Inovação
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Por Luiz Maciel, para o Valor


A inovação sempre acompanhou a indústria automotiva e de veículos de grande porte, como é facilmente observado na variedade de novas tecnologias embarcadas que as montadoras apresentam em seus modelos ano a ano. O setor tradicionalmente é um dos que mais desenvolvem patentes no Brasil. Vinha do segmento mais da metade (53%) de todos os registros de produtos e processos inovadores depositados no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 2020, conforme apurado no anuário Valor Inovação Brasil daquele ano. Atualmente, as companhias da área ocupam a terceira posição do volume de marcas e patentes, com 14,8%. Para especialistas, porém, a terceira posição não indica redução de dinamismo na indústria automotiva e de veículos de grande porte. De lá para cá, registre-se que o segmento perdeu uma importante participante, com o fechamento de todas as fábricas da Ford no país e o encerramento da produção nacional da montadora, anunciados no início de 2021.

“O resultado atual está mais ligado ao avanço expressivo de alguns ramos de atividade do que propriamente a uma retração nos projetos inovadores do setor”, afirma Jacques Moszkowicz, sócio da PwC Strategy& e um dos responsáveis pelo ranking, referindo-se ao setor do agronegócio (cujo volume de patentes saltou de 0,2% para 20,8% do total nesse período) e ao de óleo e gás (que evoluiu de 9,3% para 18,5%).

Seja como for, o apetite do setor automotivo pela inovação é indiscutível, a começar pela líder no ranking setorial, a fabricante de máquinas agrícolas e de construção CNH Industrial, que publicou 54 patentes no Brasil no último exercício. A companhia das marcas New Holland e Case não só se manteve como principal destaque do setor, como também segue listada entre as dez empresas mais inovadoras do país entre as 150 pesquisadas neste anuário – ocupa o décimo lugar desta vez, três posições abaixo da conquistada no ano passado.

A Bosch Brasil, que atua nas áreas de mobilidade, tecnologia industrial, bens de consumo, energia e tecnologia predial, aparece novamente em segundo lugar no ranking setorial, repetindo a posição do ano passado. “Para nós, a inovação sempre foi uma prioridade, pois está alinhada à nossa missão de atender com tecnologia às necessidades atuais e futuras. Nossa cultura inspira os funcionários de todos os níveis a fazer o melhor para a sociedade, seja no desenvolvimento de novos produtos, novos processos, novos serviços ou novos modelos de negócio”, afirma Bruno Bragazza, gerente de inovação da Bosch América Latina.

A empresa faturou R$ 7,8 bilhões no Brasil em 2022, dos quais cerca de 3% foram investidos em pesquisa e desenvolvimento (P&D), envolvendo diretamente nesse processo mais de 350 engenheiros, entre os dez mil colaboradores que tem no país. Já a corporação global arrecadou 88,2 bilhões de euros (cerca de R$ 474 bilhões), destinando 8,2% dessa receita para projetos de inovação.

Laboratórios da Bosch: um dos desenvolvimentos realizados é o método de aproveitamento de hidrogênio gerado a bordo — Foto: Martin Stollberg/Divulgação
Laboratórios da Bosch: um dos desenvolvimentos realizados é o método de aproveitamento de hidrogênio gerado a bordo — Foto: Martin Stollberg/Divulgação

As unidades brasileiras da multinacional alemã – que ficam nas cidades paulistas de Campinas, Sorocaba e Itatiba, além de Curitiba (PR) e Pomerode (SC) – têm se dedicado principalmente a iniciativas de descarbonização na mobilidade. Com foco em veículos híbridos urbanos, a empresa está desenvolvendo um diferencial eletrônico, um sistema de suspensão semiativa para controle avançado de estabilidade e um método de aproveitamento de hidrogênio gerado a bordo para aumentar a eficiência da propulsão. No mercado do agronegócio, investe numa solução para a pulverização precisa de fertilizantes, utilizando câmeras e inteligência artificial, e num sistema de plantio inteligente, que evita desperdícios.

Outra iniciativa inovadora da companhia foi a inauguração, no início deste ano, do DigiHub América Latina, um espaço colaborativo da unidade de Campinas que conecta projetos e negócios focados em inovação, digitalização e serviços. O local incorporou também as atividades da plataforma The Connectory Brasil, dedicada a encontrar soluções inovadoras em tecnologia da informação (TI) e internet das coisas (IoT) por meio de parcerias com startups, universidades e institutos de pesquisa. A plataforma é uma rede global que integra as unidades brasileiras de Campinas e Curitiba às de Chicago (Estados Unidos), Guadalajara (México), Stuttgart (Alemanha) e Xangai (China).

O envolvimento de todos os funcionários em ideias inovadoras, não só os ligados diretamente à área de P&D, também é estimulado pela montadora Stellantis, dona de 14 marcas de automóveis, entre elas cinco fabricadas no Brasil: Fiat, Jeep, Citroën, Peugeot e RAM. “Nossas diversas áreas deixam a oportunidade aberta para que os funcionários sugiram modificações e inovações, sem medo de cometer erros. Todas as propostas são avaliadas e várias delas resultam em aprimoramentos de produtos e processos”, afirma João Irineu Medeiros, vice-presidente de regulamentação da Stellantis para a América do Sul. O desenvolvimento das propostas mais promissoras é coordenado pelo Star*Up, um programa global da companhia.

