Agronegócio
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Por Domingos Zaparolli — Para o Valor, de São Paulo


Fernando Golçaves, presidente da Jacto: “A taxa de juros está alta e restringe a capacidade de investimento” — Foto: Divulgação
Fernando Golçaves, presidente da Jacto: “A taxa de juros está alta e restringe a capacidade de investimento” — Foto: Divulgação

Após um primeiro trimestre fraco, com vendas 14,7% inferiores às do mesmo período de 2022, a indústria de máquinas e equipamentos projeta uma retomada dos negócios no segundo semestre. “Devemos repetir em 2023 o desempenho de 2022”, diz Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial Agrícola da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Em 2022, o faturamento do setor no segmento agrícola foi de R$ 90,6 bilhões, valor 1,8% superior ao do ano anterior. A Abimaq estima uma expansão na casa de 2% em 2023.

A aposta de retomada nas vendas está ancorada na projeção do anúncio, em junho, de um Plano Safra 2023/24 com recursos robustos para o financiamento de máquinas agrícolas. O setor pleiteia R$ 45 bilhões. O Plano Safra 2022/23 destinou R$ 11 bilhões. “Os recursos foram insuficientes, esgotaram em outubro”, diz Estevão. No crédito privado, taxas médias em torno de 17% não ajudaram as vendas. “O agricultor considera essa taxa excessivamente alta, se retraiu”, afirma Estevão.

As principais empresas do setor trabalham com um cenário de expansão dos negócios. A Valley, fabricante de pivôs centrais para irrigação, registrou queda de 30% em sua carteira de novos pedidos no primeiro trimestre. Para Cristiano Del Nero, presidente da companhia no Brasil, além do crédito caro e escasso, as incertezas políticas com a mudança de governo também afetaram as vendas. Mas a companhia já percebe sinais da retomada das atividades. “Estamos projetando um crescimento de 20% no ano. O agricultor passou a ver a irrigação como um aliado da produtividade”, diz Del Nero. Em 2022, o mercado brasileiro de equipamentos de irrigação cresceu 30% e faturou R$ 5 bilhões.

A AGCO, grupo que reúne as marcas Fendt, Massey Ferguson e Valtra, anunciou no início de maio investimentos de R$ 340 milhões para ampliar sua capacidade de produção no Brasil até 2024. Segundo Alexandre Stucchi, diretor de vendas da Massey Ferguson, a companhia tem notado uma busca cada vez maior no país por equipamentos modernos, dotados de sistemas de inteligência e conectividade.

“O agricultor percebeu que precisa renovar sua frota para continuar lucrando”, afirma Stucchi. Por volta de 40% dos tratores brasileiros e 50% das colheitadeiras possuem mais de 15 anos de uso e estão superados tecnologicamente. “Nossa proposta é oferecer equipamentos capazes de gerar ganhos de produtividade, conforto aos usuários e redução de impacto ambiental”, diz o executivo.

Uma inovação da companhia é a linha de motores a diesel AGCO Power Core, projetados para serem compatíveis com combustíveis alternativos, como etanol, metanol, biogás, gás natural e hidrogênio, permitindo redução de até 90% nas emissões de gases de efeito estufa. O motor é produzido na Finlândia. A previsão é iniciar a produção no Brasil em 2028.

A Jacto aposta na agricultura 4.0 com máquinas e equipamentos com dispositivos que permitem a gestão remota da operação e do desempenho e conectados a uma série de aplicativos com informações sobre clima, mercado e comunicação para transações B2B. Em 2022, a empresa faturou R$ 4 bilhões, com crescimento de 30% em valor e 20% em volume sobre o ano anterior. “Em 2023 teremos um bom ano, mas não devemos repetir a expansão do ano passado”, diz o presidente Fernando Gonçalves. “Os volumes de capital envolvidos na agricultura são enormes. A taxa de juros está alta e restringe a capacidade de investimento”, justifica.

Alfredo Miguel Neto, diretor de assuntos corporativos para a América Latina da John Deere, informa que a produção e as vendas de máquinas e equipamentos para a agricultura de precisão na região aumentaram no período de novembro a janeiro, e a expectativa para 2023 é de um ano positivo. A estratégia da companhia é a atualização constante de produtos, com a oferta de ferramentas de inteligência artificial, análise de dados, automação e gestão remota.

Uma dificuldade, no entanto, é a baixa oferta de infraestrutura de telecomunicações no campo. Para driblar o problema, a John Deere fez parceria com a operadora Claro para levar internet e conectividade ao campo. Já foram conectados 4 milhões de hectares, e a expectativa é ampliar em mais 3 milhões de hectares com a oferta de financiamento para agricultores dispostos a realizar investimentos próprios na infraestrutura de torres de telecomunicações.

A CNH Industrial, controladora das marcas Case IH e New Holland, aposta em um novo portfólio de soluções digitais para o campo, o AGXTEND, que oferece softwares de automação e manutenção programada e inteligência artificial nas máquinas, que atuam de forma conectada com sistemas de rastreamento por drones e sensores de mapeamento de solo. “O propósito é gerar mais produtividade e sustentabilidade para nossos clientes”, diz Rafael Miotto, presidente da CNH Industrial América Latina.

Mais recente Próxima Consórcio vira alternativa contra crédito escasso

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