![Visitantes na edição 2023 da Agrishow; maior feira de tecnologia agrícola da América Latina começa nesta segunda — Foto: Maria Isabel Oliveira /Agência O Globo](https://s2-valor.glbimg.com/zk2SMQ_VZZi1L849zykwsYqbV1Q=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/b/c/HOguzpTMqJSMSjN2A6yA/foto29rel-101-agrishow-f6.jpg)
A quebra na safra brasileira de grãos somada à desvalorização das principais commodities agrícolas no último ano e à escassez de dinheiro subsidiado para financiar a compra de maquinários são os desafios da Agrishow neste ano. A maior feira de tecnologia agrícola da América Latina começa hoje em Ribeirão Preto e segue até sexta-feira (3) com o objetivo de pelo menos igualar o resultado do ano passado, quando gerou recordes R$ 13,2 bilhões em negócios, maior parte em vendas de tratores, colheitadeiras, pulverizadores, além de veículos, serviços e outras inovações para o campo. Se em 2023 o cenário dava suporte às compras, neste ano é completamente diferente e aponta para um comportamento mais retraído dos produtores.
Os preços de grãos despencaram ao mesmo tempo em que muitos colheram frustração no campo. Os efeitos do fenômeno El Niño no clima tiraram do Brasil mais de 23 milhões de toneladas da expectativa inicial de produção da temporada. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) previa uma colheita de mais de 317 milhões de toneladas no início da safra, mas a última atualização da estatal, do início de abril, aponta para uma produção inferior a 295 milhões de toneladas.
Não fosse a oferta mundial de grãos maior, os preços reagiriam para cima, mas o que aconteceu foi o oposto. Ao longo dos últimos meses, soja e milho, principais produtos cultivados nos campos brasileiros, acumulam queda de mais de 10% no Paraná, por exemplo, um dos maiores produtores nacionais. Em Mato Grosso, a desvalorização foi ainda maior e chegou a bater no menor patamar em três anos, de acordo com levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
“Será uma feira de sucesso, mas não deve ser recorde como em anos anteriores. A expectativa é positiva e teremos cem novos expositores [800 ao todo], o que sinaliza que o mercado aposta na feira. Mas a Agrishow não é apenas vendas, é um espaço de disseminação de tecnologia para o agro”, disse João Carlos Marchesan, presidente da Agrishow, durante encontro com jornalistas para o lançamento da edição deste ano, no início de abril. Algumas semanas depois, o executivo afirmou que seria ótimo se o resultado de 2024 fosse o mesmo de 2023.
“Se as commodities principais estão em alta, o produtor compra mais. Não é o caso deste ano. Se o cacau fosse a cultura agrícola mais importante do Brasil, a feira venderia 50% a mais porque o preço da amêndoa subiu 90% em um ano”, analisou o empresário sucroalcooleiro Maurílio Biagi, presidente de honra da Agrishow e único que chegou perto de acertar o recorde do ano passado.
As elevadas taxas de financiamentos de maquinários também compõem o cenário desafiador da feira deste ano, principalmente porque há uma perspectiva de queda dos juros no segundo semestre, para quando muitos produtores podem acabar deixando para decidir pela renovação ou não do parque de máquinas.
“Aquele produtor que depende de uma linha de crédito acaba sempre repensando no momento de trocar sua máquina. Somente quem tem capital próprio consegue fazer a troca imediata”, diz o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio Leite, sobre o desempenho negativo do setor em 2024.
A expectativa dos organizadores da Agrishow é receber em torno de 200 mil pessoas ao longo dos cinco dias de feira. Além disso, o evento deve injetar mais de R$ 500 milhões na economia de Ribeirão Preto. Um ano após o desgaste gerado pelo “desconvite” ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, os organizadores decidiram, pela primeira vez, antecipar a abertura da feira. A cerimônia oficial ocorreu ontem e para um público restrito a autoridades, jornalistas e expositores. A mudança atendeu a pedidos dos expositores, segundo a organização, que queriam ter um “tempo tranquilo” de contato com autoridades, já que nos anos anteriores precisavam se dedicar aos clientes ou “perdiam” meio dia de feira.
No ano passado, a rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, nos arredores do parque de exposições, teve longos congestionamentos. Visitantes se queixaram de passar até quatro horas no trânsito até chegarem ao local. Para esta edição, foram criadas estradas alternativas de terra para entrada e saída, o estacionamento VIP foi retirado da frente da portaria principal e não haverá mais entrada direta na área da feira para os carros que vêm da rodovia no sentido Ribeirão Preto-Sertãozinho. Os veículos nesse sentido terão que fazer retorno em Sertãozinho. Somente ônibus vindos dos estacionamentos do outro lado da rodovia e vans contratadas pela organização terão acesso direto à exposição.