Tecnologias como inteligência artificial (IA) e automação estão entre as que mais transformarão o mundo do trabalho e emprego. Os impactos, entretanto, não serão relacionados apenas a cortes de vagas; as tecnologias servirão como ferramentas colaborativas, inclusive para aprendizado e requalificação profissional.
Uma das mais promissoras é a IA generativa, uma espécie de robô conversacional (o chatbot) capaz de produzir de textos a músicas, imagens e linhas de programação de softwares similares aos criados por humanos. O mais famoso é o ChatGPT, da startup Open IA, ladeado por iniciativas da Microsoft (Bing), Google e outras, capazes de democratizar o uso da inteligência artificial.
O ChatGPT levou três meses para alcançar 100 milhões de usuários, contra dois anos do Instagram, diz Camila Cinqueti, da PwC. Se antes o potencial da IA se voltava a automação operacional, de processos previsíveis e repetitivos, agora a tecnologia pode afetar funções de pessoas mais capacitadas. “Até escolas terão de se adaptar, como fizeram com a calculadora no passado”, compara Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.
Otavio Figueiredo, do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avalia a tendência para uso por alunos. Mas lembra que a qualidade do resultado está relacionada à capacidade de questionamento e revisão do interessado - inclusive porque, no caso do ChatGPT, a resposta não traz fontes e, sem referência, a informação perde a validade, diz ele. Já o Bing, da Microsoft, traz fontes, mas com resumos para emprego pelo usuário.
Para Onédio Seabra, presidente da I2AI, organização criada para a promoção da inteligência artificial no Brasil, a tecnologia já tem funcionalidades cognitivas para tomar decisões com grau razoável de autonomia e afeta indústrias e trabalhadores até de áreas que exigiam capacidade cognitiva avançada, como pesquisas, revisões e simulações no campo jurídico.
Seabra, que também coordena a comissão de tecnologia da informação quântica da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), alerta para a necessidade de compreender o que fazer com quem não acompanhar o passo da evolução, com políticas de reconversão profissional e fomento a habilidades para lidar com o tema.
A questão é que se o letramento para codificação pode chegar até a crianças, a partir de quebra-cabeças e discussões éticas, e pode ser fortalecido com educação técnica e profissionalizante, políticas públicas com treinamento, bolsas de estudo ou incentivos fiscais para empresas investirem, além do interesse do indivíduo, devem apoiar a transição de trabalhadores, diz Seabra, que também destaca o Sistema S e a aplicação da Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (Ebia), ainda hoje só no papel.
Segundo ele, a IA generativa pode ser empregada para criar materiais de aprendizado personalizados e interativos ou simulações realistas, além de oferecer avaliações adaptativas ao estudante para tornar o processo de aprendizagem mais envolvente e eficaz, sempre com cuidados éticos e legais contra informações falsas ou violações de direitos autorais, por exemplo.
O uso da IA generativa na educação está na mira da Khan Academy, parceira da Open IA para criar modelos de aprendizagem com um modelo de tutoria baseado em perguntas e respostas para direcionamento do aluno a partir dos conhecimentos que ele já possui. Para emprego atual, o professor e consultor Alexandre Del Rey, fundador da I2AI, ressalta a necessidade de visão crítica para analisar resultados e de criação de limitações, como vetar questionamentos sobre criação de armas letais massivas, explica.