Engajamento de CFO acelera processos

Apenas 23% das empresas têm indicadores e metas claramente definidas em relação à Agenda 2030

Por Roseli Loturco — Para o Valor, de São Paulo


Debate reuniu (da esquerda para direita) Maria Eugenia Buosi, da KPMG; Bianca Nasser, da Votorantim; Silvia Vilas Boas, da Natura, e Carlos Moura, da Raízen — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Modificado em 13/3 às 14h para corrigir informação referente à Natura: "A cada R$ 1 de receita gerada, geramos também R$ 1,5 de impacto positivo”

O envolvimento direto dos executivos de finanças na pauta socioambiental das empresas é considerado fundamental para que essa agenda avance. A percepção é de que temas urgentes como o combate à fome e às mudanças climáticas têm feito com que os chief financial officers (CFOs) de grandes companhias coloquem nessa rubrica o mesmo peso dado a lucro versus rentabilidade. Mas esse não é o reflexo do mercado como um todo.

Enquanto grupos como Natura, Raízen e Braskem têm adotado práticas consideradas relevantes, outras companhias ainda caminham em velocidade menor do que a Agenda 2030, do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), estabelece. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças de São Paulo (Ibef-SP) em parceria com a PwC Brasil, com 80 profissionais da área, mostra que, apesar de 64% participarem de programas de ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) nas organizações, apenas 23% delas têm processos maduros, com indicadores e metas claramente definidas, sendo que 41% têm indicadores e metas em desenvolvimento e 36% não têm nada.

“Incorporar o ESG na estratégia e no dia a dia das empresas é um caminho sem volta. E quem está na cadeira de CFO está cada vez mais engajado nessa frente, assumindo um papel de protagonista. Mas ainda há muito o que fazer”, afirma a Magali Leite, presidente do Ibef-SP.

Quando a força tarefa de CFOs foi lançada em 2019, havia três objetivos principais que eram engajar CFOs do mundo, integrar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) às estratégias de negócio e às finanças e criar um amplo e confiável mercado para finanças sustentáveis.

“A realidade é que nós nunca conseguiremos atingir os ODS sem a mobilização do setor privado e do mercado financeiro. E isso nunca foi tão verdade como hoje, pois o mundo está enfrentando desafios sem precedentes”, diz Rodrigo Favetta, CFO do Pacto Global da ONU no Brasil. Para ele, conflitos militares, falta de comida, choques entre oferta e demanda de energia, inflação e desastres climáticos, tanto em países ricos e pobres, estão erodindo as conquistas de sustentabilidade de duas décadas. “Com mais de US$ 17 trilhões em orçamento global para investimentos em Capex, pesquisa e desenvolvimento, talentos e marketing, empresas e CFOs são os principais players da transição sustentável da economia global.”

A Natura, que está entre as empresas modelo que integram ações sustentáveis à estratégia de negócios, salienta que a agenda de sustentabilidade precisa de mobilização dos CFOs, independentemente do grau de maturidade da empresa. A gestão de performance e a discussão de alocação de recursos têm que caminhar lado a lado com os projetos ESG. “Finanças têm papel fundamental para que esta agenda se mova com a velocidade necessária”, observa Silvia Vilas Boas, CFO da Natura &Co América Latina.

A empresa lançou seu primeiro refil há 40 anos e é carbono neutro desde 2007. “Queremos emissões zero até 2030 e temos feito muito. Desenvolvemos metodologia própria de mensuração de impacto integrado e publicamos desde 2022. A cada R$ 1 de receita gerada, geramos também R$ 1,5 de impacto positivo”, conta. A Natura desenvolveu 50 tipos de indicadores de impactos e externalidades que compartilha com públicos especializados para encurtar a jornada de outras empresas.

Já a Braskem foi uma das 12 empresas fundadoras da coalizão de CFOs em 2019. Hoje são 70 membros no Brasil. Desde então, os princípios de engajamento sustentável para os profissionais da área têm sido cada vez mais relevantes. O que torna real a conexão das teses de impacto socioambiental das empresas a suas estratégias de negócios. E alerta que para que isso funcione é preciso ter financiamento para os projetos sustentáveis definido em orçamento anual. “E ter uma comunicação com transparência ao mercado, aos stakeholders. Temos programa avançado na Braskem. Estamos na segunda análise de materialidade de sete objetivos, sendo que quatro já estão no nosso DNA”, conta Pedro Freitas, CFO da empresa.

Os indicadores da Braskem abrangem desde segurança de pessoas e processos a combate às mudanças climáticas, com meta de redução de 15% de sua pegada de carbono até 2030 e neutralidade até 2050.

Com 40% do total de sua produção em etanol especial, com selo de baixo impacto, a Raízen acredita que os executivos de finanças têm que aprender uns com os outros e serem exigentes com as instituições financeiras que não tenham este compromisso. “Segundo, ter previsibilidade interna e isso passa pela sustentabilidade, com métrica para redução de gases de efeito-estufa”, afirma Carlos Moura, vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Raízen. Ele conta que a produção de etanol de segunda geração da empresa gera um volume 50% maior do produto sem competir com comida (açúcar) e ajuda os parceiros na redução de suas metas.

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