![Michelon: “Na pandemia, enquanto o sistema financeiro cresceu 5%, o cooperativismo avançou entre 35% e 40%” — Foto: Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/Fka_dEDVGGXcoZ8WmgunnshXBZM=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/H/3/9XoHcQSLmFIjUUOh7bMw/foto05rel-201-bancos-f2.jpg)
Com uma taxa de crescimento anual de 20% nos últimos dez anos, as cooperativas de crédito veem espaço para manter esse ritmo em 2024 e 2025, independentemente dos indicadores macroeconômicos. Na contramão dos bancos tradicionais, que fecham postos de atendimento físico, as cooperativas abriram 1.010 agências de 2020 para cá e já somam mais de 9 mil unidades. Elas já estão em 55% do território nacional; e, em mais de 330 cidades, as cooperativas são a única instituição financeira presencialmente instaladas.
Para especialistas, ainda há muito a se explorar nesse modelo de negócios, cujo público preferencialmente é composto por micros, pequenos e médios empresários, produtores rurais e pessoas físicas de cidades distantes e que primam por atendimento presencial.
“Se fizer um sobrevoo no sistema de crédito nacional para ver a atuação do conjunto [das instituições financeiras], daria para ver lacunas [de atendimento], como no crédito a pequenos produtores rurais. É difícil fazer análise digital. Precisa ver a propriedade e verificar o que precisam localmente”, afirma Marco Aurélio Almada, diretor-presidente do Sicoob, uma das duas maiores cooperativas do segmento, para quem o segredo do negócio é ter um olhar voltado para as comunidades locais. Com mais de 8 milhões de cooperados, o Sicoob está presente em todos os Estados e no Distrito Federal e oferece, além de crédito, todos os serviços financeiros de um banco - até a adquirência - e conta com 4,6 mil pontos de atendimento.
Almada destaca ainda o financiamento das micro, pequenas e médias empresas, onde o executivo vê dificuldade de atuação dos bancos, pois nem sempre essas empresas têm todos os atributos exigidos por eles. “Já a cooperativa, por estar no território, consegue enxergar as lacunas de maneira mais orgânica do que o incumbente”, afirma. Ele lembra que, apesar do cooperativismo representar só 7% do total das transações de crédito do país, concentra 20% da carteira de micro e pequenas empresas e 22% do agronegócio e de pessoa física. (desconsiderando o crédito habitacional e o consignado).
A carteira de crédito da instituição cresceu 23% no ano passado, para R$ 169 bilhões, sem considerar a cédula de produtor rural (CPR). Já o seu total de ativos atingiu R$ 298,4 bilhões, avanço de 25% sobre 2022. O Sicoob é uma das quatro cooperativas de crédito, entre mais de 830 existentes no país, se destacam pelo tamanho de suas atividades, ao lado do Sicredi - ambas são as maiores - e seguidas por Cresol e Unicred.
“Na época da pandemia, enquanto o sistema financeiro cresceu 5%, o cooperativismo avançou entre 35% e 40% na concessão de crédito. É na hora em que ele [o cooperado] mais precisa que estamos ali presentes”, diz Adriano Michelon, vice-presidente da Cresol. “São esses fatores que fazem com que a gente cresça acima da média do sistema financeiro há mais de 10 anos. A essência da proximidade e da sensibilidade, com a necessidade de ter alguém para conversar”, diz.
Também com cerca de 8 milhões de associados e avanço de 23,2% no total de ativos em 2023, para R$ 324,5 bilhões, o Sicredi avalia que uma das forças de seu negócio é o relacionamento. “A outra é a proximidade com os donos, que são os associados. Buscamos o que é melhor para o associado, o que faz sentido para ele e para a cooperativa. O objetivo maior é o social”, diz Alexandre Englert Barbosa, diretor-executivo de sustentabilidade, administração e finanças. “Vamos além dos serviços financeiros. Geramos renda, educação financeira e trabalhamos inclusive na formação nas escolas”.
Segunda maior instituição na concessão de crédito rural - mas com atuação forte também entre MPMEs -, atrás apenas do Banco do Brasil, e com ritmo de crescimento de 20% ao ano nos últimos 10 anos, o Sicredi registrou avanço de 23% nos empréstimos de janeiro a abril de 2024, ante o mesmo período de 2023, batendo em R$ 222 bilhões, considerando as transações com CPR. “Projetamos continuar neste ritmo até dezembro de 2024”, afirma Barbosa.
O crescimento dessas instituições se reflete nas comunidades onde estão. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), apontou que a presença de cooperativas impulsiona o PIB per capita de municípios menores em 5,6% e o empreendedorismo, em 15,7%. O levantamento realizado em 2019 comparou dados de 1.642 municípios que tiveram ou não abertura de cooperativas ao longo de 15 anos.
“Outra variável foi o emprego formal, cujo índice por habitante nos municípios com novas cooperativas de crédito aumentou 6,2%, no período analisado”, diz Alison Pablo de Oliveira, economista e pesquisador da Fipe e responsável pelo estudo. Segundo ele, o trabalho deve ganhar nova versão com dados atualizados nos próximos meses. “A atualização da pesquisa irá mostrar o salto que o cooperativismo de crédito deu de 2019 para cá, que, no período, aumentou em cinco vezes”, afirma Oliveira.