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Por Claudia Penteado — Para o Valor, do Rio


A ativista climática Greta Thunberg, no centro, participa de uma manifestação da organização liderada por jovens chamada Aurora, em Estocolmo, Suécia — Foto: Christine Ohlsson/TT News Agency via AP
A ativista climática Greta Thunberg, no centro, participa de uma manifestação da organização liderada por jovens chamada Aurora, em Estocolmo, Suécia — Foto: Christine Ohlsson/TT News Agency via AP

Enquanto Greta Thunberg segue firme no seu propósito como ativista climática - recentemente, foi detida em uma manifestação em Londres, por estar bloqueando junto a dezenas de manifestantes as entradas do hotel onde acontecia o Energy Intelligence Forum -, a maior parte da geração à qual ela pertence parece ter sido tomada por uma espécie de apatia. O estudo da Kantar “Who cares? Who does?”, que ouviu em 2022 mais de 60 mil pessoas de 35 países, com foco na sustentabilidade e no comportamento do consumidor da América Latina, observou pela primeira vez desde 2019 uma queda entre os chamados “Eco Ativos” - pessoas mais conscientes em relação ao meio ambiente- e um aumento entre os “Eco Dismissers”, aqueles não estão engajados com a sustentabilidade.

Foi pouco depois de Greta ganhar o mundo, em 2018, com seu ativismo pouco usual entre a geração Z, que o termo “ansiedade climática” se popularizou, especialmente entre jovens. Um outro estudo da Kantar, feito em 2021 com 10 mil crianças e jovens em dez países, identificou que quase 60% deles sentiam-se “muito” ou “extremamente” preocupados com as mudanças climáticas, Mais de 45% relataram que os sentimentos em relação ao tema afetaram negativamente suas vidas diárias.

Mas entre a sensação e a prática, há um abismo que parece ter se tornado quase intransponível para essa geração. Segundo o antropólogo Michel Alcoforado, estudioso da geração Z, esses jovens têm consciência de que as crises que o mundo vive foram criadas pelas gerações que vieram antes, sobretudo a dos Baby Boomers (nascidos entre 1945 e 1964). Diante disso, há uma sensação de completa impotência e uma lógica de completa liberação com as questões ambientais. “Eles amam a Greta por sua posição dentro do cenário público e porque ela é recebida pelos maiores chefes de Estado. Não é necessariamente pela causa ambiental que ela é admirada pelos jovens”, analisa.

Alcoforado afirma ainda que, diante de um mundo que “vai acabar”, onde não há futuro, o consumo se tornou um elemento de gestão de saúde mental - que tem feito as pessoas comprarem como nunca, como estratégia para se sentirem melhor. Isso ficou especialmente claro em um estudo realizado no ano passado pela sua empresa, o Grupo Consumoteca, que mostrou que, na América Latina, os jovens brasileiros são os mais consumistas. “Nunca se comprou tanto, especialmente de marcas chinesas como Shein e Shopee ”, destaca. Não é que essa geração não se preocupe com a questão ambiental e climática: ela crê que esse não é um problema dela, avalia. “Eles acham que o problema está no colo dos governos, dos presidentes, e das empresas.”

Admiração por Greta não está necessariamente ligada ao ambiente”
— Michel Alcoforado

Carolina Boniatti Pavese, professora do curso de relações internacionais e coordenadora do núcleo de estudos e negócios europeus na ESPM, diz que a geração de Greta Thunberg já nasceu dentro da realidade da agenda climática, ao contrário da anterior, que teve contato com ela ainda incipiente. É uma geração que nasce com algumas agendas desenhadas - como clima, feminismo e combate ao racismo - e vai se conscientizando de maneiras diferentes. São temas naturais, porque estavam postos.

“O que percebo lidando com as classes A e B dessa geração é que há uma ignorância muito grande. Falta conscientização do problema como um todo, há uma repetição de jargões generalistas”, afirma a professora. “De uma maneira geral, não há engajamento sério com a agenda do clima. Há uma preocupação maior com a imagem e a aparência, com o vínculo a algumas agendas de maneira superficial e passiva, que não se traduz em ações, ou se traduz em poucas.”

Segundo Pavese, estudos que provam que o consumidor está disposto a pagar mais por produtos sustentáveis estão equivocados, porque registram somente a intenção, e não a realidade. “É uma geração que não quer ter carro, mas usa Uber, não perde o conforto. Quer viajar, quer o iPhone último tipo. E consome mais do que as gerações anteriores, porque tem mais opções que as outras jamais tiveram. A pandemia provou a força do individualismo e do desejo de não fazer concessões”, destaca.

Uma pesquisa da Forrester (Forrester’s Green Consumer Segmentation) realizada este ano na Europa mostrou que a geração Z é paradoxal: há uma dissonância e talvez mesmo uma batalha interna permanente entre fortes valores morais e expectativas básicas por experiências instantâneas sob demanda e sem falhas. Como resultado, suas preocupações com as mudanças climáticas nem sempre se traduzem em comportamentos de compra apropriados. Sim, são consumidores que se preocupam com as mudanças climáticas, mas ao fazer compras, valorizam a conveniência e o preço em detrimento da sustentabilidade ambiental.

“A maior parte da geração Z hoje diz que quer mudar o mundo, mas não arruma o próprio quarto”, costuma dizer o consultor Jaime Troiano, na visão de quem esta dualidade - especialmente em relação à agenda climática - está presente em todas as gerações, não só a Z. Mesmo dentro das empresas, avalia, a agenda ESG tornou-se estratégia de marketing, valorizada na medida em que projeta uma “imagem de marca preocupada com o futuro do planeta”.

Pesquisas mostram que a geração Z tem maior probabilidade do que qualquer outra de se envolver com marcas sustentáveis. Por outro lado, é a menos propensa a praticar comportamentos ecológicos básicos, como reciclar ou monitorar o uso de energia dentro de casa, segundo a Forrester; um retrocesso em relação à geração anterior.

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