O campo viu crescer em 2022 inovações voltadas a soluções personalizadas para produtores dos setores agrícola e de criação de animais em larga escala. Enormes bases de dados constituídas no modelo de plataformas de acesso controlado foram desenvolvidas de maneira a proporcionar modernização digital na forma de gerir lavouras e a saúde de animais criados para fins de alimentação humana.
Essas soluções recorrem a recursos da ciência de dados que passam por predição de cenários, medição de indicadores, controle, análise de informações, rastreabilidade e recomendações de intervenção, entre outras variáveis. Em comum, as empresas mais inovadoras no agronegócio do anuário Valor Inovação Brasil 2023 indicam que os avanços recentes contemplam modelos de cocriação.
Pelo terceiro ano consecutivo liderando o ranking das empresas mais inovadoras do setor, a Bayer destaca o lançamento em maio do ano passado de um programa que usa a base de dados da Climate FieldView, plataforma de agricultura digital da companhia, que tem em torno de 25 milhões de hectares mapeados no Brasil. O Bayer Valora, programa que propõe ao agricultor o risco compartilhado na safra, começou pela cultura do milho. “Os produtores inscritos recebem a recomendação ideal da quantidade de sementes de milho para cada talhão [área de cultivo], visando potencializar a produtividade e a rentabilidade da fazenda em relação ao manejo que já é adotado”, afirma Dirceu Ferreira Junior, líder de inovação aberta da divisão agrícola da Bayer para América Latina.
Se ao final da safra a rentabilidade não corresponder à recomendação, o agricultor é ressarcido pelas sementes utilizadas a mais no plantio. Também recebe um relatório personalizado que identifica o motivo para não ter alcançado a meta. “Temos o objetivo de desenvolver soluções cada vez mais personalizadas para auxiliar os produtores no campo do início ao fim de suas jornadas”, resume o líder da área de inovação da Bayer. Para isso, a companhia recorre tanto a projetos em cocriação quanto por soluções desenvolvidas pelas equipes internas.
Em 2022, ao todo, a Bayer apresentou oito projetos de inovação no Brasil, onde mantém 30 centros de pesquisa e desenvolvimento. A empresa informa apenas o investimento global em P&D, que foi de 2,8 bilhões de euros (cerca de R$ 15,5 bilhões) no ano. Para 2023, Ferreira Junior cita o desenvolvimento do Pro Carbono Commodities, que mede a pegada de carbono desde o pré-plantio até a colheita, acompanhando o transporte e a entrega dos grãos. “É um passo importante rumo à descarbonização da cadeia”, observa.
![Centro da Bayer em Petrolina (PE) é o maior da companhia no hemisfério Sul, responsável por pesquisas envolvendo milho e soja — Foto: Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/GCJSLHNC-Gme59YHWfHrwD3yS5s=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/Z/O/2TCZLlT8O6CBbPd7IdUw/088-top5-agronegocio-bayer.jpg)
Segunda colocada no ranking setorial, a Cargill Nutrição Animal sustenta a posição com o projeto Panorama, destinado à avicultura de corte. “A solução consiste em um sistema de planejamento e otimização de cenários baseado em modelos matemáticos que abrangem questões de nutrição, direcionamento de produção e resultados econômicos do negócio avícola”, conta Celso Mello, diretor-geral de nutrição animal da Cargill na América do Sul.
O projeto tem duas versões. O Panorama Focus concentra informações para melhorar a lucratividade das operações de frangos de corte, por meio de práticas de nutrição e produção. Mais abrangente, o Panorama 360 projeta cenários da cadeia de produção, desde a formulação da ração até o produto final, incluindo o rendimento do processamento, descreve Mello. Trata-se de uma ferramenta cujo desenvolvimento teve origem no Brasil e consumiu US$ 3 milhões (cerca de R$ 14,5 milhões) em investimentos. Atualmente, tem aplicação em outras regiões do mundo.
A empresa somou 50 projetos de inovação em 2022, dos quais 70% são focados no negócio principal, 20% em explorar áreas adjacentes e 10% procuram inovações transformacionais. Para 2023, Mello destaca o projeto de Análise do Ciclo de Vida na pecuária, voltado para a descarbonização da atividade. O objetivo é identificar gargalos no processo e propor soluções para que sejam atenuados, com produtos ou mudanças nas práticas de manejo. Participam dessa iniciativa pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Universidade de São Paulo (USP).
A Cargill Nutrição Animal aplica de 5% a 10% da receita líquida em inovação. No Brasil, a companhia opera com o Centro de Pesquisa em Nutrição Animal (CPNA), em Mogi Mirim (SP), onde funciona uma fazenda experimental, capaz de acomodar 3 mil aves, 200 suínos e 25 bovinos. Conta ainda com o Innovation Center, em Campinas (SP), que atende a todas as unidades de negócios da companhia no Brasil.
