora de embutidos premium, reforçam a tese. Em ambas, netos e bisnetos foram preparados para assumir o comando. A quarta geração começou cedo nos negócios da família, ainda que atendendo telefone na adolescência nas férias escolares.
A empresa era uma espécie de extensão da casa. Em ambas, os descendentes se interessaram desde cedo pela história de negócios da família e tiveram formação acadêmica adequada, com as devidas especializações. Apenas uma, a Altenburg, optou pela gestão profissional, em 2017, mesmo assim por três anos apenas, retornando depois ao comando da família que dá nome da companhia.
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Hoje, o leme está nas mãos de Tiago Altenburg, bisneto da criadora, a catarinense de origem alemã Johanna Altenburg, que decidiu produzir em casa travesseiros de algodão, lã de carneiro e penas de ganso quando se viu viúva e sem renda, em 1922. A primeira loja veio em 1969. A terceira geração, a do neto Rui, tomou à frente dos negócios em 1970, e ficou 50 anos.
“O Rui, meu pai, assumiu sozinho, assim como meu avô. Isso é muito raro e acho que facilitou bastante nosso desenvolvimento. Muitas vezes os conflitos familiares acabam impedindo o crescimento do negócio. Agora, pela primeira vez, teremos uma sociedade de irmãos”, diz Tiago, um dos três filhos de Rui, que teve o primeiro cargo executivo na empresa, com sede em Blumenau, em 2007, aos 23 anos. Antes disso, passou pelas áreas de projeto, de qualidade, de vendas, até chegar a diretor industrial, diretor comercial e de marketing e a vice-presidente. “Desde o primeiro dia, acompanho as principais decisões da empresa. Para mim, tanto nos acertos quanto nos erros, foi um processo de aprendizado muito relevante. Foi um MBA de gestão”, diz Tiago, que assumiu a presidência em janeiro de 2024. Rui, com 75 anos, preside o conselho de administração.
Os três filhos do patriarca têm participação acionária idêntica na companhia, mas apenas Tiago permaneceu na empresa. “Estamos fazendo o planejamento sucessório de passagem das ações para as holdings de cada um dos núcleos familiares. Meus pais também constituíram uma holding e pela primeira vez minha mãe figura como acionista, movimento importante que dá solidez e segurança para que os irmãos continuem tendo mediação da geração anterior. É um cuidado importante no nosso planejamento sucessório”, conta.
Há mudanças à vista. A decisão de crescer resultou em investimentos que preveem expansão de faturamento dos atuais R$ 700 milhões para R$ 1,2 bilhão em 2027. Acelerar a terceirização ao redor do mundo, reestruturar a área de vendas, marketing e consolidar a plataforma B2B para atender o mercado multimarcas, além de ampliar as franquias. A quarta geração quer manter visão de longo prazo e preservar a unidade patrimonial.
A centenária Aida Alimentos mantém a sede em Bento Gonçalves com as mesmas paredes de madeira da casa fundada em 1922. Hoje, a quarta geração da família, de origem italiana, composta pelas duas bisnetas de Ernesto Gasperin, comanda o frigorífico ao lado do pai, Mauro, presidente da Aida, que passou a liderar a empresa nos anos 70 e foi responsável pelo crescimento do negócio. Janaína e Mariana, suas filhas formadas em propaganda e administração, cresceram trabalhando no frigorífico. “Nosso contato com a empresa é de uma vida inteira. Nunca pensei em fazer outra coisa. Passar por todos os setores foi definindo quais eram os melhores perfis para minha irmã e para mim. Isso perdurou por 18 anos”, diz Mariana, que esteve à frente do setor financeiro e hoje atua na área comercial e de marketing. O processo sucessório foi feito a partir da experiência familiar, sem consultorias especializadas.
A chegada das bisnetas levou a mudanças. A primeira gestão feminina Gasperin ampliou o número de mulheres na empresa. “Hoje é muito mais um trabalho em equipe. Compartilhamos muito mais”, diz Mariana. A quarta geração também trouxe foco na charcutaria de cortes nobres, com produção mensal de 30 toneladas, novas embalagens que passaram a valorizar o produto centenário, expansão e diversificação de mercados. No futuro, não está descartada uma gestão profissional, embora ainda não haja consenso em relação a isso. Por ora, o ano de 2024 será o de expansão regional. “Será um marco para nós. O cliente poder substituir um importado por um produto nosso é muito importante, assim como acontece com o vinho e o queijo da Canastra”, diz Mariana.