COP28
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Por Lauro Veiga Filho — Para o Valor, de São Paulo


Marina Piatto, da Imaflora: produtividade pode crescer em áreas degradadas — Foto: Divulgação
Marina Piatto, da Imaflora: produtividade pode crescer em áreas degradadas — Foto: Divulgação

A necessidade de ampliar a produção de alimentos e conservar a natureza são os dois principais desafios da agricultura e a grande questão é saber se será possível conciliar esses objetivos antes que o processo de aquecimento global se torne incontornável. “Será que vai dar tempo?”, questiona Marina Piatto, diretora executiva do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), referindo-se ao cenário mundial, mas especialmente ao caso brasileiro, diante das dimensões e diversidade do país e da falta de “organização fundiária e política para fazer todo o processo andar rápido”.

Otimista, de toda forma, Piatto acredita que as pressões dos principais mercados compradores deverão acelerar a transição. Segundo ela, o país já conseguiu desenvolver tecnologias e modelos de produção mais sustentáveis e a fatia mais moderna do agronegócio não precisa mais ser convencida a operar sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Piatto reforça que o tempo é curto para escalar para todo o setor processos e tecnologias de conservação, mas as possibilidades estão diante do setor, assim como os riscos. “Precisamos cuidar para que seja uma transição justa, que não exclua os pequenos, como ocorreu no processo de expansão da soja. Temos que ter cuidado para que a transição seja inclusiva.”

Isso exigirá o desenvolvimento de modelos distintos de produção para grandes, médios e pequenos produtores, “mas todos focando em baixas emissões, sequestro de carbono e biodiversidade”, diz. Segundo Piatto, sistemas de produção mais diversos, como a exploração integrada de lavouras, pecuária e floresta, são mais complexos, mas oferecem maior resiliência a eventos climáticos extremos.

O incremento sustentável da produtividade desempenha papel estratégico na agenda da transição ao permitir aumentar a produção sem desmatamento. “Ainda temos muito espaço para crescer em produtividade nas áreas já utilizadas hoje e ainda em áreas degradadas”, observa Piatto. Trabalho desenvolvido em 2022 pelo Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV) encontrou 52% das pastagens com algum nível de degradação, alcançando perto de 89 milhões de hectares. Se um terço delas tiver aptidão agrícola, afirma Piatto, seria possível agregar à produção de proteínas vegetais algo próximo a 30 milhões de hectares, o que significaria aumentar a área total de grãos a uma taxa duas vezes maior do que o avanço de 14,8 milhões de hectares projetado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) entre os ciclos 2022/23 e 2032/33.

Segundo Yuri Rugai Marinho, CEO da Eccon Soluções Ambientais, os dados disponíveis indicam que a agricultura brasileira produz atualmente “até três vezes mais por hectare na comparação com a média mundial, o que mostra uma agricultura eficiente”. Marinho acrescenta que o Brasil talvez seja “um dos poucos, senão o único país, que dispõe de uma legislação que restringe a exploração, com aplicação do conceito de reserva legal nas áreas rurais”.

Os estudos do Imaflora mostram que há possibilidade de expandir a produtividade mesmo na área de grãos, especialmente em áreas de soja e milho na fronteira agrícola, a exemplo do Matopiba (região que engloba parte dos Estados do Maranhão, de Tocantins, do Piauí e da Bahia). Os dados apurados em 2019 pelo instituto indicam que perto de 30% das propriedades rurais conseguiram atingir o “auge em produtividade nas lavouras de milho e soja e 70% ainda tinham espaço para crescimento”. De acordo com Piatto, mesmo em alguns lugares de São Paulo, a cana apresentava baixa produtividade. “A proposta é dar escala, de forma inclusiva, ao que já existe de agricultura regenerativa, de baixo carbono, e eliminar o desmatamento vinculado ao agro”, diz.

O grande potencial do Brasil está na conservação ambiental, destaca Marinho, alternativa única para preservar as chuvas, forma mais barata de irrigar os campos, e os fluxos de massas de umidade entre a Amazônia e o Centro-Sul. Na sua visão, a agricultura brasileira, como atividade, “é um exemplo mundial”, mas “não podemos fechar os olhos para o fato de que ela está em expansão, desmatando área”, e para manter essa excelência terá que produzir mais nas áreas já antropizadas. Como alternativa para manter as matas em pé e gerar renda para os povos da floresta, Marinho aposta no amadurecimento do mercado de créditos de carbono, com a aprovação no Senado do projeto de lei 412, e na força de acordos internacionais que preveem fundos para financiar a preservação.

Numa iniciativa anunciada em 2021 e reforçada na COP28, oito gigantes do setor de soja - ADM, Amaggi, Bunge, Cargill, Cofco International, Louis Dreiffus Company, Olam Agri e Viterra -- decidiram a partir do fim de 2025 não mais comprar o grão cultivado em áreas desmatadas e ocupadas originalmente por florestas na Amazônia, no Cerrado e na região do Chaco. Até 2030, deixarão de comprar a soja de áreas de vegetação primária convertidas em lavouras naqueles mesmos biomas. A iniciativa tem como objetivo preservar 126 milhões de hectares de florestas e mais 55 milhões de hectares de vegetação nativa primária, evitando potencialmente emissões próximas de 84 bilhões de toneladas de CO2 equivalente.

A Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove) e empresas associadas já neste ano decidiram exigir dos produtores a apresentação de autorização concedida por órgãos ambientais para supressão de vegetação nativa como condição para a compra da soja. “As indústrias já fazem isso individualmente. Agora passaremos a executar setorialmente”, diz André Nassar, presidente da Abiove.

A associação monitora plantios e tem um mapa da produção de soja, com base em tecnologia desenvolvida a partir da Moratória da Soja, lembra Nassar, e as empresas do setor dispõem de sistemas de rastreabilidade e controle de origem que ajudarão no controle da originação. A intenção é envolver revendas, cerealistas e cooperativas para tornar a iniciativa mais efetiva, num diálogo que já tem avançado, conforme Nassar, resultando num primeiro acordo firmado com a Associação das Empresas Cerealistas do Brasil (Acebra) em outubro.

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