Na onda do aluguel, Mills é a líder do Valor 1000 em Construção e Engenharia

Empresa de maquinário expande rede, dobra o lucro e diversifica com novos segmentos na carteira

Por Lilian Caramel, para o Valor


Teste de qualidade de plataforma elevatória no pátio externo da filial da Mills em Osasco Julio Bittencourt/Valor

A Mills Locação de Equipamentos, líder em aluguel de equipamentos para trabalhos em altura, é a campeã no setor de construção e engenharia desta edição do ranking Valor 1000. A companhia, que alcançou nota 77,8 no levantamento, também liderou na margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida) pela receita líquida, que foi de 44,9% em 2022. A empresa mais que dobrou o lucro no ano passado, para o valor recorde de R$ 216 milhões, ante R$ 102 milhões em 2021. A receita (R$ 1,26 bilhão) também foi recorde. Ainda em 2022, quando completou 70 anos, adquiriu a Tecpar Equipamentos e a Triengel, que marcou sua entrada no ramo da linha amarela (maquinário para movimentação de terra, como retroescavadeiras, tratores de esteira, rolos compactadores e pás-escavadeiras).

Apesar das perspectivas promissoras do novo negócio em pesados, a linha leve é a que vem garantindo as boas margens da companhia. “Nos últimos anos, a unidade de leves está performando muito bem. Nós crescemos, na média composta, 40% ao ano. Isso é fruto de quebra de paradigmas, já que as plataformas elevatórias móveis vêm substituindo outras formas de equipamentos para operação em altura, como andaimes”, afirma o CEO da empresa, Sergio Kariya.

A Mills destaca que em 2022 abriu 16 filiais, atingindo 56 pontos de venda distribuídos por todo o país – São Paulo e Minas Gerais são os Estados com o maior número delas. Para 2023, o plano é abrir mais seis e atingir um crescimento de 30%. Outro fator por trás do desempenho registrado no ano passado foi a estratégia de diversificação de receitas, que atraiu novos segmentos para a carteira. O agronegócio foi um deles. Demandante da linha amarela, o setor já responde por 10% do resultado da companhia. “Nós integramos outras verticais do PIB [Produto Interno Bruto] para não ficarmos concentrados na construção e evitar impactos de ciclos extremos, como ocorreu com a [Operação] Lava Jato, que nos prejudicou. Trabalhamos para atrair setores mais resilientes”, revela o executivo. Com nove mil clientes, a Mills atende, além da construção civil e do agro, setores como mineração, siderurgia, papel e celulose, automotivo e alimentos, entre outros.

A empresa vê tendência global de troca da compra pelo aluguel de equipamentos. “Vemos isso, por exemplo, com o Uber. Por questão de eficiência, as pessoas, cada vez menos, querem deter os bens. Existem 250 mil máquinas de movimentação de terra no Brasil e apenas 23% delas estão com as locadoras. A ideia é converter essa fatia de máquinas na mão do usuário final em serviços de locação”, diz.

Kariya admite que a taxa de juros impacta os negócios, mas é otimista a respeito do cenário econômico. “Claro que, quando falamos de apetite para investimento, o peso da taxa é enorme. Os juros fazem com que tenhamos que subir preços e reduzir custos para conseguirmos entregar resultado ao acionista”, afirma. O executivo nota que algumas áreas estão ganhando vigor. “Na indústria, mineração e agricultura, os projetos estão sendo liberados. Sentimos algumas áreas mais afetadas, como o varejo, mais lento. Já o ramo de navios petrolíferos está aquecendo. São setores que começam a chamar por equipamentos e gerar volumetria, com contratos na rua”, emenda. Com sobra de caixa (net cash), Kariya aponta que os juros altos pesaram pouco nas despesas financeiras da Mills nos últimos anos.

Sergio Kariya, CEO da Mills: lucro dobrado — Foto: Lailson Santos/Divulgação

No mundo ESG, a companhia também registra conquistas. Em maio, lançou seu segundo relatório de sustentabilidade e foi a primeira do ramo a publicar o inventário completo de carbono pelo Programa Brasileiro GHG Protocol. A meta é zerar as emissões diretas até 2025 por meio de reduções incrementais ano a ano. Atualmente, compensa suas emissões comprando créditos de carbono de dois projetos: um do tipo REDD + (de conservação e manejo florestal sustentável), que apoia comunidades ribeirinhas do Amapá, e outro na modalidade CDM (do inglês Clean Development Mechanism, para projetos de redução dos gases de efeito estufa), de energia solar no Maranhão.

“A entrada na linha amarela, onde o volume de emissões é maior, pediu mais atenção para a compensação, mas nosso foco é reduzir. Estamos ajustando métricas internas para diminuir emissões de máquinas pesadas, como empilhadeiras. A jornada da sustentabilidade é longa, mas temos interesse em protagonizar esse movimento”, afirma Kleber Racy, diretor de gente, gestão, segurança, saúde e meio ambiente. Em 2022, a empresa conseguiu reduzir o uso de óleo em 20%, com o envio de 137 mil litros do produto lubrificante para a reciclagem. Empregado nas plataformas elevatórias com cilindros hidráulicos, o insumo residual é encaminhado para rerrefino. Ainda no ano passado, a utilização de pneus foi reduzida em 19% e a de baterias, em 17%.

Além da auditoria da pegada climática, a companhia inovou ao criar uma calculadora de emissões. A ferramenta on-line simula a quantidade emitida pelos clientes quando usam alguma máquina. O usuário consegue, ainda, calcular a emissão por hora e ao longo da vida útil do equipamento. “É um recurso disponível para o cliente gerar o inventário de CO2 de todos os equipamentos que usa”, explica Racy.

Elevar para 60% a fatia de máquinas elétricas ou híbridas na frota de plataformas elevatórias é outra meta que a organização estipulou para 2025. Em 2022, parte desse maquinário – composto por dez mil peças – foi renovada. Já para a linha amarela, cuja frota é de mil peças, foi criado um grupo de trabalho, em parceria com os fabricantes, para analisar soluções capazes de mitigar emissões, uma vez que os equipamentos de maior porte poluem mais. De acordo com Racy, na linha dos pesados, o setor centraliza esforços no uso de combustíveis alternativos, como hidrogênio e biodiesel, em vez da eletrificação. “Eletrificar a frota de pesados ainda é um desafio mundial, porque depende do desenvolvimento de baterias mais potentes. Avançamos mais em trazer a consciência do impacto para os clientes, envolvendo-os na agenda e procurando oportunidades de compensar”, diz o diretor.

Outra iniciativa envolve a conservação de água por meio de estações de tratamento instaladas em 36 filiais. A companhia visa implantar estações em todas elas até 2025. A operação consiste em um circuito fechado para reúso da água da lavagem dos equipamentos em que o mesmo volume pode ser aproveitado por até três meses – em um sistema convencional, a água costuma ser consumida durante dois ou três dias e descartada. A estação também separa o óleo da água, que é enviado para aterros parceiros. Já o PH é monitorado para garantia da qualidade.

Com 12 filiais em municípios sob algum grau de estresse hídrico, como Cotia e Osasco, ambos na região metropolitana de São Paulo, e Fortaleza, a meta é descontinuar o uso de água potável na manutenção da frota. Conforme o relatório de sustentabilidade 2022, a Mills planeja reduzir, cada vez mais, sua dependência de recursos naturais. Baseada na economia do compartilhamento, a intenção é, no médio prazo, atingir ecoeficiência plena nas operações.

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