![Celso Mello, da Cargill: 50 projetos de inovação em 2022 e foco em descarbonização neste ano — Foto: Eduardo de Sousa/Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/0BjA4T5ElEhTJroRBkW61NZzWRs=/0x0:1500x1000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/z/L/9hsvBPSPSeZ0JbrVPPxg/088-top5-agronegocio-celso-20mello-cargill.jpg)
A cada ano, a São Martinho reserva de 1% a 2% da receita bruta para inovação. Os valores variam conforme a complexidade do projeto. Em 2022, a empresa investiu R$ 1,1 bilhão em dois grandes empreendimentos, conta Fabio Venturelli, presidente da São Martinho. Um deles é uma refinaria de etanol de milho que entrou em operação no início deste ano. Desde então, a produção de etanol cresceu cerca de 20%, diz Venturelli. A nova refinaria funciona dentro do complexo da Usina Boa Vista, que refina etanol de cana-de-açúcar. Esse complexo de refinarias produz 600 milhões de litros de etanol por ano.
O segundo projeto visa a produção de bioinsumos, produtos derivados de plantas, animais e microrganismos que atuam como alternativa aos insumos químicos utilizados para controle de pragas e doenças, fertilizantes ou estimulantes para o crescimento de plantas e animais. “A São Martinho é uma das maiores usuárias de bioinsumos do planeta, com mais de um milhão de hectares recebendo diversos tipos de soluções”, afirma Venturelli. Para os estudos nessa área foi constituído um centro de pesquisa em engenharia de fitossanidade, com a participação da São Martinho, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ressalta o executivo.
Há cem iniciativas na carteira de projetos de inovação de 2022. Para 2023, a São Martinho tem interesse em projetos de inovação focados em questões digitais, ciência de dados, uso de dados para predizer fenômenos agrícolas e industriais e desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial para automatizar processos.
Depois da fusão concluída em maio de 2023, a DSM Produtos Nutricionais, agora dsm-firmenich, quarta colocada no ranking, informa que o principal projeto no ano passado recorre ao aprendizado de máquina, ramo da tecnologia de inteligência artificial. A partir de algoritmos, o sistema Verax cruza e analisa informações de animais, que ficam disponíveis para consulta dos produtores, diz Luiz Magalhães, vice-presidente do negócio de nutrição e saúde animal da empresa na América Latina.
O sistema considera 20 biomarcadores, identificados na análise do sangue dos animais. “A tecnologia foi desenvolvida para ajudar a resolver falhas de desempenho de produção causadas pela ineficiência na nutrição e/ou na saúde dos animais”, descreve o executivo. Ao prever problemas, como deficiência nutricional, o produtor pode atuar antes do surgimento de sintomas clínicos e lesões, comenta. Segundo Magalhães, a iniciativa é pioneira e especialmente útil para produtores de aves e suínos, que trabalham com ciclos de produção muito curtos e gestão em tempo real. “A análise de biomarcadores nutricionais e de saúde a partir da coleta de sangue nas granjas é uma novidade para a avicultura”, diz.
Um projeto-piloto foi implementado no Brasil para frangos de corte em outubro de 2022, cujos resultados deverão ser apresentados até o fim de 2023. No Brasil, a dsm-firmenich atuou com 40 trilhas de inovação em 2022. Além das parcerias, a empresa mantém no país um centro de inovação e ciência aplicada, em Mairinque (SP), com granja experimental e uma minifábrica de ração. O investimento global da companhia em P&D alcançou 345 milhões de euros (cerca de R$ 1,9 bilhão) em 2022, aumento de 9,5% sobre 2021.
Quinta colocada, a Adama destaca o projeto Darwin, concluído em 2022 e que será lançado na próxima safra de soja, em setembro de 2023, no Brasil. “Mais do que um sistema agregador de dados, o Adama Darwin é uma plataforma que vai auxiliar o agricultor no complexo processo de tomada de decisão para as ações de campo, desde o plantio até a colheita”, afirma Roberson Marczak, gerente de inovação da empresa no Brasil.
Por essa plataforma, o agricultor monitora o desenvolvimento de culturas, recebe imagens por satélite da área, integra os dados gerados por maquinários da fazenda (como sensores e estações meteorológicas), gera mapas de aplicação de defensivos e recebe sugestões para melhorar o manejo concebidas por inteligência artificial. Para o desenvolvimento desse projeto global, a Adama investiu US$ 1,5 milhão (R$ 7,27 milhões) em desenvolvimento de algoritmos de predição e criação de sistema de inteligência agronômica para processar grandes volumes de dados. Para Marczak, o maior desafio do projeto consiste em fazer esse enorme conjunto de informações gerar efetivamente valor para os agricultores.
No Brasil, a Adama trabalhou em 2022 com 12 projetos de inovação interna e quatro de inovação aberta. Conforme Marczak, a companhia investe cerca de 1,3% do faturamento anual em inovação no país. A empresa tem laboratório de formulações em Londrina (PR), oito estações de pesquisa e três casas de vegetação GH, também localizadas em Londrina. Em 2023, a Adama Brasil trabalha o projeto Vero, voltado à rastreabilidade de embalagens de produtos agroquímicos com base na tecnologia blockchain como forma de inibir o uso de produtos adulterados ou falsificados. A empresa prevê o lançamento em 2024.
Top 5 do agronegócio
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