Biodiversidade
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Por Eduardo Geraque — Para o Valor, de São Paulo


No início do século XX, a tentativa de construir no meio da Amazônia a ferrovia Madeira-Mamoré matou 1.552 trabalhadores só no Hospital da Candelária, ao lado da estrada Mais 6,2 mil morreram nas frentes de trabalho, em outros hospitais ou em seus países de origem - muitos vieram da América Central -, estimam pesquisadores. Na inauguração da obra, em 1912, quando a produção de borracha que escoaria pelos trilhos estava em decadência, a epidemia que por dez anos acompanhou a construção da ferrovia já era uma lição que deveria ter sido aprendida. E o mesmo vale para a pandemia de covid-19, que matou 705 mil brasileiros e que pode ter tido origem em um morcego asiático.

“Os tomadores de decisão, os políticos em geral e até mesmo a sociedade relutam em entender que saúde pública começa no controle dos danos ambientais”, diz o ecólogo Lucas Ferrante, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Para o pesquisador, a covid-19 mostra que é preciso conter saltos zoonóticos [doenças que passam de animais para o homem] que tendem a ocorrer quando florestas são invadidas. “Tanto pessoas quanto a economia foram afetadas. Conter uma nova pandemia global vai além de evitar uma nova crise de saúde pública”, defende.

Estima-se que a dengue gere um prejuízo de R$ 5 bilhões ao ano para o Brasil. A malária tem impacto anual ao sistema de saúde público de R$ 500 milhões, sem contar custos indiretos sobre qualidade de vida, perda de dias de trabalho etc. “O aumento da urbanização e do desmatamento, alterações climáticas locais, movimentação humana, comércios e pouca ou nenhuma infraestrutura urbana adequada favorecem a presença do Aedes aegypti”, diz Maria Anice Sallum, epidemiologista da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. E, portanto, de doenças associadas ao mosquito, como a dengue, a zika e a chikungunya.

“Não sei se seria possível evitar novas epidemias. Todavia, posso afirmar que devemos estar preparados para detectar a emergência ou a reemergência de novas epidemias. Ao interromper o curso natural delas podemos evitar que elas se dispersem”, diz Sallum. Áreas remotas, com infraestrutura de saúde limitada, insuficiente e precária, devem ser as mais atendidas. “Coincidentemente, nessas regiões estão populações mais vulneráveis e dependentes de recursos do governo e de decisões políticas que podem ser demoradas e enviesadas”, ratifica a cientista.

As crises anuais de dengue que pipocam pelo Brasil, ou a epidemia de zika de 2015 a 2016 no interior do Nordeste, potencializada pela água contaminada na região, são exemplos do descaso com arboviroses (doenças transmissíveis por mosquitos) no Brasil. A visão sistêmica do problema, além das características locais e regionais que ele apresenta, são fundamentais para o desenho das soluções, segundo Sallum. “Erradicar a pobreza extrema deve fazer parte de programas que visam prevenir novas epidemias, em especial as zoonoses virais. Assim como o empoderamento de mulheres e populações tradicionais para que colaborem nas tomadas de decisões.”

A evolução tecnológica não pode ser ignorada, segundo Ferrante, do Inpa. “Neste ano vamos começar a monitorar áreas sensíveis ao desmatamento na Amazônia por meio do DNA ambiental, técnica que investiga o material genético presente no meio ambiente e permite registrar presença e concentração de patógenos conhecidos e desconhecidos”, diz. São processos que podem identificar, o quanto antes, novas epidemias que possam surgir pela destruição da biodiversidade - fundamental para que não virem grandes, e destruidoras, pandemias.

Mais recente Próxima Solução passa pelo aumento dos índices de reciclagem

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