Um boom de “startups da floresta” tem sido observado nos últimos anos influenciado por programas de aceleração a micro e pequenas empresas e por conta de uma regra fiscal concedida às empresas instaladas na Zona Franca de Manaus (ZFM).
Um desses programas de aceleração é o Inova Amazônia, do Sebrae, que teve 230 empresas participantes na primeira edição, focada na região amazônica e que destinou R$ 10 milhões em bolsas e ajuda de custo em viagens. O gerente de inovação do Sebrae, Paulo Renato Macedo Cabral, explica que a ideia era explorar o potencial da Amazônia com viés no desenvolvimento sustentável e na bioeconomia.
O programa atua para quem já tem uma empresa e para aqueles que estão com uma ideia no papel. Nesse caso, o Sebrae ajuda a modelar o projeto e analisar se há mercado, além de oferecer mentoria sobre como o empreendedor pode estruturar a empresa. “Abrimos contatos para ele validar se aquela ideia é passível de ser desenvolvida, até chegar em um protótipo do produto ou serviço”, afirma.
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Criada em 2017, a Saboaria Rondônia é uma das participantes do programa. A empresa começou com investimento inicial de R$ 152 e hoje já vende produtos para duas empresas parceiras de São Paulo - uma delas, uma multinacional. O faturamento aumentou 10% no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período de 2022. Hoje, a Saboaria Rondônia tem uma carteira com 17 produtos com uso de ativos amazônicos, como buriti e babaçu.
A fundadora da empresa, Mareilde Freire, afirma que o suporte do Sebrae cortou caminhos para fazer com que os produtos fossem comercializados e conhecidos em São Paulo. “Não adianta ter o melhor produto e ninguém saber que você existe”, diz. A empresa possui um e-commerce, porém, muitas vezes o consumidor não finaliza a compra por conta do frete alto.
Outra iniciativa é o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), idealizado pela Superintendência da ZFM (Suframa) e coordenado pelo Instituto de Desenvolvimento da Amazônia (Idesam). Por meio dele são captados recursos de investimentos obrigatórios para geração de novos produtos, serviços e negócios da bioeconomia amazônica.
Empresas de tecnologia e comunicação instaladas na ZFM precisam investir pelo menos 5% do faturamento bruto no mercado interno em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação por conta dos benefícios fiscais obtidos. Desse total, até 0,8% pode ser aplicado em negócios de impacto e startups com atividade principal na Amazônia Ocidental (AM, RO, AC e RR) ou no Amapá.
Participante do programa, a Darvore Cosméticos da Amazônia desenvolveu dois produtos com seiva da copaíba, árvore conhecida pelas propriedades anti-inflamatórias: um hidratante com manteiga de cupuaçu e outro com manteiga de tucumã, para controle da oleosidade da pele.
Criada em 2020, a Mahta aposta na venda de superfoods com ativos amazônicos, como um leite em pó feito de castanha-do-brasil e um mix de 14 ingredientes, entre eles, bacuri, cumarú, cupuaçu e bacaba. Há um ano no mercado, o mix já ultrapassou as 300 mil vendas por mês, o que é comemorado pelo sócio-administrador, Max Petrucci.
Já a BMV Global criou uma metodologia para pagar uma recompensa, chamada de Unidades de Crédito de Sustentabilidade (UCS), a produtores rurais que preservem o meio ambiente. Segundo a CEO da empresa, Maria Tereza Umbelino, 300 agricultores recebem valores e há mais de mil na lista de espera - hoje o valor de uma UCS é de R$ 144. A BMV conecta empresas interessadas em obter o título verde e produtores; 60% do valor da unidade de crédito fica com o agricultor, 30% com a BMV e 10% com investidores.
Outro programa é o Pró-Amazônia, que deve destinar R$ 4,5 bilhões a pequenos negócios. Com início previsto em 2024, a iniciativa é do BID e do BNDES.