Maior fabricante de papel para publicações da América Latina até há poucos anos - a única no Brasil -, a Bo Paper, controlada pelo grupo chileno Inversiones BO, foi obrigada a repensar totalmente o seu negócio, bem em meio à pandemia de covid-19. A demanda caía pela presença dos meios digitais. Era preciso mudar, e rápido.
A empresa decidiu se voltar principalmente a embalagens. Era preciso adaptar as duas fábricas no Paraná, em Arapoti e em Jaguariaíva, e reciclar toda a força de trabalho. Por isso, desde 2020 a área de pessoas assumiu papel de destaque, muito próximo da estratégia do negócio, a ponto de ganhar uma diretoria com poderes ampliados no fim de 2022. Se em 2020 e 2021 a sensação era de “trocar o pneu com o carro andando”, segundo Viviane Gonçalves, diretora de gente, cultura e sustentabilidade, 2022 exigiu um trabalho mais profundo. “Ficou claro: a transformação era inegociável, e precisávamos envolver mais gente para fazer a virada”, diz. Sozinhos, os líderes não dariam conta de transformar a empresa.
O primeiro passo foi reunir a liderança para discutir valores e identificar quais itens a empresa queria produzir dali para a frente e quais não serviam mais. A ideia era a de os líderes terem clareza sobre a cultura para fomentá-la e engajar os cerca de 600 funcionários na nova fase. Serviu também para diagnosticar outras necessidades, como melhorar o contato entre a área comercial e as demais e para aproximar as fábricas de outros stakeholders. Na ponta, a preocupação era garantir qualificação e atualização dos funcionários. “Eles sabem fazer papel-jornal com os pés nas costas, mas tudo muda quando se trata de embalagens”, diz Gonçalves. Em 2021 e 2022, as equipes foram treinadas nos novos processos fabris e em embalagens. Em 2023, passam pela Academia de Papéis Especiais, utilizados nos novos produtos.
Era preciso ainda pensar na sucessão desses profissionais. “Nossos processos exigem um conhecimento muito específico”, diz Gonçalves. “Ou trabalhamos com o público interno ou sofremos com a falta de mão de obra qualificada.” Surgiu assim o projeto Crescer, pelo qual jovens são contratados nas áreas de operação, qualidade e manutenção, e passam por treinamento teórico e prático. Isso permite liberar outros operadores de suas funções para serem treinados em posições acima. Há impacto na comunidade com a maior oferta de empregos e, internamente, a percepção de mais oportunidades.
Em 2023, os líderes ganharam um programa de formação em parceria com a Fundação Dom Cabral. Com duração de 18 meses, um dos objetivos é torná-los mais preparados para avaliar o mercado. “Nosso negócio é dinâmico. A cada três ou cinco meses precisamos virar a rota, ressignificar o portfólio e buscar novos clientes.”