Amazônia
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Por Sérgio Adeodato — Para o Valor, de São Paulo


A Amazônia se posiciona como vitrine global para o financiamento de soluções climáticas. O risco do “ponto de não retorno” - quando a degradação atinge níveis irreversíveis, causando graves danos à biodiversidade, às condições sociais e à economia - dá o tom da corrida por recursos. Da filantropia aos fundos privados de investimento, mercado de capitais, orçamento público e doações da cooperação internacional, o potencial de aportes em um novo modelo de desenvolvimento - segundo analistas, ainda longe do ideal - é crescente. E evidencia o desafio de fazer o dinheiro chegar diretamente para quem precisa no chão da floresta, sem ser diluído na burocracia ou no apetite de organizações intermediárias.

A retomada do protagonismo do Brasil na diplomacia, como anfitrião do encontro do G20 (grupo que reúne as principais economias do mundo) em 2024 e sede da COP 30, a conferência do clima, no ano seguinte, eleva o potencial de escala dos recursos. “É preciso aumentar a capacidade de cofinanciamento entendendo que, sozinhos, não seremos capazes”, afirma Tatiana Schor, chefe da unidade Amazônia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A instituição multilateral, sob o comando do brasileiro Ilan Goldfajn desde janeiro, se volta para a seara amazônica com mais poder político e novos recursos. O Green Climate Fund (GCF) tem US$ 240 milhões para crédito à bioeconomia nos países amazônicos via bancos de desenvolvimento. Mais US$ 54 milhões não reembolsáveis, doados por Alemanha, Holanda, Suíça e Reino Unido, se destinam a testar inovações na conservação da floresta, com repasse mínimo de 25% para populações tradicionais. Na última terça-feira (29), o governo da Dinamarca anunciou uma doação de cerca de R$ 110 milhões ao Fundo Amazônia.

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De acordo com Schor, a estratégia é criar condições pré-competitivas de modo que instituições financeiras entrem com segurança nos projetos amazônicos. “Seremos, cada vez mais, um banco de conhecimento. Não pela quantidade de recursos, mas pela qualidade do que impacta”, afirma a economista. “Há massa crítica e grande abertura para pensar a Amazônia em novos termos, com mais vozes de dentro da região”, complementa.

Uma aliança de 19 bancos, lançada na Cúpula da Amazônia, em agosto, em Belém, estima aportes de US$ 25 bilhões para a região. Na ocasião, o BID e o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) lançaram programa de US$ 900 milhões destinado a pequenos negócios e criação de empregos. “Precisamos transformar vantagens comparativas em vantagens distributivas”, defende Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES.

O Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES com doação internacional, tem R$ 3,4 bilhões livres para novos projetos e agora inclui repasses para municípios, no esforço de fazer os recursos contra o desmatamento chegarem aos territórios. Até hoje, o fundo desembolsou R$ 1,5 bilhão para mais de cem projetos.

No mundo, a diferença entre o valor atualmente gasto e o necessário para deter o declínio da biodiversidade até 2030 é estimada entre US$ 598 bilhões e US$ 824 bilhões por ano, segundo estudo da The Nature Conservancy (TNC). Os níveis de financiamento cobrem hoje apenas 19% da demanda, e a recuperação desse gap pode aumentar o fluxo financeiro para a Amazônia.

Há abertura para pensar a Amazônia em novos termos, com mais vozes regionais”
— Tatiana Schor

A consultoria McKinsey prevê a necessidade de investimentos verdes de US$ 9 trilhões ao ano (9% do PIB global) para o mundo atingir as metas climáticas em 2050. A participação do capital privado é crescente: operações de green bonds (títulos verdes), por exemplo, poderão atingir US$ 5 trilhões por ano em 2025, conforme meta da Climate Bonds Iniciative. Além de planos anunciados por EUA e União Europeia, há os US$ 100 bilhões anuais prometidos nas negociações do clima a países em desenvolvimento.

De acordo com a Climate Policy Iniciative (CPI), menos de 1% do financiamento climático global se destina a florestas. “Na Amazônia, além de infraestrutura adequada à realidade da região, há grande demanda por emprego: 29% dos jovens de 15 a 29 anos estão fora do mercado de trabalho, enquanto a média do país é de 18%”, diz Juliano Assunção, diretor executivo do CPI Brasil.

O Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) aprovou neste ano US$ 1,4 bilhão para garantir o uso sustentável da biodiversidade nos países em desenvolvimento, mas apenas doações são insuficientes. Na visão de Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getulio Vargas (FGV), a Amazônia não será salva com “caridade internacional”. “É preciso alcançar independência, com geração de renda e competividade na região”, diz.

“A filantropia ajuda na busca de um novo modelo econômico, mas o capital de investimento é que fará a diferença”, destaca André Guimarães, integrante da Coalização Brasil, Clima, Florestas e Agricultura.

O Plano Nacional de Vegetação Nativa (Planaveg), prevendo a recuperação de 12 milhões de hectares degradados até 2030, requer R$ 228 bilhões, segundo o Instituto Escolhas. Cerca de 2,5 milhões de hectares devem estar em restauração até 2026, por meio de investimentos como do Floresta Viva, programa que reúne R$ 800 milhões já comprometidos por BNDES e empresas - parte desse recurso irá para a Amazônia. “Para garantir a sustentabilidade das ações, o dinheiro para restauração precisa vincular bem-estar social e conservação”, diz Olavo Makiyama, especialista da TNC.

“A regulação do mercado brasileiro de carbono vai mobilizar maior volume de recursos internos”, completa Beto Mesquita, diretor de florestas e políticas públicas na BVRio. No PlanaFlor, plano voltado à implementação do Código Florestal, a previsão é mobilizar R$ 400 bilhões, um terço via Plano Safra e outros mecanismos de incentivo para propriedades rurais.

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