Ênfase nos dados

Investimentos em 5G, digitalização de redes e inteligência de dados estão entre as principais tendências do mercado este ano

Por Martha Funke — Para o Valor, de São Paulo


As operadoras de telecomunicações devem manter em 2023 os patamares de investimentos do ano passado, mas os destinos dos recursos começam a se modificar. A consolidação do modelo de redes neutras, com infraestrutura compartilhada gerida por empresas independentes, permite intensificar aportes de capital (Capex) em expansão do 5G, digitalização de redes com apoio de nuvem e mais inteligência interna baseada em sistemas para criação de produtos e serviços mais rentáveis e aderentes aos desejos de clientes, mesmo sem deixar de lado a conquista de posições em áreas como 4G e fibra.

Em 2022, os investimentos do setor somaram R$ 38,1 bilhões, 7,3% a mais que os R$ 35,5 bilhões do ano anterior e do que a média anual de R$ 31,8 bilhões entre 2017 a 2021, de acordo com a Conexis, que reúne as maiores operadoras locais. Segundo o presidente-executivo da organização, Marcos Ferrari, o montante de 2023 deve seguir o mesmo patamar.

O destaque do ano foi a Claro, com R$ 10,1 bilhões. “A receita líquida de R$ 42 bilhões e crescimento de 7,4% em 2022 estão relacionados a investimentos em expansão da cobertura da rede de fibra, implantação do 5G, inovação e qualidade”, afirma o diretor de marketing da operadora, Márcio Carvalho.

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O volume registrado pela Conexis não inclui as operadoras competitivas, embora o segmento tenha respondido por perto de R$ 45 bilhões dos R$ 172 bilhões em receitas líquidas das operadoras no país no ano passado, segundo dados da consultoria Teleco. Só a Brisanet, uma das três regionais com licença 5G, investiu mais de R$ 850 milhões em 2022 e projeta mais R$ 700 milhões para 2023.

Ainda engatinhando, e com benefícios mais perceptíveis no mercado corporativo, o 5G deve ter a adoção mais rápida da história das telecomunicações - de agosto a dezembro do ano passado, foram ativados 22 acessos por minuto, segundo a Conexis.

Transformação digital gera inteligência para otimização de processos internos e mais ofertas para o consumidor final

Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) indicam participação de 2,9% nos 250 milhões de acessos móveis registrados em fevereiro, com 7,3 milhões de conexões, o dobro de julho de 2022, quando foi oficialmente inaugurada a era 5G no país. Em parte, os resultados foram alcançados pela superação das operadoras de obrigações previstas no edital, como presença em todas as 27 capitais estaduais até dezembro último.

A TIM, por exemplo, triplicou o número mínimo de antenas exigido - uma para cada 100 mil habitantes - e instalou 4,3 mil para cobrir todos os bairros e regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. O mesmo será feito agora em Brasília, Salvador e Recife. A Claro, em fevereiro, já registrava presença em 77 cidades. “O movimento seguirá com implementação da rede em cidades que a operadora considera estratégicas”, diz Carvalho.

Além do 5G, o IDC destaca o avanço de novas tecnologias, como nuvem, IoT e inteligência de dados, entre as principais tendências do mercado de telecom este ano. A expectativa é que as receitas com serviços do segmento avancem 3% sobre os US$ 29 bilhões no ano passado. O diretor de telecomunicações Luciano Saboia explica que, por ser essencial para a nova conectividade, as operadoras devem aprofundar a digitalização de suas infraestruturas, bem como de sistemas de gestão operacional (OSS) e de negócios (BSS), com uso de nuvem e acordos com as big techs - que, por sua vez, contam com as telcos para apoiar suas nuvens.

A transformação digital das operadoras rende também mais dados para levar inteligência tanto para otimização de processos internos quanto para ofertas, seja para o consumidor final, como reforço de sinal 5G durante eventos massivos com uso da capacidade de “fatiamento” da rede (slicing), seja para empresas, incluindo o fornecimento de redes privativas ou como serviço (NaaS).

Vivo e TIM se movimentam neste sentido. A Vivo anunciou parceria com AWS para levar o núcleo central de sua rede (core) para a nuvem e acordo com Microsoft para uso de serviço de inteligência artificial (IA) em nuvem (Azure OpenIA), como parte de colaboração para o desenvolvimento de iniciativas conjuntas em inovação e transformação digital em áreas como jogos, conectividade, comunicação e IA.

A operadora projeta redução de investimentos neste ano, com gastos abaixo de R$ 9 bilhões e Capex voltado para transformação de sistemas, expansão de domicílios conectados com fibra ótica, ampliação da cobertura 5G e reforço da qualidade da rede móvel.

Já a TIM espera ter 100% de suas aplicações em cloud até o meio do ano em parceria com Microsoft, Oracle e Google. Parte delas já estavam digitalizadas, mas sistemas como CRM e inteligência artificial foram substituídos por outros já escritos para a nuvem. A operadora comemora presença em 100% dos municípios do país e vai se apoiar na eficiência para antecipar meta de expansão de Capex limitada a 20% da receita líquida já para este ano.

Em 2022, o índice ficou em 22% com R$ 4,73 bilhões investidos, 8% mais que em 2021. Para o triênio 2023 a 2025, os aportes devem somar R$ 13,5 bilhões em capacidade, principalmente para 5G, e cobertura, neste caso com apoio de 4G para cobrir regiões desassistidas, como as do interior e ao longo de estradas, explica Leonardo Capdeville, vice-presidente de tecnologia da informação da TIM.

A Algar Telecom também mira a transformação digital. Neste caso, com prioridade de projetos para automação de processos operacionais, visando melhoria da experiência do cliente e eficiência operacional com uso de IA e robotização de processos (RPA). A ampliação e modernização do núcleo (core) de rede vai embasar a implantação do 5G S.A., programa de 5G para empresas.

Especialista em banda larga suportada por fibra e agora responsável pelo 5G no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a Unifique traçou estratégia apoiada em crescimento orgânico e aquisições de provedoras de banda larga. De dezembro a abril, absorveu quatro empresas sob o grupo Alfa, com valor em torno de R$ 20 milhões; ViawebRS, avaliada em R$ 76,9 milhões; e Brick, R$ 9,9 milhões.

Em apresentação de resultados no início do ano, a operadora divulgou investimento de US$ 5 milhões em 5G, mas aguarda decisão da Anatel sobre o acordo fechado entre Winity e Vivo, que priorizou a última no uso da faixa de 700 MHz arrebanhada pela primeira. “A faixa é necessária para sustentabilidade do 5G. Uma torre 5G não permite tráfego de 4G”, explica o diretor de mercado da Unifique, Jair Francisco.

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