A empreendedora Sheilane Magalhães produz queijo de coalho e creme de nata em Hidrolândia, no interior do Ceará. Está no negócio há 14 anos ao lado do marido, Edvando. O casal aposta na produção de queijos diferenciados, seguindo as receitas da família. Na linha, que chega a 210 unidades mensais, há queijo de coalho frutado, com ervas finas e um tipo de queijo maturado. Os planos de ampliar a produção esbarravam na produtividade do rebanho. “Peguei dinheiro emprestado no Banco do Nordeste para trocar as vacas”, conta ela. “Agora, as nossas 12 matrizes são de uma espécie mais produtiva.”
Sheilane conta que já fez três empréstimos no Banco do Nordeste. O primeiro, de R$ 5 mil, foi em 2017. Depois, um novo de R$ 3 mil. Mais recentemente, emprestou R$ 12 mil, tudo investido na troca do rebanho. “Substituir as matrizes foi fundamental para ter o queijo com a qualidade que eu pretendia”, explica a empresária. Como resultado, ela calcula que hoje cada vaca produz em média 18 litros de leite por dia - muito acima dos 5 litros por matriz do rebanho antigo.
O próximo passo, afirma Sheilane, é tomar crédito para a construção de uma câmara para a maturação de um dos tipos de queijo que fabrica, que precisa de umidade e clima ameno, diferente do que é comum no interior do Ceará. “Esse queijo é inspirado nos de Minas Gerais e precisa de maturação por 30 dias em um local fresco e úmido”, diz.
O Banco do Nordeste, instituição de fomento voltada para o incentivo à economia da região, concedeu R$ 5,67 bilhões para pequenos produtores no ano passado, 48% a mais que em 2022, em mais de 585 mil operações. Neste ano, de janeiro a março, emprestou R$ 1,9 bilhão, para mais de 160 mil empreendedores. Boa parte do que empresta para pequenos agricultores é para projetos de inovação. “O Agroamigo financia atividades geradoras de renda no campo, sejam agrícolas, pecuárias ou outras atividades não agropecuárias no meio rural, como turismo rural, agroindústria, pesca, serviços e artesanato”, afirma Luiz Sérgio Farias Machado, superintendente de agronegócio e microfinança rural da instituição.
O programa é destinado à digitalização da atividade do campo, energia solar, mecanização, itens de convivência com a seca e solução para problemas hídricos, crédito para mulheres e projetos agroecológicos e orgânicos. Nessa linha, os clientes não pagam tarifas para obter crédito e a taxa de juros parte de 0,5% ao ano. A exigência é que o agricultor seja cadastrado no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é outro banco de fomento que apoia a inovação do agronegócio. José Luiz Gordon, diretor de desenvolvimento produtivo, inovação e comércio exterior, conta que a área é prioridade, inserida entre as missões da política industrial do governo federal. “O banco tem uma linha chamada Mais Produção, com R$ 300 bilhões, sendo R$ 250 bilhões do BNDES e o restante da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos, agência pública que financia pesquisa e inovação], em que parte será destinada ao agro, com custo de TR mais 2% ao ano, além do spread, que podemos financiar máquinas e equipamentos inteligentes, digitalização do campo e atividades ligadas a projetos de descarbonização”, diz.
Do início de 2021 a março deste ano foram desembolsados mais de R$ 2,5 bilhões para projetos inovadores e de aumento de produtividade do agronegócio pelo banco. Nos três primeiros meses deste ano, já ultrapassam R$ 320 milhões. Uma das beneficiadas é a Be8, fabricante de biodiesel com sede em Passo Fundo (RS). O BNDES liberou R$ 729 milhões para que a companhia construa uma fábrica de etanol e farelo a partir do processamento de cereais - R$ 500 milhões foram provenientes do Mais Inovação. A adequação do investimento se deu pela construção de uma planta de biocombustível a partir de matérias-primas que ainda não haviam sido utilizadas para esse fim no Brasil.
Bancos privados também dedicam atenção à produtividade do agro. No Itaú BBA, a prioridade é para projetos inovadores, na adoção de melhores práticas, em governança e gestão de riscos. Segundo Pedro Fernandes, diretor de agronegócio do banco, a meta para este ano é destinar R$ 2 bilhões para projetos de inovação, contra R$ 1,5 bilhão em 2023. “São linhas para placas fotovoltaicas, melhoria de produtos com insumos biológicos acima da média nacional e até para a cobertura do solo”, diz.
No Bradesco, o foco é na produção de aves e suínos. “Fazemos parcerias com as indústrias de proteína animal para projetos de melhoria do sistema produtivo”, conta Roberto França, diretor de agronegócios da instituição. A linha pode chegar a R$ 500 milhões de desembolsos em 2024. A taxa de juros cobrada é de 10,5% ao ano, com prazo de até 10 anos. “Neste ano, já alocamos 25% do total da linha”, afirma. O Bradesco também atua no âmbito do Pronaf, de fomento à agricultura familiar, e conta com recursos de R$ 1 bilhão para essa linha.