COP28
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Por Ricardo Ivanov — Para o Valor, de São Paulo


Paulo Pianez: “É preciso convergência de todos os atores - poder público, pecuária e bancos” — Foto: Divulgação
Paulo Pianez: “É preciso convergência de todos os atores - poder público, pecuária e bancos” — Foto: Divulgação

Maior exportador mundial de carne bovina, com 2,25 milhões de toneladas no acumulado de janeiro a novembro, o Brasil tem um enorme desafio pela frente. E envolve as 2,5 milhões de propriedades rurais brasileiras dedicadas à pecuária, sendo 70% de pequeno porte. Um dos grandes temas discutidos em painéis durante a COP28 foi o da rastreabilidade bovina. Ou seja, colocar chips no rebanho para identificar insumos e matérias-primas em toda a cadeia, além de garantir a segurança do alimento e que a produção esteja sendo feita em terras não desmatadas, entre outros benefícios.

“O produtor precisa ver vantagem na adoção da rastreabilidade, que são inúmeras, como autocontrole, transparência da informação, melhoria da gestão e de processos e, consequentemente, aumento da produtividade”, diz Luiza Bruscato, diretora executiva da Mesa Brasileira de Pecuária Sustentável, organização multissetorial que promove há 15 anos boas práticas na área e que realizou painéis na COP28.

Ela observa que os animais rastreados hoje são os que estão indo para a exportação, cerca de 2,9 milhões de cadastrados voluntariamente no Sisbov, sistema oficial de identificação individual de bovinos e búfalos.

É um número pequeno em relação ao rebanho total de bovinos de 234,4 milhões de cabeças e está influenciado pela obrigatoriedade imposta pelo Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR, na sigla em inglês).

“Nossa proposta é implementar o sistema em larga escala nacionalmente. Precisamos vencer as barreiras de comunicação com o produtor rural e ter linhas de crédito ou subsídios para ampliar a utilização da rastreabilidade”, diz Bruscatto.

Hoje um dos mecanismos de rastreabilidade não individualizado usado no país é a geolocalização por satélite, que se soma à documentação exigida sobre a origem do gado - o que ajuda a identificar se a produção está sendo feita em área de desmatamento, terra indígena ou unidade de conservação.

“É preciso convergência setorial de todos os atores - poder público, pecuária e bancos - para que se inicie, de maneira gradual, a rastreabilidade individual do gado. Ainda assim, vai levar anos para a implementação”, diz Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade e comunicação da Marfrig, segunda maior produtora de carne do mundo.

Para ele, os produtores de pequeno porte não têm condições técnicas e financeiras para adoção dos “brincos” de identificação individual dos bovinos. Há dificuldade de financiamento, preparo e capacitação que, na visão de Pianez, só políticas públicas mandatórias como as do Uruguai e Austrália poderiam resolver.

A Marfrig informa que tem taxas de rastreamento por satélite e cruzamento de documentos de fornecedores indiretos de 85% na Amazônia e 71% no Cerrado, parte de um investimento de R$ 100 milhões até 2024. Até 2025, a meta da companhia é alcançar 100% da cadeia de produção.

A JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, também defende a necessidade de um programa nacional de rastreabilidade. “Anunciamos na COP28 uma parceria com o governo do Pará de R$ 43,3 milhões para nos próximos três anos, entre outros tópicos, melhorar o rastreamento do gado no Estado”, diz Liège Correia, diretora de sustentabilidade da JBS Brasil.

“Utilizamos há quase 15 anos um sistema de monitoramento geoespacial para garantir o cumprimento de nossos critérios socioambientais. Ele avalia diariamente mais de 70 mil potenciais fornecedores de bovinos no Brasil para que não atuem em áreas de desmatamento, entre outros aspectos”, afirma Liège.

O segundo grande tema ligado ao setor discutido na COP28, o da pecuária regenerativa, é cada vez mais urgente. Ele tem como princípio uma integração maior com outros atributos da terra, como manejos que priorizam a saúde e a qualidade do solo e pasto, bem-estar animal, regulação hídrica, diversificação de espécies de plantas e raças de animais e condições corretas de trabalho.

Em pastagens e solos agrícolas bem cuidados, a capacidade de sequestro de carbono é muito grande. No Brasil, o fato de só 15,6% do gado estar confinado, segundo dados de 2022 da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, é um ponto a favor. O índice chega perto de 65% nos EUA e Europa. Animais e seus dejetos emitem gases de efeito estufa (GEE), e se confinados, mais ainda dado o aceleramento de seu ciclo.

Soma-se a isso o sistema de produção tropical, em que não faltam chuva, luz, temperatura. Nesse cenário, as possibilidades de remoções de carbono e compensações são maiores. “Eu vejo isso como uma situação global de vantagem para nós”, diz Alexandre Berndt, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Sudeste.

O pesquisador ressalta que têm chance de adoção maior as tecnologias de relação ganha/ganha, com aumento de produtividade por economia de custo ou aumento de produção por área e uso mais racional de insumos, o que consequentemente proporciona um resultado mais sustentável.

“Uma das tecnologias que levamos à COP28 foi a da remoção de carbono nos troncos das árvores, que compensa muito as emissões dos gases causadores do efeito estufa e fazem parte do sistema ILPF, ou integração lavoura-pecuária-floresta. É uma estratégia que utiliza tudo o que é possível dentro da área da fazenda para equilibrar a balança ambiental”, diz.

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