Quando o sitiante Nilson da Silva ouviu que havia um pedaço de Mata Atlântica de 610 hectares a cerca de 90 km de sua propriedade, na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, ele não acreditou. “Achei impossível existir área verde naquele forno”, conta. Mesmo assim, em 2016, resolveu conhecer aquela propriedade em Aimorés, região que até então só conhecia pelo calor e solo seco. “Fui lá conferir e encontrei o paraíso na Terra”, diz. O oásis tem nome: fazenda Bulcão, há gerações na família do fotógrafo Sebastião Salgado.
A propriedade já havia sido a área seca imaginada por Silva. “No fim dos anos 1990, meu pai herdou uma terra devastada e desnutrida, em que nada crescia”, conta Juliano Salgado, filho do fotógrafo e vice-presidente do Instituto Terra, criado em 1998 por seus pais para recompor a mata da região. “Há 25 anos minha mãe, Lélia, sugeriu que reflorestassem aquele lugar morto, e meu pai comprou a ideia.” Cerca de 3 milhões de árvores nativas foram plantadas, e mais de 7.000 ha de áreas degradadas estão em processo de recuperação. Uma fazenda de 344 ha foi comprada para esse fim.
Com a floresta, 172 espécies de aves, 33 espécies de mamíferos e 15 de anfíbios e répteis retornaram à fazenda - inclusive animais ameaçados, como a onça-parda, a jaguatirica e o papagaio-chauá -, segundo o instituto, que também cuida de nascentes. Já foram recuperadas 2.100 delas na região. A meta é, até 2027, restaurar mais 4.000 em 2.000 propriedades. O instituto recebeu € 13,1 milhões (cerca de R$ 70 milhões) do banco alemão KFW para o projeto e para a implementação de pelo menos 200 hectares de agroflorestas.
Silva está entre os cerca de mil produtores que tiveram apoio do instituto para recuperar nascentes e florestas. “Depois de conhecer a fazenda, me interessei pelo projeto e recebi a visita de um técnico que identificou seis nascentes no terreno.” Com orientação do profissional e mudas e arame doados pelo projeto, Silva cercou as áreas para evitar compactação do solo pelo gado e plantou árvores para reter umidade e evitar erosões. Oito reservatórios fazem a captação da água de chuva. “Em dois anos começou a jorrar água de onde não jorrava havia décadas”, diz.
Com o solo úmido, ele passou a criar 70 cabeças de gado. “Antes, conforme a época, não tinha nem água para os animais. O máximo que eu podia fazer era arrendar a terra de vez em quando para pastagem de 20 vacas na temporada de chuva.” Seu próximo plano é aproveitar o solo mais fértil para plantar milho junto com o capim.