DSem nenhum partido aliado na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o pré-candidato do PRTB, Pablo Marçal, disse nesta quarta-feira (10) que o União Brasil, com quem tem negociado, pede um “preço alto demais” para compor uma aliança e quer sua “alma”. Em sabatina promovida pelo Uol e pela “Folha de S. Paulo”, Marçal fez acenos a bolsonaristas, afirmou falar a “mesma língua” que o deputado federal Ricardo Salles, que não teve apoio do PL para concorrer na capital, e defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias.
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Ao falar de suas propostas, o pré-candidato disse ser contra a implementação da tarifa zero nos ônibus e defendeu a criação de um “cinturão de teleféricos” ligando favelas, para desafogar o trânsito da cidade. Propôs ainda investir no turismo nas comunidades pobres, transformando as favelas em polos “gastronômicos e turísticos” — apesar de admitir que só tem circulado nas favelas acompanhado de seus seguranças. Marçal falou, de forma genérica, que pretende tirar em até dois anos as cerca de 60 mil pessoas que vivem nas ruas na cidade e culpou as famílias das pessoas que vivem na Cracolândia pelo problema delas com o vício.
Pré-candidato de um partido nanico, Marçal tem procurado lideranças nacionais do União Brasil, partido que está na órbita do prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Na semana passada, o postulante reuniu-se com o presidente nacional da sigla, Antônio de Rueda, o dirigente ACM Neto e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Ao falar sobre a negociação com o União, no entanto, Marçal indicou ser alvo de uma “barganha” e ignorou o vereador e presidente da Câmara Municipal da capital, Milton Leite, principal liderança do partido em São Paulo. “O União é Rueda, ACM e Caiado”, disse.
“O União [Brasil] provavelmente vai andar com a gente. Só não selou porque está caro demais o pedido deles”, disse. Questionado sobre qual seria esse pedido, não detalhou. “O que eles estão me pedindo é caro para mim. É tipo a minha alma. Eu não quero entregar isso”. Marçal disse que se crescer nas pesquisas de intenção de voto, o “preço” do apoio “vai ficar mais barato”.
Na pesquisa do Datafolha, divulgada na sexta-feira (6), Marçal aparece numericamente em quarto lugar, com 10% das intenções de voto, e está empatado tecnicamente com Luiz Datena (PSDB), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (Novo). Na liderança estão o prefeito e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), com 24% , e Guilherme Boulos (Psol), com 23%.
Tarifa zero
O pré-candidato minimizou o impacto social da tarifa zero nos ônibus aos domingos, uma das principais bandeiras da atual gestão municipal. “O povo não quer ficar rodando a cidade no fim de semana. Imagino que quer descanso”, afirmou. Marçal é contra ampliar o passe livre para outros dias.
Ao ser questionado sobre o trânsito, defendeu a criação de “praça de empreendedorismo” nas favelas, para evitar o deslocamento de quem vive na periferia. “Não faz sentido não ter na comunidade uma oficina de costura. A gente fica arrastando essa multidão”, disse. Marçal defendeu ainda que a prefeitura saia da região central da capital paulista.
Ainda sobre o trânsito, o postulante do PRTB prometeu a criação de um “cinturão de teleféricos” interligando as favelas, “rasgando o céu de São Paulo”. “Sabe o que vai acontecer na cidade? Pela primeira vez na vida vai ver como anda na cidade de São Paulo sem pisar no freio”, disse, sem detalhar a proposta.
“Em vez de só se preocupar com tarifa de ônibus, vamos colocar esse teleférico, com Parceria Público Privada. Para os moradores vai ser gratuito e cobrado para quem for de fora de São Paulo. Vamos criar turismo nas favelas de São Paulo. A favela de São Paulo é mais segura do que o centro de São Paulo. Eu ando na favela e fico em paz. É claro que eu estou andando com os meus seguranças, mas o líder comunitário diz: ‘Fique em paz’”, afirmou.
Outra “solução” para o trânsito apresentada pelo pré-candidato, que é “coach e influencer” nas redes sociais, é liberar a conversão à direita com o farol vermelho, “igual nos Estados Unidos”. “É a coisa mais básica do mundo”, disse o pré-candidato, que diz ter o costume de andar de helicóptero pela cidade. Marçal afirmou ainda que, se eleito, fará “bolsões” de estacionamento nas rodovias que estão em São Paulo.
“Nas dez rodovias, vamos criar bolsões para colocar de 10 mil a 50 mil carros e ligar teleférico até a estação de trem. Isso é muito forte”, disse. “Vai pirar, o mundo inteiro vai querer aprender com a gente”, afirmou na sabatina.
Aos 37 anos, Marçal é bacharel em Direito e disse que tinha o sonho de ser “o melhor advogado do país”, mas não tirou a carteira da OAB. Em 2022, tentou concorrer a presidente e deputado federal pelo Pros, mas a Justiça derrubou as candidaturas diante da disputa pelo comando da legenda. O pré-candidato foi condenado, em 2010 por participar de uma quadrilha que desviou dinheiro de bancos, mas a pena foi extinta em 2018, por prescrição. Na sabatina, negou ter conhecimento dos ilícitos.
.Marçal demonstrou desconhecer problemas da cidade, como a situação do parque Dom Pedro, no centro. Ao ser questionado sobre como lidará com a Cracolândia, Marçal culpou as famílias dos dependentes químicos pelo vício.
O pré-candidato disse ser contra a equiparação do aborto legal após as 22 semanas ao crime de homicídio, é contra a descriminalização da maconha, o uso de câmeras corporais por policiais e a expansão da terceirização do ensino básico. Na sabatina, defendeu a privatização da Sabesp. “Não tem dinheiro no caixa, eu sou a favor”, disse. A empresa, no entanto, teve lucro de R$ 3,523 bilhões em 2023.
Marçal fez críticas a seus principais adversários — Guilherme Boulos, Ricardo Nunes e Tabata Amaral. O tom mais duro, no entanto, foi contra a deputada e pré-candidata do PSB. O postulante voltou a citar a morte do pai de Tabata e usou frases machistas e etaristas contra a parlamentar.
Ainda sem um vice na chapa, Marçal disse que estuda indicar uma mulher, mas ainda não tem certeza. "[Se] coloco o sexo [gênero] em primeiro lugar, vou me ferrar".
Aceno a Bolsonaro
Durante a sabatina, Marçal defendeu ainda Jair Bolsonaro. Ao avaliar o indiciamento do ex-presidente no inquérito que investiga a venda ilegal de joias, Marçal criticou a Polícia Federal e disse que Bolsonaro deve ficar com os presentes – o que é ilegal. "O presente [joias] é dele. Ele faz o que quiser com esse presente", afirmou, sobre o ato ilícito. "A Polícia Federal prejudicou muito o presidente Bolsonaro".
*estagiária sob supervisão de Fernanda Godoy