A chegada da primavera traz também mais alertas contra o tráfico de animais silvestres. Como é nessa época que muitas espécies se reproduzem, traficantes aproveitam para caçar filhotes e mesmo animais adultos, mais vulneráveis em função do cuidado com as crias. O Brasil, recordista em diversidade de espécies, é um dos principais alvos dos criminosos.
Segundo Dener Giovanini, coordenador geral da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), o monitoramento de grupos de mensagens dedicados a venda de animais silvestres registra nesta época aumento significativo de anúncios. Entretanto, a interceptação é difícil, em função da facilidade de anonimato possibilitada pelos meios digitais.
O tráfico retira anualmente da natureza cerca de 38 milhões de animais silvestres apenas no Brasil, segundo a Renctas. E de cada dez animais, apenas um sobrevive. O restante morre na captura ou no transporte. “O fluxo maior vem do Norte-Nordeste em direção ao Sul-Sudeste. Há mais procura em locais onde a biodiversidade de fauna é maior, como Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica”, afirma Giovanini.
Segundo dados do Ibama, foram apreendidos 62,7 mil animais em 2022. No ano anterior, foram 56,3 mil. Na opinião dos especialistas, porém, não há uma estratégia eficiente de combate ao tráfico. Na prática, traficantes pegos são obrigados a assistir a uma palestra ou doar cestas básicas.
Roched Seba, diretor do Instituto Vida Livre, comenta que os crimes de maus tratos ainda são considerados de baixo potencial ofensivo, independente do grau de maldade. “Decapitar uma onça, enfiar uma filhote de preguiça em uma mochila ou transportar 490 passarinhos morrendo de sede são crimes hoje insuficientes para se prender uma pessoa no Brasil”, lamenta. O instituto é um dos apoiadores o Projeto de Lei 4.278/23, apresentado ao Congresso em setembro, que torna mais rigorosa a pena em casos como esses.
Relatório da Renctas realizado em 2001, e que segue como referência, descreve três tipos de tráfico: para colecionadores particulares e zoológicos, para fins científicos (biopirataria) e para lojas/revenda. Entre os animais mais visados no primeiro caso estão pássaros como a arara-azul-de-lear, o mico-leão-dourado e a jaguatirica, todos na lista de espécies ameaçadas de extinção. No segundo, cobras, sapos, aranhas e até onças.
Jiboias, tartarugas, pássaros como tucanos, araras, periquitos e pequenos macacos como o sagui figuram entre os mais traficados como pets. Há também uma quarta via, para fabricação de materiais a base de couros, peles, penas, garras e presas, que sacrificam principalmente jiboias, lagartos, jacarés, lontras, ariranhas, onças, jaguatiricas, gatos-do-mato e até insetos. É comum que animais saiam do Brasil via países fronteiriços.