Bruno Carazza
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Bruno Carazza

Bruno Carazza é professor associado da Fundação Dom Cabral e autor dos livros 'O País dos Privilégios' e 'Dinheiro, Eleições e Poder'

Por , para o Valor — Belo Horizonte

“Foi uma decisão de governo. Isso vale para qualquer governo, e neste também é assim: não necessariamente aquilo que sai da área política é aquilo que a área técnica [recomenda]”. Essa frase, proferida por Bernard Appy, revela a vida como ela diante das iniciativas tributárias concebidas pela equipe do ministro Fernando Haddad.

No caso específico, o secretário de reforma tributária do Ministério da Fazenda estava se referindo ao recuo do governo na regulamentação do Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD). De competência estadual, o ITCMD carece de um conjunto de normas mínimas aplicáveis a todos os Estados da federação, e sua regulamentação foi um pleito trazido pelos secretários estaduais de Fazenda durante a negociação da reforma tributária.

Uma das demandas dos Estados foi estabelecimento, no âmbito da legislação complementar, de que é passível de tributação a transferência, em caso de falecimento do titular, dos valores aportados em planos de previdência privada como o Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e o Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) para seus herdeiros.

Criados como veículos de estímulo à poupança de recursos para a aposentadoria, pois gozam de um regime favorecido de cobrança de imposto de renda, há muito o PGBL e o VGBL são vendidos como um instrumento de planejamento sucessório para o topo da pirâmide social brasileira, valendo-se de uma brecha tributária em parte criada pelos próprios Estados, em parte pelo Judiciário.

A não cobrança de ITCMD sobre PGBL e VGBL é uma das explicações para o Brasil figurar na lista dos países que menos tributam a herança, e uma das engrenagens para a máquina de concentração de renda que temos no país.

Corrigir essa distorção, portanto, é uma aspiração legítima do ponto de vista técnico e político, ainda mais para um governo que tem na questão social uma das bases de seu discurso.

Sentindo o baque da reação do mercado e da classe média-alta assim que uma primeira versão do projeto vazou pelas redes sociais no início da semana, Lula brecou a iniciativa antes mesmo de ela ser apresentada ao Congresso.

Brasília (DF), 25/04/2024 - O secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, durante entrevista coletiva para detalhar o projeto de lei complementar (PLP) que regulamenta a reforma tributária. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Marcelo Camargo/Agência Brasil
Brasília (DF), 25/04/2024 - O secretário extraordinário da Reforma Tributária, Bernard Appy, durante entrevista coletiva para detalhar o projeto de lei complementar (PLP) que regulamenta a reforma tributária. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Marcelo Camargo/Agência Brasil

Aliás, não foi a primeira vez. Lula já havia se indisposto contra a tentativa do Ministério da Fazenda de equalizar o tratamento tributário entre o varejo nacional e os sites de compras internacionais, sobretudo chineses. Contrariando a plataforma desenvolvimentista do seu partido, que frequentemente se escora em subterfúgios como a política de conteúdo nacional para promover empresas baseadas no Brasil, o presidente recuou diante das críticas de consumidores contra a “taxação das blusinhas” nas redes sociais.

E para fechar a semana, a proposta do governo de restringir a compensação de créditos tributários de Pis/Cofins para reequilibrar as contas públicas depois da prorrogação da desoneração da folha de pagamento gerou uma forte gritaria do setor produtivo, mobilizando a classe política pela derrubada da MP nº 1.227.

Com uma base frágil no Congresso e enfrentando a resistência da sociedade a cada nova ideia para corrigir distorções de nosso sistema tributário, Haddad e sua equipe vêm sentindo na pele o quanto será difícil fazer seu prometido ajuste fiscal olhando apenas para o lado das receitas.

Mais recente Próxima Chambriard anuncia que a Petrobras voltou

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

Estímulos na China alimenta investimento em bitcoin, segundo analista

Bitcoin inicia semana em forte alta e retoma  US$ 65 mil

Ministro diz que proposta de isentar do IR salários de até R$ 5 mil terá como pressuposto a neutralidade fiscal, enquanto o futuro presidente do BC reforça tom conservador da autoridade monetária

Dólar e juros futuros caem com falas de Galípolo e Haddad no foco

Para o professor, o trabalho dos premiados contrasta com uma visão anterior de uma espécie de escolha [trade off] entre crescimento econômico e redução de desigualdade.

Nobel de Economia mostra que redução de desigualdade não traz só bem-estar, crescimento da economia, diz professor da PUC-Rio

Empresários afirmam que, mesmo após dias sem luz, a concessionária Enel não ofereceu suporte ou previsão de quando o serviço seria restabelecido

Restaurantes enfrentam prejuízos e precisam improvisar após apagão na cidade de São Paulo

Futuro presidente do BC reforça que as expectativas de inflação seguem desancoradas de um modo “desconfortável” para a autoridade monetária

Crescimento do Brasil segue surpreendendo apesar de juros em território restritivo, diz Galípolo

O movimento ocorre com a retirada de prêmios e risco após falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do diretor de política monetária do Banco Central e futuro presidente da autoridade monetária, Gabriel Galípolo.

Ibovespa tem leve alta em meio à queda dos juros futuros

Produtos do AliExpress serão vendidos nos canais digitais da varejista brasileira por meio do programa Remessa Conforme, que o Magazine Luiza aderiu meses atrás

Magazine Luiza e AliExpress iniciam vendas conjuntas de produtos em suas plataformas

Operação chinesa aconteceu dias depois que o presidente taiwanês, Lai Ching-te, afirmou, em discursos, a soberania de Taiwan e apelou à China para trabalhar com ele pela paz

EUA condenam exercício militar de larga escala da China ao redor de Taiwan