O hidrogênio verde tem despertado maior interesse da indústria e de pesquisadores por conta da sustentabilidade da produção, já que não emite gás carbônico e usa fontes renováveis. Porém, o H2V ainda é considerado pouco competitivo frente a combustíveis fósseis ou mesmo a outros tipos de hidrogênio, como o cinza, obtido principalmente da queima do gás natural. Projeção da Bain & Company indica que o H2V só vai ficar mais acessível entre 2028 e 2030, quando deve custar (sem impostos) de US$ 1,8 a US$ 2,1 por kg. Hoje, sua produção no Brasil ficaria entre US$ 6/kg a US$ 8/kg, mais que o dobro do hidrogênio cinza, cujo quilo custa de US$ 1,40 a US$ 3.
Atualmente, cerca de 70% do custo de produção do H2V vem da energia elétrica, diz Luis Viga, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV). Em média são necessários 56 kWh para cada kg do gás. A entidade defende a concessão de incentivos temporários para desonerar a energia elétrica e fomentar a produção do combustível limpo. “Se você quer atacar o principal custo do hidrogênio verde, tem que atacar a energia elétrica”, afirma Viga.
Luiz Antonio Mello, head de vendas da thyssenkrupp Uhde para o Brasil, observa que muitos projetos de H2V no Brasil dependem de investimentos em infraestrutura de transmissão de energia, pois as plantas industriais demandam potências muito altas concentradas em um único ponto de consumo. O chamado “custo fio” acaba sendo relevante. Projetos em localidades com infraestrutura de transmissão já disponível, tais como polos industriais e portos, levam vantagem no curto prazo.
O financiamento por meio de blended finance, quando se combina fontes diversas de recursos financeiros, é uma alternativa para viabilizar projetos de H2V, diz Rosana Santos, diretora-executiva do Instituto E+ Transição Energética. Outro caminho para diminuir custos com eletricidade é melhorar a eficiência dos eletrolisadores, responsáveis pela quebra das moléculas. A ideia é seguir o que ocorreu em outras produções.
“A energia eólica começou com turbinas com eficiência que entregavam menos de 1 MW. Hoje, há turbinas com 6 MW”, explica Viga. “Qualquer tecnologia que é intensamente usada passa por um processo de evolução”, complementa Santos, lembrando que os primeiros aerogeradores tinham pás pequenas e eram muito menores e menos eficientes que os atuais. “Isso pode acontecer também com os eletrolisadores”, afirma.
Também se estuda o uso de metais não-nobres nos eletrolisadores, em substituição a materiais como a platina, que tem alto custo e baixa disponibilidade, lembra Felipe Dalla Vecchia, coordenador do Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) da PUC-RS. “À medida que a tecnologia tenha uma maturidade maior, a tendência é que o custo de capital e tecnológico seja reduzido”, afirma Vecchia.
É preciso ainda ganho de escala na produção do hidrogênio verde para deixá-lo mais barato, entendem consultores, empresários e pesquisadores da área. “Quanto maior a escala, mais barato é o custo dessa energia. E quanto mais os eletrolisadores se tornarem mais baratos, maior a escala de produção e mais madura a tecnologia vai ficando”, explica Ricardo Assumpção, sócio-líder de ESG para a América Latina Sul e CSO (chief sustainability officer) da consultoria EY Brasil.
“À medida que eu aumento a escala, obviamente o custo da produção e de toda a tecnologia embarcada para gerar o hidrogênio vai cair”, completa Leandro Bertoni, vice-presidente da divisão de power systems da Schneider Electric para a América do Sul.