Biodiversidade
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Por Janes Rocha — Para o Valor, de São Paulo


Juliana Tângari: “Há produção de ultraprocessados com incentivos errados e governos que permitem que sejam acessíveis” — Foto: Juliana Rossi
Juliana Tângari: “Há produção de ultraprocessados com incentivos errados e governos que permitem que sejam acessíveis” — Foto: Juliana Rossi

A produção de alimentos cresceu exponencialmente nas últimas décadas graças a inovações tecnológicas em fertilizantes, defensivos e sementes que maximizaram rendimentos de cultivos em diferentes ambientes ecológicos. Foi a chamada “Revolução Verde”, que teve início há quase 60 anos. Por outro lado, esse avanço acabou por padronizar grãos, frutas e vegetais - a exemplo do milho e da batata, com poucas variedades disponíveis nas gôndolas - e raças animais e limitar a alimentação humana, apesar da grande oferta de produtos nos supermercados.

Cerca de 90% do que a humanidade consome hoje tem origem em não mais de 15 culturas. E ainda: dois terços estão concentrados em nove produtos, dos quais apenas três, trigo, milho e soja, respondem por 50% da oferta. Os dados estão no artigo “Promoting Diversity in Agricultural Production Towards Healthy and Sustainable Consumption” (Promovendo a Diversidade na Produção Agrícola Rumo ao Consumo Saudável e Sustentável, em tradução livre), publicado em maio pela organização indiana Fundação para Pesquisa e Observação (ORF, na sigla em inglês) especialmente para o encontro do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo, realizado em setembro naquele país.

Esses produtos são também a base dos ultraprocessados - formulações industriais prontas para consumo -, que estão na mira de especialistas em alimentação. “O desafio não é produzir cada vez mais alimento, mas combater esse modelo baseado em ultraprocessados e conseguir uma dieta mais diversificada. E isso o mundo sabe fazer, não precisa de altas revoluções tecnológicas para chegar a esse resultado”, diz o economista Ricardo Abramovay, professor sênior do Programa de Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP), que assina o artigo com mais cinco coautoras.

Ele lembra que, durante 30 anos, desde a Revolução Verde até o fim do século 20, técnicas produtivas contribuíram para aumentar a produção, reduzir os preços e combater a fome. “Só que agora isso chegou a um gigantesco impasse. Não tem mais como continuar produzindo desse jeito globalmente, e meio que não sabemos direito como vamos sair dessa”, diz. Segundo Abramovay, trata-se de valorizar mais as práticas e rotinas alimentares locais e tradicionais e a diversidade, tanto na produção agrícola como na alimentação. “E o Brasil é um país que tem condições especialmente favoráveis para avançar nessa direção”.

Para a pesquisadora Juliana Tângari, diretora do Instituto Comida do Amanhã (ICA), é preciso enfrentar o padrão de consumo alimentar forjado na ideia de que comida boa é aquela rápida e ultraprocessada. A tarefa, porém, não é nada trivial porque a crise de segurança alimentar é “múltipla, complexa e interconectada”, argumenta a nutricionista e pesquisadora da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares, Saudáveis e Sustentáveis, da USP, Nadine Nunes-Galbes. “Vamos falar das ‘big food’, as grandes corporações que fornecem sementes e agrotóxicos”, pondera Nunes-Galbes.

Tângari acrescenta que, por outro lado, o momento é o mais propício para discutir o tema, tanto do ponto de vista internacional quanto do Brasil, já que cada vez mais se discute a biodiversidade. E a monotonia da paisagem agrícola, dominada por lavouras sem variedade e rebanhos uniformes, vem chamando a atenção dos especialistas em alimentação. “A agricultura é a maior causa da perda da biodiversidade”, afirma. Ela alerta, no entanto, para a tendência equivocada de olhar soluções apenas do ponto de vista da agropecuária, propondo uma visão sistêmica que inclua a demanda. “Há uma produção de ultraprocessados com incentivos errados à indústria e governos que permitem que eles sejam acessíveis economicamente, e também um hábito de vida que vai se criando em que é muito mais fácil consumir a comida pronta”.

Os efeitos dessa pouca variedade alimentar se refletem na saúde. Estudo realizado no Reino Unido a partir de dados alimentares de 197 mil pessoas e publicado na revista científica The Lancet constatou que o maior consumo de ultraprocessados aumenta o risco de câncer. No Brasil, o consumo desses alimentos cresceu em média 5,5% nos últimos dez anos, segundo artigo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens/USP) publicado na Revista de Saúde Pública da USP.

Apesar desse aumento, os ultraprocessados não são a base alimentar entre os brasileiros. Segundo a Avaliação Nutricional da Disponibilidade Domiciliar de Alimentos no Brasil, realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde em 2020 a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares, 49,5% das calorias disponíveis para consumo nos domicílios do país provêm de alimentos in natura ou minimamente processados. Outros 22,3% vêm de ingredientes culinários processados e 9,8%, de alimentos processados. Os ultraprocessados respondem por 18,4%.

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