‘Existem horas para atacar e horas para se defender’

Por trás dos multimercados mais rentáveis ou com o melhor risco/retorno apontados no “Guia Valor de Fundos de Investimento” estão estratégias que se têm mostrado vencedoras mesmo no momento em que essa categoria de fundos enfrenta perdas no volume de captação líquida, como em alguns períodos de 2023 e agora em 2024, nos dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “Nunca passamos por um período com tantas perdas sucessivas”, diz Pablo Salgado, gestor da família Optimus na Itaú Asset, que concentra R$ 30 bilhões em patrimônio gerido.

“Tivemos excelentes retornos em 2021, 2022 e em 2023 ficamos bem perto do CDI, apesar do ano desafiador que nos fez optar por uma estratégia que visava mais a preservação do capital porque existem horas para atacar e horas para se defender”, diz Salgado. Estratégia que ajudou a colocar o Itaú Optimus Titan FIC FIM entre os dez melhores fundos na categoria baixa volatilidade. É praticamente consenso entre os gestores ouvidos que o nível de incerteza em torno do cenário econômico global que vem afetando fortemente esses investimentos está na dúvida quanto à queda dos juros americanos, que tem ficado mais distante do que se previra. Risco confirmado no início do mês após o Banco Central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), manter a taxa no intervalo de 5,25% a 5,50% a.a., levando a incerteza às demais economias.

“Havia a expectativa de corte mais cedo, mas como a taxa não é restritiva, a economia americana cresce em ritmo razoável, gerando uma inflação que não deve levar o Fed a fazer grandes cortes. E o que a gente faz nesse cenário onde somos mais otimistas com o crescimento americano? Temos operado comprado em dólar contra outras moedas, além de operar no mercado de juros nos EUA. O fundo Optimus, diz Salgado, investe de maneira bastante ampla em mercados fora do Brasil e em várias classes de ativos. Manter uma equipe robusta de gestores com mais de 20 anos de experiência é a principal estratégia para ganhar. São 21 ao todo que se dividem na cobertura exclusiva do mercado de juros local, mercado de renda variável e nos mercados externos.

Já o Itaú Multimanager Plus FIC FIM, um Fundo de Fundos que está entre os dez com melhor risco/retorno, é uma carteira incubadora de novos gestores e novos produtos. “É uma estratégia de mais de 20 anos antes restrita a multigestores, mas aberta há cinco anos para clientes em geral. Parte do sucesso vem da seleção de novos gestores”, diz Marcelo Segalis, superintendente da área de fundo of funds (FOF) do Itaú. O Itaú FOF Orion FIC FIM C Priv IE, destaque na mesma categoria, é o principal produto do fundo de fundos, diz Segalis. “Com R$ 4,6 bilhões em gestão, é focado em um público mais seleto pela liquidez mais longa (D+90), com risco mais elevado e, portanto, inclui fundos long biased que fazem perfil para esse tipo de produto.”

Head de fundos de fundos na BB Asset Management, Guilherme Novaes diz que o mercado global há tempos não via uma política de juros e uma atuação dos bancos centrais dos países desenvolvidos tão imprevisível. “Talvez seja, hoje, nosso principal desafio que exige uma adaptação a um novo ambiente”, avalia. O BB Multigestor Macro Private FIC FIM é destaque em alocação. “Temos um processo de alocação com uma estratégia usada desde 2003”, conta. “Como no fundo multigestor, em que olhamos os fundos do mercado onde o gestor desses produtos tenha uma estratégia com decisões de investimento baseadas em cenários macroeconômicos de médio e longo prazos”, fala.

Na categoria baixa volatilidade, o fundo AZ Quest Low VOL FIM é destaque, gerido pela AZ Quest Investimentos. “O fundo tem a mesma estratégia desde 2008: uma ação e duas opções, um call e uma put”, conta Jean Marcondes, gestor da AZ Quest. Nos últimos dois anos o fundo só tem captado. Hoje, ele tem perto de R$ 1,615 bilhão.

“O mundo, nos últimos seis meses, está muito refém da política monetária americana. É um buraco negro do mundo financeiro, as comunicações do Banco Central americano não estão claras”, diz Fabio Guarda, sócio e gestor na Galapagos Capital. Com Galapagos Evolution FIC FIM C Priv em destaque na categoria baixa volatilidade, a boa performance do fundo, diz ele, vem do carregamento da carteira em crédito privado e em risco de mercado qualquer que seja sua origem. “Em 2023 fomos bem na parte de risco de mercado e em juros”, conta. “Em 2024 tivemos janeiro e fevereiro no zero a zero, um março positivo e um abril negativo. Então estamos correndo atrás, mas não temos pressão para performance, o que nos permite tomar risco de forma parcimoniosa e segura.”

Com fundos em destaque na categoria alocação, a Kapitalo Investimentos tem 13 times de gestores independentes com autonomia para ter produtos próprios. Mas as estratégias são predominantemente focadas no mercado externo. “O cenário internacional é muito relevante na alocação, está no core da Kapitalo, diz Carlos Woelz, fundador e sócio-diretor. O Kapitalo Kappa, por exemplo, fundo multigestor, tem 70% da carteira em ativos globais.