Biodiversidade
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Por Cláudio Marques e Paulo Muzzolon — Para o Valor, de São Paulo e de Maringá


Marcelo Montanari, que adota bioinsumos e agricultura sustentável em sua fazenda de café em Patrocínio (MG) — Foto: Divulgação/Montanari Agronegócios
Marcelo Montanari, que adota bioinsumos e agricultura sustentável em sua fazenda de café em Patrocínio (MG) — Foto: Divulgação/Montanari Agronegócios

Produtores rurais estão investindo em métodos capazes de reduzir custos, aumentar a produtividade e contribuir para a sustentabilidade e para a preservação ambiental. Na agricultura, produtos biológicos - como micro-organismos, extratos de plantas e substâncias naturais - vêm garantindo saltos de produção em culturas tradicionais, como soja, milho, cana-de-açúcar, café e hortifrutis. Na pecuária, práticas de manejo possibilitam o aumento do rebanho sem a necessidade de abertura de novas áreas, respondendo a demandas de mercados cada mais exigentes quanto ao desmatamento.

“Os bioinsumos podem aumentar o rendimento dos cultivos em até 20%. Também são capazes de melhorar o sabor, o aroma e a aparência dos alimentos. Reduzem o uso de defensivos agrícolas, como pesticidas, herbicidas e fungicidas e, assim, promovem a sustentabilidade da agricultura”, afirma Bruno Laviola, chefe de desenvolvimento e pesquisa da Embrapa Agroenergia. Plantas livres de pragas e bem nutridas produzem mais e ficam mais resilientes. “Produtos biológicos não mantêm ação só no controle de pragas e doenças; também conferem melhor enraizamento e produção de hormônios, que dão mais vigor e produtividade às plantas”, diz Amália Borsari, diretora de biológicos da CropLife.

Segundo pesquisa da McKinsey, 40% dos agricultores brasileiros usam produtos biológicos em mais de 30 hectares, o que os coloca à frente dos produtores de outros países. Nos 3 mil hectares de cereais da fazenda Flores, em Morada Nova de Minas (MG), o uso de bioinsumos ganhou força há três anos, quando nematoides (parasitas) reduziram a produtividade da soja para 60 sacas por hectare. Com os biológicos, a produção pulou para 90 sacas/ha em 2022, segundo Rodrigo Almeida, gerente do Grupo J. Mendes. “Não se pode conduzir uma cultura sem bioinsumos. É uma associação importante aos produtos tradicionais”, afirma ele.

Com 240 ha de café em Patrocínio (MG), o produtor Marcelo Montanari reduziu em 30% a aplicação de químicos ao aliar bioinsumos a práticas sustentáveis, como culturas de cobertura. Ainda economiza nos custos de adubação e controle de pragas, além de aumentar a produtividade e a proteção da biodiversidade. “Consigo 76% da demanda nutricional do meu café por meio da compostagem”, diz. As medidas lhe dão uma produção média de 12 mil sacas/ano.

Em área desmatada eu não consigo colocar tecnologia”
— Mauro Lúcio

Essa união de práticas sustentáveis e bioinsumos é capaz de reduzir o custo do agricultor de grãos em até 40%, segundo o presidente do Grupo Associado de Agricultura Sustentável (Gaas), Eduardo Martins. Outro incentivo para os biológicos vem do mercado financeiro. O Itaú BBA está dando descontos de 0,5% e 1% nas taxas ofertadas ao produtor e às revendas para empréstimos destinado a bioinsumos.

“A proposta de valor dos bionsumos ficou muito poderosa desde o pico das commodities, em 2020/21”, afirma Mikael Djanian, um dos responsáveis na McKinsey pelo estudo “A mente do agricultor brasileiro - 2022”, parte do Global Farmer Insights 2022. A consultoria aponta que esse mercado chegou a R$ 4,4 bilhões em 2022, o dobro de 2019. A Associação Brasileira das Indústrias de Bioinsumos (AbinBio) estima que o setor tenha 700 empresas e que o mercado chegue a R$ 7 bilhões neste ano - ou R$ 7,5 bilhões, segundo Edsmar Resende, membro do conselho da produtora de bioinsumos Agrivalle, ao se considerar a produção do próprio agricultor, como a compostagem do cafeicultor Montanari. Para a PwC, o valor pode chegar a R$ 14 bilhões até 2027.

Na pecuária, o produtor Mauro Lúcio Costa propõe uma disrupção para conciliar a preservação ambiental com a produção de gado na Amazônia. Ele conduz um projeto para aumentar exponencialmente a produção sem necessidade de abertura de novas áreas em sua fazenda Marupiara, no município paraense de Tailândia, com 360 hectares de soja, 180 de milho e 340 ha dedicados a um rebanho médio de 1.800 cabeças de gado - o que lhe confere uma produção que se aproxima de seis animais por hectare, contra uma média local que gira em torno de 0,8 cabeça/ha. “Mas para mim algo disruptivo é de oito para cima”, afirma.

Para chegar lá, Costa defende treinamento da equipe, adoção de práticas de bem-estar animal, manejo rigoroso para devolver a fertilidade do solo e um trabalho de observação da natureza para entender como o pasto se comporta, inclusive no combate a ervas daninhas. “O meu princípio é o da reciprocidade. A natureza me dá, eu devolvo para ela; aí ela vai e devolve para mim, e ficamos nesse ping-pong”, diz. Ele lembra que a genética animal melhorou muito no país, assim como a suplementação e cuidados sanitários. “Mas o manejo de pastagens, a fertilidade de solo, que é o que faz aumentar a taxa de lotação, não”, critica.

“No primeiro semestre, a média de produção da pecuária brasileira foi de quatro arrobas por hectare por ano. Tenho uma área-piloto que nos seis primeiros meses deste ano produziu 40 arrobas. Ou seja, produzi dez vezes mais na metade do tempo”, afirma. O método que desenvolve, diz, será capaz de permitir que pequenos proprietários se tornem pecuaristas de alto rendimento, sem necessidade de colocar uma árvore a mais no chão. “Em área desmatada eu não consigo colocar tecnologia. Não combina uma coisa com a outra”, afirma. “É muito melhor pegar uma área degradada para fazer isso, e muito mais barato.”

O projeto é conseguir uma produção muito intensiva em pequena área, com melhor eficiência dos recursos naturais. Com mais produção em área menor, o produtor destaca que seria possível reduzir o preço da carne na gôndola do supermercado, contribuindo para a redução da insegurança alimentar. E, ao mesmo tempo, entregar para mercados exigentes um produto capaz de promover a biodiversidade, por evitar a abertura de novas áreas; algo como um terroir amazônico. “A União Europeia quer a conta de desmatamento. Sabe o que eu vou dizer? ‘Eu vendo carne para você com biodiversidade.’”

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