Quatro em cada dez brasileiros que pagam plano de saúde são atendidos por médicos cooperados do Sistema Unimed. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) mostram que o país tem 50,7 milhões de usuários de planos e, destes, 19,5 milhões são clientes das 340 cooperativas que estão presentes em 95% dos municípios do país e contam com 118 mil médicos.
Não à toa, a Unimed Brasil ocupa o topo do ranking das 300 maiores cooperativas do mundo no segmento que inclui educação, saúde e trabalho social. Os dados estão no 11 informe anual do World Cooperative Monitor (WCM), produzido pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e pelo Instituto Europeu de Pesquisa em Cooperativas e Empresas Sociais (Euricse).
Mas o que leva médicos a unirem-se em cooperativa? De acordo com o obstetra Marcos de Almeida Cunha, diretor de gestão de saúde da Unimed do Brasil, eles buscam, entre outras coisas, segurança. “O mercado é incerto para médicos. Formam-se cerca de 30 mil profissionais por ano, que ficam à deriva, nas mãos de operadoras com foco em resultado financeiro, com pagamentos extremamente baixos. Então procuram um porto seguro”, diz. “As cooperativas médicas oferecem clientela e um valor médio acima do mercado”, completa, acrescentando outros benefícios, como aposta em tecnologia e inovação e a difusão de conhecimento aos cooperados.
Cunha afirma que a Unimed, que tem na rede própria 156 hospitais no país, além de outras estruturas de atendimento e 2,4 mil hospitais conveniados, não traçou metas para ocupar topos de rankings. “Não é algo que a gente persiga. Temos uma premissa: apostando em qualidade do serviço, no médio e no longo prazo temos bons resultados, mas se focarmos na economia, o resultado é sempre ruim”, comenta. O médico diz, ainda, que as cooperativas médicas não competem por meio de preço. “O nosso preço, em boa parte, tende a ser até um pouco maior que a concorrência e não perdemos mercado porque a qualidade é um diferencial.”
Nem sempre o resultado do balanço é positivo. Segundo o médico, é um negócio de risco, as cooperativas do sistema são independentes na gestão e, no pós pandemia, estão lidando para estabilizar a demanda por atendimento e os custos. O Sistema Unimed realizou 573 milhões de atendimentos médicos em 2022 e faturou R$ 86,1 bilhões, queda de 4% sobre 2021.
No ranking geral por volume de negócios do WCM, a Unimed aparece na 31 posição, mas não está sozinha na lista. Outras 21 cooperativas brasileiras, dos Estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo, fazem bonito. Está lá, na 60 colocação, a Copersucar, de São Paulo (SP), maior comercializadora de açúcar e etanol do mundo, que conta com 37 usinas associadas e, em junho, apresentou faturamento de R$ 69 bilhões na safra 2022/2023. Em 126 lugar aparece a Coamo, de Campo Mourão (PR), formada por 31 mil cooperados que, com recebimento e processamento de soja, milho, trigo e café, obteve receita de R$ 28 bilhões em 2022.
Como as cooperativas atuam em diversos segmentos, estão na primeira metade da lista duas cooperativas financeiras, Sicoob (137 ) e Sicredi (142 ). “Isso é resultado do trabalho que fizemos nos últimos 20 anos para que o Sicoob chegasse a um patamar de vanguarda no mercado, utilizando a inovação e a disruptividade para que o cooperativismo financeiro crescesse como cresceu no Brasil”, diz o diretor-presidente da Sicoob, Marco Aurelio Almada Abreu, acrescentando que a instituição nasceu em pequenas comunidades e atua em prol do desenvolvimento econômico e social das regiões em que está presente.
Entre as brasileiras, as cooperativas agropecuárias estão em maior número e, no meio delas, aparecem a catarinense Aurora e a goiana Comigo. As paranaenses são maioria na lista de faturamento sobre o PIB per capita, um dos critérios do ranking. Além de Coamo, estão lá C.Vale, Lar, Cocamar, Copacol, Agrária, Integrada, Castrolanda, Frimesa, Frísia e Coopavel. “Nossos cooperados jamais imaginariam que um dia poderiam participar, por meio da força e da união da cooperativa, de mercados nobres, sejam eles interno ou externo”, diz Airton Galinari, presidente executivo da Coamo, que vai inaugurar em breve uma fábrica de ração na qual está investindo R$ R$ 150 milhões. Estão previstos R$ 6,4 bilhões em investimentos pelas cooperativas do Paraná em 2023, o que inclui a finalização de investimento de R$ 1 bilhão que a C.Vale está fazendo em uma esmagadora de soja.
O WCM estuda o impacto das maiores cooperativas do mundo e mostra que, em 2020, elas movimentaram US$ 2,17 trilhões. A maioria atua nos ramos de seguros (101), agro (100), comércio (59), e serviços financeiros (26). O primeiro lugar geral é do francês Groupe Crédit Agricole. (MLI)