As cooperativas de tecnologia e inovação têm muito espaço para crescer no país. Elas surgiram no final da década de 1990 e ganharam força a partir de 2010, segundo Priscilla Silva Coelho, analista técnico-institucional do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), entidade que fomenta o cooperativismo no país. “Atualmente, temos 17 cooperativas na área de TI, em oito Estados.”
Segundo a especialista, o modelo de negócio das cooperativas do segmento é pautado na gestão coletiva e de colaboração do trabalho, com foco no retorno econômico ao cooperado e no fornecimento de serviços especializados. “O objetivo é levar soluções com usabilidade para os clientes.”
Coelho diz que os serviços das entidades abarcam nichos diversos, como o desenvolvimento de softwares e aplicações de segurança da informação, computação em nuvem e análise de UX (experiência do usuário, do inglês).
Apesar da amplidão de especialidades, a executiva do Sistema OCB ressalta que as cooperativas enfrentam desafios no dia a dia. “Há falta de conhecimento [do mercado] do formato cooperativo, aliada a [uma cultura de] TI ‘fragmentada’, com restrições à livre circulação de serviços e talentos.”
Na visão da especialista, a necessidade de transformação digital pode levar as cooperativas a aproveitarem novas oportunidades de negócios. O investimento global no setor de transformação digital deve se aproximar de US$ 6,8 trilhões este ano, diz, baseada em dados da companhia de inteligência de mercado IDC. “Em 2022, as organizações aceleraram em 70% o uso de tecnologias on-line.”
Quem garante que já está surfando nessa onda é a Koopere, fundada em São Paulo, em junho de 2021. Em dois anos, o cadastro de cooperados passou de 175 para 850 nomes, segundo o presidente Clauber Valle. “A meta é dobrar de tamanho em um ano.”
Valle diz que os profissionais estão localizados em 23 Estados e no Distrito Federal. A maioria (75%) é homem, com idade média de 34 anos e 98% têm formação em TI. A fim de atrair mais integrantes, a cooperativa oferece benefícios como seguro de vida e parcerias com instituições de ensino para programas de atualização. Os membros pagam R$ 50 de adesão, mais um valor referente às vantagens que preferem usufruir, explica.
Especializada no desenvolvimento de aplicações, a Koopere acumula 58 clientes e têm se dedicado a contratos de automatização e criação de robôs. “Os cooperados são alocados nos projetos conforme perfil, experiência e custo por hora”, detalha.
Valle explica que, apesar da alta demanda por profissionais de TI, as cooperativas do ramo não escapam de entraves. “Diferentemente das cooperativas de agro e de crédito, o mercado não aceita bem o cooperativismo de trabalho, por desconhecimento e receio da falta de compliance trabalhista”, diz.
Segundo os especialistas, parte dos potenciais contratantes desconhece que uma cooperativa pode realizar as mesmas tarefas, com conformidade e prazo, das empresas tradicionais de serviços de TI.
Elza Cançado, diretora de relacionamento e negócios da Coopersystem, criada em Brasília (DF) em 1998, diz que as equipes de desenvolvimento de software da cooperativa acumularam anos de experiência para fornecer soluções personalizadas. “Atuamos com práticas de desenvolvimento comprovadas por certificações como a MPS.BR [fornecida pela Associação para a Promoção de Excelência do Software Brasileiro (Softex)]”, detalha.
O total de membros da Coopersystem passou de 23, no ano de fundação, para 400. Um dos formatos de trabalho funciona como fábrica de soluções, com entrega sob demanda. A remuneração dos cooperados, segundo a diretora, é baseada em um plano de cargos e de valores de produção, com diferentes níveis de senioridade.
Cançado diz que um dos últimos projetos entregues incluiu a rastreabilidade de produtos de um fornecedor do agronegócio, com o apoio de um aplicativo e recursos de blockchain. A Coopersystem tem mais de 20 clientes ativos.
Uma das principais vantagens de ser um cooperado, diz a executiva, é estar sempre inserido na área de TI, com acesso à atualização permanente. Os “sócios” da cooperativa recebem benefícios como auxílio alimentação e bonificação por “tempo de casa”.
Na visão de Tiago Enrique Rodrigues e Silva, presidente da Ticoop Brasil, de Curitiba (PR), o setor pode ganhar tração com mais divulgação. “A organização confere ao profissional uma maior representatividade.”