As preocupações com o aquecimento global e a necessidade de reduzir emissões se materializaram, ou estão no caminho de se tornarem realidade, em políticas que colocam o agronegócio no centro desse debate. “O mundo está se tornando mais protecionista. A pandemia e os conflitos geopolíticos mudaram a cara do comércio internacional. Em meio a esse quadro, há a preocupação legítima com as mudanças climáticas - e temos visto o aumento ou de regulamentos ou de discussões de normas que geram barreiras comerciais tendo questões ambientais como justificativa”, afirma Sueme Mori, diretora de relações internacionais da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).
Se há o temor de legislações restritivas pelo mundo e eventual uso de questões ambientais para disfarçar barreiras protecionistas, com os Estados Unidos a relação é de diálogo, diz a executiva. Uma situação diferente da União Europeia (UE), que baixou uma legislação considerada impositiva e unilateral que a partir de 2025, por exemplo, proíbe a entrada de produtos provenientes de áreas desmatadas, mesmo que sejam de desmatamento legal. “No Brasil, a legislação permite a abertura de áreas, dentro dos limites do código florestal”, lembra Mori.
Brasil e EUA ocupam o topo do ranking internacional de produção e exportação do agro. Segundo a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), com dados da Trade Map, em 2023 os americanos exportaram US$ 175 bilhões, e o Brasil, US$ 145,8 bilhões em produtos agropecuários. Os números mostram que o Brasil teria muito a perder num eventual cenário de protecionismo por parte dos EUA, que importaram US$ 26,1 bilhões em produtos brasileiros nos últimos cinco anos, segundo os dados levantados pela Amcham.
Em 2023, o Brasil vendeu para lá US$ 5,8 bilhões. Os principais produtos exportados foram café (19,5% do total), carne bovina (7,9%) e suco de laranja (7,8%). Na lista dos US$ 500 milhões importados dos EUA no período estão rações animais (16,2%), preparações alimentícias, (10,5%) e sucos e extratos de lúpulo (8,7%).
Segundo o secretário de comércio e relações internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Roberto Perosa, na questão ambiental, os dois países têm posições semelhantes. “Pensamos que não existe uma solução única para os problemas ambientais da produção; cada região tem o seu modo de praticar a sustentabilidade. E temos mantido diálogo com todos os países sobre o assunto, principalmente com Estados Unidos e UE”, afirma Perosa.
“Estamos sempre conversando com os americanos, para que nos escutem e não tomem uma medida unilateral”, conta Mori, da CNA. Segundo a executiva, o Brasil foi citado em um estudo americano que analisou possíveis caminhos para a questão e suas repercussões. “Qualquer discussão relacionada à cadeia de fornecimento livre de desmatamento tem o Brasil na centralidade, porque o país é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo e o que mais vende são produtos que vão para a cadeia, B2B”, diz a executiva.
Foi analisado se os EUA devem se encaminhar para algo punitivo. Uma das preocupações considera que proibir ou taxar produtos poderia elevar a inflação de alimentos. “O tema, na visão dos Estados Unidos, tem que ser tratado com outras ferramentas, como cooperação financeira e técnica em acordos comerciais”, diz Carolina Matos, gerente de relações Brasil-EUA e sustentabilidade da Amcham.