Bruno Carazza
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Bruno Carazza

Bruno Carazza é professor associado da Fundação Dom Cabral e autor dos livros 'O País dos Privilégios' e 'Dinheiro, Eleições e Poder'

Por , Para o Valor — Belo Horizonte

A leitura das 135 páginas da decisão do ministro Alexandre de Moraes indica que as investigações da tentativa de golpe de 8 de janeiro vão se concentrar a partir de agora na cúpula militar do governo Bolsonaro.

A devassa pela Polícia Federal nos celulares do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente da República, revelou três linhas de apuração: i) a disseminação de informações falsas sobre a integridade das urnas eletrônicas brasileiras; ii) o financiamento da mobilização de apoiadores em frente aos quartéis e iii) as articulações para a manutenção de Jair Bolsonaro no poder, com a implementação das medidas traçadas na “minuta do golpe”.

Se com relação à campanha de difamação da segurança do sistema de votação e do apoio aos acampamentos de bolsonaristas as digitais dos militares já estavam sendo apuradas pela Polícia Federal, a grande novidade do despacho de hoje do ministro Alexandre de Moraes diz respeito à organização do golpe em si.

De acordo com os elementos obtidos desde a prisão de Mauro Cid, coube a Filipe Martins, ex-assessor internacional de Bolsonaro, e ao advogado Amauri Assad a autoria de um documento decretando estado de sítio, determinando a prisão de diversas autoridades (entre elas os ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco) e convocando novas eleições.

O ex-assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, um dos supostos autores da "minuta do golpe" — Foto: Arthur Max/MRE
O ex-assessor internacional da Presidência, Filipe Martins, um dos supostos autores da "minuta do golpe" — Foto: Arthur Max/MRE

Segundo as informações colhidas pela Polícia Federal, a “minuta de golpe”, que já havia sido encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, chegou a ser discutida por Jair Bolsonaro com os comandantes do Exército e da Marinha, além do ministro da Defesa, em reunião realizada no Palácio do Planalto no dia 07/12/2022.

Paralelamente aos encontros entre as autoridades militares e o presidente da República no intervalo entre o segundo turno das eleições e a posse de Lula, as conversas extraídas do celular de Mauro Cid revelam a existência de um aparato de monitoramento das autoridades que seriam alvo das ações golpistas (os passos de Alexandre de Moraes estavam sendo acompanhados de perto).

As mensagens ainda revelam a mobilização de militares das Forças Especiais do Exército para aderirem ao movimento e uma intensa pressão exercida por generais da reserva (Braga Netto à frente) para que os comandantes das Forças Armadas dessem sinal verde para uma ação militar que impediria a posse de Lula em primeiro de janeiro.

As ordens de busca e apreensão emitidas hoje pelo ministro Alexandre de Moraes atingem diretamente militares da ativa e da reserva com papel relevante no governo Bolsonaro, como os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e o almirante Almir Garnier Santos. Também abrange militares de ativa que ainda ocupam postos estratégicos na hierarquia das Forças Armadas.

As operações policiais de hoje trarão ainda mais elementos para a responsabilização de militares e de Jair Bolsonaro pela tentativa de golpe no 08 de janeiro.

Para além da punição criminal de todos os envolvidos, precisamos avançar com uma agenda legislativa para coibir o envolvimento de militares na política. Nesse sentido, merecem aprovação a PEC nº 42/2023, de autoria do Poder Executivo e que limita a candidatura de militares para cargos eletivos, e a PEC nº 21/2021, apresentada pela ex-deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) e que proíbe militares da ativa a exercerem cargos de natureza civil na administração pública.

Enquanto não fizermos com que os militares voltem aos quartéis, a democracia continuará em risco.

Mais recente Próxima Haddad e a agenda contra os privilégios

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

O Senado americano aprovou a Lei de Segurança Infantil On-line em julho, mas até agora o projeto está travado na Câmara

Por dentro da tentativa das 'big techs' de barrar o Projeto de Lei de Segurança Infantil On-line

Já há possibilidade de criar rota para o transporte do insumo extraído de Vaca Muerta, na Argentina, ao Brasil, anto via Gasoduto Norte (para levar o gás à Bolívia) quanto Gasbol (da Bolívia ao Brasil)

Mercado aposta no Gasbol para trazer gás da Argentina, mas integração exige investimentos

“Uma taxação de 2% sobre o patrimônio de indivíduos super-ricos poderia gerar recursos da ordem de US$ 250 bilhões por ano para serem investidos no enfrentamento dos desafios sociais e ambientais”, afirmou o presidente em discurso no G20

Cooperação tributária internacional é crucial para reduzir desigualdades, diz Lula

Dados vão na contramão das medidas do governo para aumentar a taxa de natalidade do país

População chinesa deve encolher 51 milhões até 2035, diz relatório

“Os avanços são bastante animadores para que se chegue a um bom termo”, disse o ministro da Agricultura

Fávaro: Expectativa é de anúncio do acordo com UE em 6 de dezembro, na cúpula do Mercosul

Advogados votam por lideranças estaduais até o final de novembro

Veja o resultado das eleições da OAB nos Estados e no Distrito Federal

Net zero é um conceito que busca o equilíbrio entre a quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitidos e a quantidade removida da atmosfera

Países podem usar natureza para ludibriar objetivos de emissões líquidas zero, aponta estudo

Outras divisas pares e também ligadas à commodity se valorizam; por aqui, agentes seguem à espera do pacote fiscal, após piora de projeções do Focus

Dólar tem queda firme e Ibovespa ronda a estabilidade com alta do petróleo no radar

Dia foi marcado por ampliação do diferencial entre taxas de Brasil e EUA, com rendimentos dos Treasuries recuando, enquanto juros futuros locais avançaram em meio à desancoragem de expectativas

Dólar recua com ajuda externa e com investidor à espera de medidas fiscais