Biodiversidade
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Carin Petti — Para o Valor, de São Paulo


Helena Lima, vice-presidente do Jaguar Identification Project: “Quem avista primeiro uma onça ainda não registrada tem direito de escolher seu nome” — Foto: Divulgação
Helena Lima, vice-presidente do Jaguar Identification Project: “Quem avista primeiro uma onça ainda não registrada tem direito de escolher seu nome” — Foto: Divulgação

No Pantanal há ao menos 345 onças-pintadas catalogadas pela ONG Jaguar Identification Project (JIP). Longe dali, mais de 23 mil ninhos de tartaruga foram protegidos em 2022 pelo projeto Tamar, responsável pelo monitoramento de 1.100 km de praias do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte, além de ilhas. No interior da Bahia, 52 ararinhas-azuis, antes extintas na natureza, vieram da Alemanha para repovoar a caatinga em projeto do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em Rondônia, a hidrelétrica Santo Antônio reproduz em laboratório peixes amazônicos.

Os projetos aliam pesquisa e iniciativas para conservação de espécies, às vezes com envolvimento de comunidades locais. No JIP, turistas, guias e pilotos de barco de Porto Jofre, no município de Poconé (MT), colaboram com pesquisadores na identificação de onças informando a localização quando avistam um animal. “Podemos estudar dados como território, movimentação, linhagem, comportamento e expectativa de vida dos animais ao longo dos anos”, afirma a veterinária Helena Lima, vice-presidente da JIP. “Quem avista primeiro uma onça ainda não registrada tem direito de escolher seu nome.”

Ela navega os rios duas vezes por dia para registrar animais, identificados pelas manchas, como a atrevida Marcela ou sua mãe, a tímida Medrosa. Não é difícil convencer guias e barqueiros a colaborarem com a pesquisa, diz. “O projeto traz turismo para a região, e turismo traz dinheiro.” São mais de R$ 50 milhões por ano gastos em hotéis e pousadas, estima o biólogo e coordenador da ONG Panthera, Fernando Tortato, autor de uma tese de doutorado sobre o impacto econômico da atividade na região.

Leia mais:

Mas se onças são bem-vindas por pousadas, nem sempre ocorre o mesmo entre fazendeiros que têm bezerros devorados pelos felinos. “Junto com a perda de habitat, a caça de retaliação realizada por produtores rurais é a maior ameaça às onças da região”, diz Tortato. Para reduzir os prejuízos e evitar a caça, a ONG orienta pecuaristas na proteção do gado, como remanejamento de animais mais jovens para áreas menos visitadas por onças e instalação de cercas elétricas. “Com diálogo, eles entendem que a preservação das onças evita a superpopulação de presas como capivaras ou porco do mato, que, em número excessivo, podem destruir lavouras.” A Panthera ainda orienta fazendeiros interessados em diversificar o negócio, abrindo as porteiras ao turismo. “Quem tentou não se arrependeu”, afirma.

Nem sempre, porém, o turismo colabora para a preservação. “A ocupação das praias é uma das principais ameaças à desova e aos ninhos das tartarugas”, diz Neca Marcovaldi, diretora nacional de conservação e pesquisa da Fundação Projeto Tamar. A organização faz acordos com hotéis para que retirem cadeiras das praias no fim da tarde, quando começa a desova, e protege os ninhos para evitar que sejam pisoteados. Ainda faz campanha para que as praias não recebam iluminação que possa desorientar as fêmeas durante a desova ou os cerca de 2 milhões de filhotes que nascem por temporada em seu rumo ao mar e orienta pescadores e empresas de pesca sobre tipos de anzol e técnicas para evitar a captura acidental da tartaruga.

Na Caatinga, as ameaças são tráfico de aves e destruição do bioma. Até o programa de reintegração, a última ararinha-azul havia sido vista na natureza no ano 2000. As 52 aves trazidas da Alemanha pelo ICMBio em 2020 foram mantidas em um criadouro em Curaçá (BA), onde aprenderam a se alimentar sozinhas e a se defender de predadores. Vinte foram soltas em 2022, e carregam um microchip e um radiotransmissor para monitoramento; quinze delas continuam vivas. “A meta agora é soltar mais cerca de 20 indivíduos por ano pelos próximos dez anos”, diz o biólogo responsável pelo projeto, Antonio Eduardo Barbosa.

A preservação ocorre também em laboratório, como o mantido pelo Programa de Conservação da Ictiofauna, da hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira (RO), onde a bióloga Marcela Tognetti estuda cinco espécies de grandes bagres amazônicos. “Analisando o comportamento dos peixes em diferentes condições, podemos determinar as melhores formas de preservá-los no reservatório da usina, isolando, por exemplo, as áreas mais propícias para reprodução”, diz ela. A bióloga já conseguiu reproduzir a piramutaba. A meta é ganhar conhecimento para a reprodução de grandes bagres, bastante pescados e importantes para a biodiversidade da região.

O programa já monitorou 7 mil peixes com marcação ou radiotransmissores. O objetivo é conhecer melhor os trajetos que fazem. Um peixe da espécie babão já foi encontrado a 1.800 km, conta. A hidrelétrica ainda mantém um canal que reproduz uma cachoeira que havia antes da construção do reservatório para que espécies possam seguir rio acima na piracema.

Mais recente Próxima Com reflorestamento, animais voltam à mata

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Criptomoedas acompanham mercado acionário após a divulgação do dado de inflação dos EUA de agosto

Bitcoin sobe e chega aos US$ 58 mil impulsionado por rali de tecnologia

Banco foi condenado, na primeira instância da Justiça, a restituir 50% dos prejuízos sofridos com a fraude

CEF deve indenizar cliente por movimentações fraudulentas e atípicas, mesmo com senha

Dois CEOs que aprenderam que o humor pode resolver disputas judiciais e ainda dar lucro

Quanto vale um lance bem-humorado?

Entre os empreendimentos estão a Tapada de Coelheiros, de Alberto Weisser, e a Fattoria Villa D’Ancona, que pertence à família de Bruno Levi D’Ancona, ambas na Europa

As  iniciativas bem-sucedidas de empresários brasileiros à frente de vinhedos no exterior

Filme da diretora Coralie Fargeat é um horror que testa limites e se alterna entre cenas que provocam aflição e outras que arrancam risos

‘A Substância’, filme com Demi Moore contra o etarismo, mostra uma Hollywood feia e decadente

Produto criado a partir de fonte renovável, biodegradável e compostável busca mercado enquanto aguarda criação de leis mais severas

O que é o bioplástico e quais são os empecilhos no Brasil para a substituição do plástico tradicional

Maximalista do estilo e defensora do exagero, Iris Apfel, referência da moda que morreu aos 102 anos, revela suas inspirações em livro póstumo

‘Mais é mais e menos é uma chatice’: as lições de sabedoria de uma influenciadora de moda centenária

Para 1ª Seção do STJ, tributação só ocorrerá no momento de vendas das ações, se houver ganho de capital

Corte afasta Imposto de Renda sobre stock options

É recomendado que as empresas do setor revisem seus procedimentos atuais e os tratamentos dados no passado em relação a eventual tributação dos royalties sobre sementes