Em terceiro lugar no ranking regional – subiu duas posições em relação ao ano passado –, a Stellantis direciona seus projetos de P&D principalmente para a descarbonização da mobilidade. O programa Bio-Electro, feito em parceria com universidades, centros de pesquisa, fornecedores e startups, pesquisa novas soluções de motopropulsão para o desenvolvimento de veículos que combinem eletrificação com o combustível etanol. O Retrofit estuda uma maneira de eletrificar veículos comerciais leves, novos e usados, com motor a combustão sem gerar altos custos. O projeto SUSTAINera se dedica à remodelação de peças, buscando a economia de materiais e de energia. No Brasil, a primeira ação do SUSTAINera foi o lançamento, em 2022, de uma centena de peças remanufaturadas já disponíveis em cerca de mil concessionárias das redes autorizadas da empresa no país.

A Stellantis conta com três plantas automotivas, três centros de engenharia e 60 laboratórios no Brasil, especializados em áreas como powertrain, combustíveis, segurança veicular, chassi e suspensão, simulação dinâmica, veículos autônomos, materiais e manufatura 4.0. Seus principais projetos de P&D são desenvolvidos nos 40 laboratórios que compõem o seu Tech Center em Betim (MG) e no centro de pesquisa e campo de provas de Goiana (PE). Somadas, as cinco marcas da companhia no Brasil respondem por um terço das vendas de automóveis no mercado doméstico. O grupo afirma investir entre 4% e 5% de seu faturamento em P&D, envolvendo diretamente nessa área dois mil dos seus 23 mil colaboradores no país.

João Irineu Medeiros, da Stellantis: projetos para descarbonização da mobilidade — Foto: Divulgação
João Irineu Medeiros, da Stellantis: projetos para descarbonização da mobilidade — Foto: Divulgação

A AGCO, multinacional americana que fabrica tratores, plantadeiras e colheitadeiras no Brasil, aparece em quarto lugar no ranking setorial, confirmando a corrida tecnológica entre os principais fornecedores de máquinas para o agronegócio. A empresa acaba de lançar a plantadeira Momentum, capaz de fazer a semeadura simultânea em até 24 linhas de sulcos – que, apesar do tamanho, é uma versão menor de outro modelo da mesma marca que chegou ao mercado em 2019, com o dobro da capacidade de plantio. “É um equipamento para produtores de médio porte que não tinham essa opção”, comenta Fabrício Natal, vice-presidente de engenharia da empresa, sobre a nova máquina.

Produzida na fábrica de Ibirubá (RS), a plantadeira foi desenvolvida quase que inteiramente no Brasil, com o objetivo não só de atender os agricultores locais, mas também para exportação. Programada para se adaptar às irregularidades do terreno ao lançar as sementes no espaçamento correto, sem perdas, tem ainda a vantagem de ser dobrável, para facilitar o transporte de um talhão para outro.

Dona das marcas de tratores Massey Ferguson e Valtra, a AGCO está investindo em modelos elétricos e movidos a combustíveis alternativos. Espera lançar já no ano que vem um trator elétrico e trabalha num protótipo ainda mais avançado, capaz de produzir eletricidade a partir do hidrogênio armazenado em tanques a bordo, o que permite o reabastecimento em minutos. A empresa também realiza testes com um motor híbrido, alimentado por bateria e combustível, e com um movido a biometano.

Líder no mercado de carrocerias para ônibus no Brasil, a Marcopolo, quinta colocada no setor automotivo e de veículos de grande porte, lançou recentemente o modelo Attivi, 100% elétrico, e também faz testes com células de hidrogênio na propulsão de grandes veículos. Seu protótipo de ônibus autônomo, desenvolvido em parceria com cinco startups, já está rodando experimentalmente no pátio da fábrica da montadora em Caxias do Sul (RS). “Ainda há muito o que avançar, mas essa é a tendência da mobilidade e não podemos ficar parados”, afirma Alexandre Cruz, head de novos negócios, investimentos e inovação da multinacional brasileira.

Os projetos inovadores da Marcopolo envolvem três níveis de funcionários, além das parcerias com startups e centros de pesquisa independentes. “No primeiro nível temos 20 pessoas que decidem e planejam os projetos em que devemos investir. No segundo, há 40 funcionários envolvidos diretamente no desenvolvimento de novos produtos, que colocam a mão na massa. E no terceiro nível há um conjunto de 470 pessoas, do CEO até trabalhadores de chão de fábrica, que se voluntariam para fazer propostas, participar de treinamento e facilitar a execução dos projetos. O ônibus autônomo, por exemplo, começou a ser pensado nesse terceiro nível”, explica Cruz.

Top 5 automotivo e veículos de grande porte

  1. CNH Industrial
  2. Robert Bosch
  3. Stellantis
  4. AGCO
  5. Marcopolo

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