![](https://s2-valor.glbimg.com/7bRfg4HKOA8RlHpq38-brBQKZtE=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/j/H/edwAitTj6Bij3bx4CGnA/arte15rel-201-extensa-f12.jpg)
Em abril, um incidente em Mauá da Serra (PR) reuniu produtores, pesquisadores da Embrapa e técnicos do Instituto de Desenvolvimento Rural (IDR) e da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar) para desvendar a causa da morte de abelhas de 300 colmeias. O evento mostra como a cadeia de assistência técnica e extensão rural atua para promover sustentabilidade no campo.
Apesar de sua importância, a área tem sofrido redução orçamentária: em 2015, a verba do Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pronater) chegou ao pico, com R$ 607 milhões. O valor regrediu para R$ 30,8 milhões em 2022. A perda tem sido compensada em parte pela atuação de cooperativas e organizações não-governamentais.
Nos últimos anos, o agrônomo Decio Gazzoni, da Embrapa Soja, mostrou os benefícios da interação entre a oleaginosa e a apicultura. A produtividade da soja nos locais em que há criação de abelhas é, em média, 13% maior. “Isso é lucro líquido para o agricultor, porque o método não exige que se gaste nada mais de insumos”, diz Gazzoni. Para o apicultor, o resultado também compensa. No mês de florada da soja, uma caixa de abelhas pode produzir 25 kg de mel, mais do que a média anual do país, de 19,8 kg por caixa.
Os achados da pesquisa foram transformados em um programa que inclui, além da Embrapa, o IDR e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-PR). O desafio dos extensionistas é levar ao agricultor o benefício de ter colmeias na propriedade e a necessidade de redobrar os cuidados com os agrotóxicos. Em Mauá da Serra, a perda das abelhas foi causada pelo inseticida fipronil.
No caso da cidade paranaense, a participação de uma instituição pública, o IDR, foi essencial, mas nem sempre o Estado está presente. “Assistência técnica e extensão rural não estão acessíveis à maior parte dos produtores”, diz Rodrigo Castro, diretor da Fundação Solidaridad, que atua em 40 países na sustentabilidade e inclusão social no meio rural. O último Censo Agropecuário, de 2017, mostra que 20,2% das propriedades receberam orientação técnica no ano. E há desigualdade regional: no Sul do país, 48,6% dos produtores tiveram assistência, ante 10,4% no Norte e 8,2% no Nordeste.
A assistência prestada por ONGs é incipiente - em 2017, 0,8% das propriedades recebiam auxílio por essa via -, mas elas têm trazido resultados em produção e preservação. A Solidaridad trabalha há oito anos em Novo Repartimento (PA), município que em 2010 constava como o terceiro que mais desmatou no país. O projeto começou com recursos da ONG suíça Good Energies Foundation, da Agência Norueguesa de Cooperação para o Desenvolvimento e do governo dos Países Baixos. Na segunda fase, recebeu apoio do Fundo JBS pela Amazônia e da Elanco Foundation, americana.
Os agricultores atendidos integraram o cacau à pecuária e foram incentivados a aderir à cooperativa Coopercau. “A renda das famílias aumentou em 30%, com 50% menos desmatamento. Hoje, 78% dos produtores atendidos não tocam mais no remanescente florestal. Aprenderam a ver a floresta como aliada”, diz Castro.
A fonte adicional de renda tem sido o argumento principal para oferecer alternativas sustentáveis aos produtores”, relata Natasha Choinski, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).
A ONG conta com projetos em três reservas florestais que administra no Paraná e expandiu seus métodos para cinco áreas vizinhas, com assistência técnica e a proposta de cultivar árvores frutíferas nativas. As frutas são vendidas in natura ou transformadas em doces, compotas e licores, com a ajuda de associações e cooperativas.
As cooperativas estão no coração do processo: têm nove mil extensionistas que atendem um quarto das propriedades do país. O produtor pode estar sequestrando carbono sem saber. Precisamos ajudá-lo a perceber as possibilidades”, diz Marco Morato de Oliveira, coordenador de Meio Ambiente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)
Um exemplo é a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que inclui o uso de sistemas produtivos distintos. Entre os pioneiros está a cooperativa Cocamar. A operação teve início no noroeste do Paraná, região de solos arenosos e com baixos teores de matéria orgânica. Ali a promoção de sistemas integrados começou em 1999, para produzir soja e milho em consórcio com pecuária e florestas. Eram oito mil hectares. Hoje, são 200 mil.
“O ILPF transforma regiões. Diminui o custo do pecuarista, que usa menos insumos e gasta menos em rações no inverno. Há melhora no bem-estar animal, porque o gado ganha áreas de sombra. Na soja, a mortalidade por alta temperatura cai”, afirma Emerson Nunes, gerente de ILPF na Cocamar.