A maior parte dos jovens ingressa no mercado de trabalho em posições que estão sumindo com o avanço da tecnologia. Quem afirma é Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É o caso de caixas de supermercado, contínuos e serventes de pedreiros. “Na construção civil, se antes mil pessoas trabalhavam na fundação de um prédio, hoje o número pode não passar de 200.”
Mas, se algumas profissões parecem fadadas à extinção, outras ganham espaço, revela pesquisa do Itaú Educação e Trabalho em parceria com as fundações Roberto Marinho, Arymax, Telefonica Vivo e Aspen Institute. Entre os segmentos mais promissores para inserção de jovens no mercado, o estudo menciona a economia verde, com produtos e serviços para preservação e restauração ambiental, as economias digital e criativa, empreendimentos para pessoas com mais de 50 anos e os setores de saúde e bem-estar.
Os números se refletem na procura pelo ensino profissionalizante. “Os cursos técnicos de enfermagem são campeões de audiência”, diz a diretora-superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá. São 14 candidatos por vaga. Formações em farmácia, gestão e desenvolvimento de sistemas também estão entre as mais buscadas.
Nos institutos federais, a tecnologia é o destaque, com procura por robótica, inteligência artificial, desenvolvimento de redes, programação e sistema de internet. “A demanda é alta por conta da maior oferta de empregos”, diz Maria Leopoldina Camelo, diretora-executiva do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal (Conif).
No setor industrial, as áreas em que o mercado mais demanda formação são logística, transporte, metalmecânica, metrologia, eletroeletrônica, tecnologia da informação e construção, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O diretor técnico da Senai, Rafael Lucchesi, aposta no crescimento da procura por técnicos com conhecimentos de internet das coisas e algoritmos para inteligência artificial.
Mas não só conhecimento técnico será o suficiente. “Profissionais que não conseguem conectar diversas áreas do conhecimento correm maior risco de serem substituídos por máquinas”, diz Augusto Júnior. “O mercado exige cada vez mais a capacidade de reflexão profunda, com pensamento crítico e integração de diferentes disciplinas para resolver problemas com a criatividade de forma que os robôs ainda são incapazes”, diz Claudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV).