O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deu dez dias para o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se manifestar sobre a lei que instituiu o programa de escolas cívico-militares em São Paulo. A decisão, da última quinta-feira, é uma resposta à ação direta de inconstitucionalidade apresentada pelo Psol, que pede a suspensão da lei.
Para o partido, o programa confronta a Constituição por avançar sobre diretrizes na área educacional que são de competência da União. O Psol também argumenta que a lei viola as funções constitucionais da Polícia Militar, relacionadas à segurança pública e não à educação formal.
Após o governo paulista se pronunciar na ação, haverá prazo de cinco dias para que Advocacia-Geral da União (AGU) e Procuradoria-Geral da República (PGR) também se manifestem.
A lei que institui o programa em São Paulo foi mais um gesto de Tarcísio à sua base de apoio bolsonarista. As escolas cívico-militares foram uma das bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na educação, mas o modelo foi descontinuado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em julho de 2023.
A decisão não proibiu a manutenção do modelo, mas transferiu o custeio para os Estados. À época, o Ministério da Educação também acrescentou que o modelo proposto por Bolsonaro não tinha amparo nas normas vigentes, previstas por exemplo pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o Plano Nacional de Educação.
Em São Paulo, essas escolas cívico-militares devem ser implementadas em 2025. Até agosto, o governo pretende consultar os municípios interessados em receber as unidades e definirá onde elas serão implementadas. A gestão diz ter a expectativa de criar entre 50 e 100 escolas. O objetivo, de acordo com o governo, é elevar a qualidade de ensino medida pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Caberá à Secretaria da Segurança Pública indicar policiais militares da reserva para atuar como monitores e desenvolver atividades extracurriculares e ações de vigilância. Segundo o governo paulista, a seleção dos policiais será feita pela Secretaria da Educação.
A aprovação do projeto de lei pela Assembleia Legislativa foi acompanhada por protestos de entidades de classe e estudantes, que temem a desvalorização do professor (a remuneração prevista aos policiais vai superar o piso dos educadores) e a militarização do ambiente escolar.
Em declarações públicas, representantes do governo de São Paulo enfatizam que adesão ao programa é voluntária e que ele não substitui o ensino regular.