Cooperativismo
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Por Lúcia Helena de Camargo, Para o Valor — São Paulo


Tânia Zanella, da OCB: "Sabemos que a evolução da participação feminina ainda é um grande desafio nas corporações, incluindo o cooperativismo” — Foto: Divulgação
Tânia Zanella, da OCB: "Sabemos que a evolução da participação feminina ainda é um grande desafio nas corporações, incluindo o cooperativismo” — Foto: Divulgação

As mulheres são 40% entre os 18,8 milhões de cooperados brasileiros, de acordo com Anuário do Cooperativismo Brasileiro de 2022, compilado pela Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). Embora exista um movimento contínuo rumo à equidade de gêneros, nos cargos de liderança a presença feminina é de somente 20%. “Sabemos que a evolução da participação feminina ainda é um grande desafio nas corporações, incluindo o cooperativismo”, diz Tânia Zanella, superintendente do sistema OCB. “Aqui já somos 70% de mulheres nos cargos de direção, mas queremos agilizar a pauta da equidade de gêneros nas cooperativas. Então, criamos núcleos femininos em todos os ramos”, diz.

Entre os sete ramos do cooperativismo (agropecuário; consumo; crédito; infraestrutura; saúde; trabalho, produção de bens e serviços e transportes), a liderança feminina é mais presente no trabalho de produção de bens e serviços (38%) e na saúde (25%). “Além de termos excelentes profissionais de saúde do sexo feminino, ambas as áreas são mais urbanas. Há uma dificuldade maior para avançar em áreas rurais e tradicionalmente mais masculinas, como agropecuário (17%) e os transportes (9%)”, analisa Zanella.

Eliana Medeiro é uma exceção. Atuando na agropecuária, um dos ramos com menor presença feminina, preside a Cooperativa Mista Agropecuária de Manacapuru (Coomapem), de Manaus (AM), há 12 anos. Ela começou na organização como estagiária no departamento de contabilidade há três décadas. Aos 51 anos, afirma que a liderança foi conquistada com “audácia e propósito”. “As pessoas não me davam crédito, porque eu era apenas uma jovem magrinha com ideias, mas eu enxergava oportunidades. Aos poucos mudamos as mentalidades mais conservadoras e diversificamos as atividades da cooperativa. E assim conseguimos transformar nossa história para melhor”.

A cooperativa, que completa 70 anos em setembro, surgiu para apoiar os ribeirinhos produtores de juta do Amazonas. Atualmente, reúne 243 cooperados, sendo 40% de mulheres, número compatível com a média nacional. Já nos cargos de liderança, o domínio é feminino: 80% dos membros da diretoria são mulheres. Segundo Medeiro, o rendimento médio do cooperado em 2010 era R$ 5 mil por mês. Foi aumentando ao longo dos anos, conforme novos produtos eram agregados à produção, como mamão, banana, maracujá, melancia, abóbora, macaxeira e guaraná. Hoje, o ganho fica na casa dos R$ 10 mil. O guaraná sozinho chega a render R$ 50 mil por safra para o produtor. “Em 2012, chegamos a movimentar, com os projetos governamentais, mais de R$ 1 milhão”, afirma a presidente. “E seguimos buscando capacitação, conhecimentos e parcerias, para abrir mais portas.”

A divisão focada nas mulheres da Organização das Nações Unidas (ONU) atua justamente no sentido de disseminar conhecimentos. “Ainda é pequeno o percentual de líderes femininas nas cooperativas brasileiras”, afirma Vanessa Sampaio, responsável pela área de empoderamento econômico da ONU Mulheres. “Atuamos na formação e no fortalecimento de organizações de mulheres.”

Aline Sousa, outro ponto fora da curva, preside a Central de Cooperativas de Trabalho de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop-DF), é secretária nacional da Secretaria Nacional da mulher e Juventude da Unicatadores, além de integrante da Cooperativa Reciclo e do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).

Hoje, com 33 anos, é catadora de recicláveis desde os 14 e está terceira geração de catadoras, seguindo os passos da mãe e da avó materna. Sua atuação rendeu o convite para ser uma das pessoas a colocar a faixa presidencial do presidente Lula. De acordo com ela, dados do MNCR apontam que 80% dos catadores do país são mulheres, no universo de um milhão de pessoas que fazem esse trabalho. Ela está envolvida em projetos de renda mínima para catadores, pela criação de campanhas de educação ambiental padronizada, entre outros, mantendo uma intensa agenda de reuniões com órgãos públicos e organizações privadas. “A batalha é diária: levamos as questões aos engravatados, para quem é difícil de entender como é ganhar R$ 250 por mês, a realidade de muitos catadores”, considera. “O cooperativismo traz em si a fórmula perfeita para combinarmos o necessário aumento nos índices de reciclagem com a geração de renda para quem mais precisa.”

Embora ainda não sejam produzidas no cooperativismo estatísticas específicas com recortes raciais ou sobre orientação sexual dos cooperados, Tânia Zanella, da OCB, afirma que a busca pela representatividade de todos os grupos é constante, inclusive, para melhorar os ganhos. Entre as pesquisas que comprovam que a inclusão traz resultados está a Diversidade de Gênero no Conselho e Inovação Corporativa: Evidências Internacionais, publicada no Journal of Financial and Quantitative Analysis, da Universidade de Cambridge, em 2021. Foram estudadas 12.244 empresas em 45 países entre 2001 e 2014, e a conclusão é que a obrigatoriedade das cotas de representatividade levou a aumento significativo de inovação, com mais registro de patentes e consequente crescimento de produção. “O cooperativismo não deixa ninguém para trás. Nosso modelo de negócio é baseado em gente. Vamos alcançando novos patamares, com respeito, sem descuidar da sustentabilidade econômica.”

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