As grandes mineradoras estão investindo em usinas de energia a partir de fontes limpas como parte do esforço para suprir a demanda pelo massivo uso de eletricidade que a atividade exige e cumprir as metas para redução de emissão de carbono. Hoje, é mais barato para a indústria comprar energia limpa, como solar e eólica, do que de qualquer outra fonte. A ValeCa, que tem meta de consumir apenas energia produzida a partir de fontes renováveis até 2025, vai investir US$ 590 milhões (R$ 2,992 bilhões) em um parque solar em Minas Gerais. A Anglo American atingiu esse patamar em 2022, quando entraram em operação usinas solares e eólicas das quais adquiriu energia ou passou a ser sócia.
Mas o portfólio de energia das grandes mineradoras ainda está concentrado em hidrelétricas -a Vale, por exemplo, é sócia da usina de Belo Monte (PA). Os números da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) mostram como ainda é tímido o investimento da indústria no segmento, mesmo sendo o mais barato. Dos 28 GW de energia solar produzidos no Brasil, nem 10% é para consumo industrial. Um contraste com os números do consumo total. A indústria brasileira consome 40% de toda a energia elétrica produzida no país.
Mas o consumo industrial tende a crescer exponencialmente no segmento solar, avalia Luis Pita, diretor geral da Atlas Renewable Energy do Brasil, empresa responsável por um dos contratos de energia da Anglo American. Segundo ele, muitas indústrias estão negociando substituir contratos com hidrelétricas que irão vencer até 2025 por outros de energia solar, cujas usinas podem ser colocadas de pé em 15 meses.
O projeto Sol do Cerrado, da Vale, é um exemplo do impacto que uma usina solar pode ter no consumo de uma mineradora. A planta entrou em operação em novembro de 2022 e vai atingir capacidade plena de geração no segundo semestre de 2023. Segundo a diretora de energia e descarbonização da empresa, Ludmila Nascimento, a planta vai suprir 16% da demanda de energia elétrica da Vale em 2025. A empresa não informa a meta de consumo deste tipo de energia ao longo dos anos.
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Na Anglo American, quase a metade dos 300 MW médios que consome vêm de fontes solar e eólica. A empresa firmou contratos em 2019 e em 2020 para compra de 140 MW médios da Atlas Renewable Energy e da AES Tietê por 15 anos. E desde 2022, em parceria com a Casa dos Ventos, é autoprodutora de energia em um parque eólico no Rio Grande do Norte. O contrato prevê a produção de 95 MW médios até 2041.
O custo explica a migração de consumo para fontes limpas. A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, diz que a eólica passou a ser a energia mais barata produzida no país em 2017, ganhando inclusive da hidrelétrica de Belo Monte. Mas foi a partir de 2018 que a fonte passou a ser procurada por indústrias que operam no mercado livre, quando o BNDES mudou a forma de contrato de financiamento. De lá para cá, a eólica manteve a competitividade e ganhou a concorrência da solar. No último leilão de energia do governo federal, no ano passado, a solar foi a mais barata, com preços de R$ 171 o MWh. A energia eólica ficou em R$ 178/MWh, enquanto a energia hidrelétrica superou os R$ 270/MWh.
Incentivos fiscais têm ajudado neste processo. Os equipamentos fotovoltaicos, por exemplo, têm isenção do imposto de importação, incentivo que agora chegou para a indústria nacional. No dia 20 de abril, o governo federal anunciou a isenção de impostos para a produção de painéis solares no país, uma demanda antiga da Absolar, segundo Ronaldo Koloszuk, presidente da entidade. Ele estima que não deve haver queda no preço da energia, mas a substituição de equipamentos importados, especialmente chineses, por produtos nacionais.