O movimento financeiro das 300 maiores cooperativas do mundo atingiu em 2020, em plena crise de covid-19, mais de US$ 2,1 trilhões. É o que indica o World Cooperative Monitor 2022, que coleta dados quantitativos anuais sobre o movimento cooperativo global. “Se fosse um país, o sistema cooperativo teria um dos dez maiores PIBs do mundo em 2020”, afirma Abdul Nasser, superintendente da Organização das Cooperativas Brasileiras do Rio de Janeiro (OCB/RJ).
O francês Groupe Crédit Agricole, que atua no segmento financeiro, se manteve em primeiro lugar no ranking de faturamento, com um volume de negócios de US$ 88,9 bilhões. Logo atrás aparece o grupo Rewe, do setor de comércio, e a Cooperative Financial Network Germany, de serviços financeiros, ambos da Alemanha, com US$ 77,9 bilhões e US$ 58 bilhões de movimentação financeira, respectivamente.
A quarta colocada no ranking é a japonesa National Federation of Agricultural Cooperative (ZEN-NOH), que atua no segmento de agricultura e indústrias alimentícias, com um volume de negócios em 2020 de US$ 57,6 bilhões. Completa a lista das cinco maiores a francesa ACDLEC Leclerc, do setor de comércio, com uma movimentação financeira de US$ 54,8 bilhões. Do Brasil, que tem nove cooperativas no ranking das 300 maiores, desponta o Sistema Unimed, do segmento de trabalho como atividade econômica, que ocupa a 31ª posição, com um volume de negócios de US$ 14,8 bilhões.
O World Cooperative Monitor 2022 destaca ainda um ranking de volume de negócios sobre o PIB per capita. A liderança e o segundo lugar estão com duas cooperativas do segmento de agricultura e indústria alimentícia da Índia: a IFFCO, com receita/PIB per capita de US$ 2,765 milhões, e a Gujarat Cooperativa Milk Marketing Federation, com US$ 2,746 milhões. O Group Crédit Agricole é o terceiro neste ranking, com US$ 2,279 milhões. O Sistema Unimed é o quarta colocado, com faturamento sobre o PIB per capita de US$ 2,182 milhões. O Rewe Group fecha a lista das cinco maiores com uma movimentação financeira sobre o PIB per capita de US$ 1,684 milhões.
Entre as 300 maiores por volume de negócios, 101 são do setor de seguro, 100 de agricultura e indústria de alimentação, 59 de comércio, 26 de serviços financeiros, 9 são cooperativas industriais, 3 de educação e 2 de outros serviços. Os Estados Unidos lideram a lista de países com mais cooperativas: 71. Na sequência aparecem França com 42, Alemanha (31), Japão (22), Holanda (17), Itália (14), Dinamarca e Finlândia (10 cada) e o Brasil, com 9 cooperativas.
Para além das estatísticas econômicas, o World Cooperative Monitor 2022, com base em dados de 2020, apresenta um capítulo centrado na digitalização. Para oito, de cada dez cooperativas, é essencial o uso de ferramentas digitais para a venda de produtos e serviços. Uma a cada dez das grandes cooperativas pesquisadas, porém, ainda se considerava pouco digitalizada, apesar dos investimentos.
“Há necessidade urgente de remodelar digitalmente os negócios para que as cooperativas sejam competitivas globalmente”, afirma Eduardo Maróstica, professor do MBA de empreendedorismo e novos negócios na Fundação Getulio Vargas.
O número de cooperativas brasileiras tem evoluído, mas no monitor global poucas ainda se destacam. Das 300 maiores, além do Sistema Unimed, aparecem Coopersucar (60º lugar), Coamo (126º), Sicoob (137º), Sicredi (142º), Cooperativa Central Aurora de Alimentos (156º), C. Vale (183º), Cooperativa Agroindustrial LAR (199º) e Comigo (Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano, 272º).
Dados do Anuário Coop 2022, da Organização das Cooperativas Brasileiras, indicam que o país tem 4.880 cooperativas, que reúnem 19 milhões de associados. Mais de 64% da agropecuária, de acordo com a OCB, passam por cooperativas. O segmento de crédito já representa 11% dos serviços financeiros. O cooperativismo nacional também se destaca nos setores de saúde, transporte e de catadores de lixo. O sistema movimenta por ano mais de R$ 600 milhões, ainda de acordo com a OCB. Em 2021, os ativos das cooperativas brasileiras alcançaram a marca de R$ 784,3 bilhões. Os números só não são maiores porque, ao contrário dos países em que o cooperativismo se destaca, no Brasil é vedado ao sistema atender o setor de seguros.